Eleições 2022

Veja o perfil dos quatro primeiros colocados na corrida pela presidência

No pleito mais polarizado desde a redemocratização, Lula e Bolsonaro lideraram as pesquisas de intenção de voto desde o início. Veja o perfil dos quatro primeiros colocados nos levantamentos

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)


Presidente por dois mandatos, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, aos 76 anos, diz disputar a recondução ao Planalto pela última vez. Nascido em Garanhuns (PE), iniciou a vida como muitos nordestinos que migraram para São Paulo em busca de trabalho. Com curso de torneiro mecânico, trabalhou como metalúrgico no ABC Paulista, onde perdeu o dedo mindinho em um acidente, aos 17 anos.

Nas fábricas, Lula também iniciou a carreira política, assumindo cargos na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, que presidiu antes dos 30. Em 1980, fundou o Partido dos Trabalhadores, ligado ao movimento sindical. Seis anos depois, foi eleito deputado federal constituinte, para atuar na construção da Constituição de 1988. Nas candidaturas à Presidência, sofreu derrotas em série — 1989, 1994 e 1998 —, até vencer em 2002.

Os mandatos foram marcados por crescimento econômico, baixa inflação e implantação de programas sociais. Porém, acabaram impactados, também, pelo escândalo do mensalão, envolvendo a compra de apoio no Congresso.

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Outro grande escândalo de corrupção o acertou após a saída do governo: o petrolão, investigado pela Operação Lava-Jato, envolvendo desvio de dinheiro da Petrobras. Em 2018, Lula foi condenado e preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que o impediu de concorrer às eleições daquele ano, nas quais aparecia como líder das pesquisas de intenção de voto. O substituto do ex-presidente no pleito foi Fernando Haddad, que acabou derrotado em segundo turno por Jair Bolsonaro.

Depois de 580 dias na cadeia, Lula ganhou a liberdade em 8 de novembro de 2019. Foi beneficiado com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou prisão após condenação em segunda instância. Em junho do ano passado, o plenário da Corte reconheceu a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro na condenação do petista. Ao todo, foram derrubados 26 processos contra o ex-presidente, originários da Lava-Jato, o que o tornou apto a disputar as eleições de hoje.

Com a ideia fixa de uma frente ampla, desde que decidiu concorrer novamente, a principal aliança firmada por Lula nesta campanha foi com o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na sua chapa. A coligação reuniu 10 partidos: PT, PSB, PCdoB, PV, PSol, Rede, Solidariedade, Agir, Pros e Avante. A dobradinha improvável, entre dois adversários históricos, começou a ser desenhada ainda no ano passado e foi tornada pública após um jantar entre os dois, em São Paulo, organizado pelo Grupo Prerrogativas — formado por advogados que também atuam no diálogo de Lula com setores mais à direita.

Ao ser anunciada, a chapa sofreu forte resistência dentro do PT. Nos bastidores, líderes do partido dizem que o benefício de se aliar ao antigo rival é maior do que a rixa. Em público, a presença do ex-governador na chapa atrai eleitores resistentes a Lula, especialmente em São Paulo. Com atuação discreta, Alckmin articula com empresários, agronegócio e outros setores estratégicos.

Nesta reta final, Lula focou em atrair aliados improváveis. Aderiram à campanha petista cinco ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal, incluindo Joaquim Barbosa, relator do mensalão; cinco ministros do governo Fernando Henrique Cardoso; o jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff; e a ex-ministra Marina Silva.

Ontem, no último ato antes do primeiro turno, Lula e Alckmin fizeram uma caminhada com apoiadores em São Paulo.


Jair Bolsonaro (PL) 


Alavancado pela onda antipetista, Jair Bolsonaro (PL), à época no PSL, foi eleito presidente em 2018 com 57,7 milhões de votos (55,13% do eleitorado), batendo Fernando Haddad (PT), que teve 47 milhões de votos (44,87%). O mote principal foi a promessa de combate à corrupção, alimentada pela Operação Lava-Jato.

Com pouco tempo de propaganda de rádio e TV e sem recursos, Bolsonaro fez das redes sociais sua principal plataforma e, por meio delas, propagandeou seus ideais conservadores — defendidos até hoje — como a pauta antiaborto, contra a legalização da maconha, de combate ao que chama de “ideologia de gênero” e a favor do armamento da população civil.

Em Juiz de Fora (MG), a pouco menos de um mês das eleições, o então candidato foi vítima de um atentado à faca, que deu novo rumo à candidatura e fez com que Bolsonaro escalasse as pesquisas até a vitória em segundo turno.

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Capitão reformado do Exército, Bolsonaro foi vereador no Rio de Janeiro e deputado federal ao longo de 27 anos, em mandatos sucessivos, em que priorizou a defesa de interesses corporativos de militares, a redução da maioridade penal, o direito à legítima defesa e o excludente de ilicitude a policiais. Também encampou a defesa do voto impresso no Brasil, levantando suspeitas — nunca comprovadas — sobre a inviolabilidade dos votos na urna eletrônica.

