Na agenda de conversas que ocorrerão tão logo a equipe de transição esteja estabelecida, e funcionando, em Brasília, o vice-presidente da República e coordenador do grupo Geraldo Alckmin (PSB) começa a trabalhar na tarefa de quebrar as resistências de setores do agronegócio — que apoiou em peso a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) —, a fim de trazê-los para perto do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele já tem encontros marcados com o deputado Neri Geller (PP-MT), um dos interlocutores da bancada ruralista no Centrão, e com o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) — nomes, aliás, que constam na bolsa de apostas para futuramente ocupar o Ministério da Agricultura.
Mas essa tarefa tem tudo para ser mais árdua do que calculam os integrantes da equipe de transição, pois são visíveis os sinais de que Lula enfrentará a resistência de ruralistas abrigados em partidos que devem compor o novo governo, como o MDB. Embora a equipe do PT avalie que o pragmatismo pautará esse relacionamento, o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Sérgio Souza (MDB-PR), disse não acreditar na disposição de Lula de atender às demandas do setor.
"Ele vai ter de demonstrar que é verdade o que falou na campanha, que vai cuidar do agro. Não acreditamos. Temos um Parlamento muito focado. Vai ter de sentar com a bancada para ajustar. Não vamos permitir abusos por parte de