Nascido em Glicério, no interior de São Paulo, em 21 de março de 1955, Jair Messias Bolsonaro foi registrado em Campinas. Ele é descendente de imigrantes italianos, que chegaram ao Brasil depois da II Guerra Mundial. Filho de Percy Geraldo Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro, o presidente é casado com Michelle Bolsonaro, com quem teve sua quinta filha, Laura.

Aos 64 anos, Bolsonaro também é pai do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de Jair Renan, a quem costuma se referir como 01, 02, 03 e 04, respectivamente.

Bolsonaro coleciona um extenso histórico de declarações polêmicas relacionadas ao machismo, à homofobia e ao racismo. Em 2014, atacou a parlamentar Maria do Rosário (PT-RS) ao dizer que ela “não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque é muito feia” e que “jamais a estupraria”. Durante o pico da pandemia de covid-19, que já vitimou mais de 686 mil brasileiros, pregou contra a vacinação, disse que a doença era uma “gripezinha”, negou “ser coveiro”, defendeu medicamentos sem eficácia comprovada e postergou a compra de vacinas.



Para atrair o eleitor mais pobre, Bolsonaro aumentou nos últimos meses o valor do Auxílio Brasil, do vale-gás e criou subsídios para caminhoneiros e taxistas. Também baixou artificialmente os impostos sobre combustíveis para domar a inflação, mas não conseguiu reduzir a rejeição ao seu nome, acima de 50% do eleitorado.

No 7 de Setembro de 2021, fez pesadas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, ameaçando não cumprir mais decisões da Suprema Corte. Dois dias depois, precisou baixar a temperatura política e divulgou uma carta de recuo, escrita com ajuda do ex-presidente Michel Temer.

Segundo a Secretaria Especial de Comunicação, hoje, Bolsonaro votará na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e retornará a Brasília para acompanhar, do Palácio da Alvorada, a apuração dos votos ao lado de parentes e aliados. Ontem, o candidato encerrou a campanha participando de duas “motociatas”: em São Paulo, pela manhã, e em Joinville (SC), à tarde.

Ciro Gomes (PDT)


Com 40 anos de vida pública, Ciro Gomes (PDT) tenta chegar à Presidência pela quarta vez. Mas a campanha dele já começou com problemas. Não conseguiu consenso dentro do próprio partido, foi malsucedido na busca por alianças e acabou impactado, também, pela polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Nascido em Pindamonhangaba (SP), o candidato, de 64 anos, centrou fogo, na campanha, no ex-companheiro Lula, a quem igualou a Bolsonaro. Nesta reta final, se ressentiu ainda mais com o petista pela campanha do voto útil, que fez o ex-presidente atrair parte de seus apoiadores — caso do cantor Caetano Veloso. Também nessa linha, foi alvo de uma carta de intelectuais e políticos da América Latina, que pediram sua desistência da corrida eleitoral em prol de Lula.

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Ontem, Ciro causou controvérsia nas redes sociais ao postar uma foto ao lado de Bolsonaro. Na imagem, feita no debate na TV Globo, ele faz o 12 com as mãos, enquanto o presidente aparece à direita, lendo papéis.

“Amanhã é dia de apertar o 12 e se livrar dessa polarização cheia de ódio, incompetência e ladroeira que tá afundando nosso país”, escreveu ele, que, na rivalidade com o PT, rompeu até com a família no Ceará. (Henrique Lessa)

Simone Tebet (MDB)


O caminho que levou a candidata Simone Tebet (MDB), 52 anos, à disputa pela Presidência começou a ser aberto com sua performance na CPI da Covid. Aos poucos, a senadora conquistou o espaço que a ajudou a definir sua vaga no jogo eleitoral.

Nascida em Três Lagoas (MS), filha do ex-senador Ramez Tebet, a presidenciável apareceu como opção da terceira via. Mesmo assim, não conseguiu unir o próprio partido em torno do seu nome. Uma ala da legenda defendeu o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno e chegou a recorrer à Justiça contra a candidatura dela.

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Na campanha, a senadora destacou o fato de ser mulher, mãe e parlamentar experiente, além de baixa rejeição entre o eleitorado. Focou em propostas para a educação e bateu na tecla do combate à miséria — enfatizou que, se eleita, “nenhuma criança vai mais dormir com fome”. Mesmo assim, não deslanchou nas pesquisas de intenção de voto.

A presidenciável encerrou campanha, ontem, com ato na quadra da escola de samba Caprichosos do Piqueri, na capital paulista. Ela esteve ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). À tarde, a senadora viajou a Campo Grande, onde votará hoje.

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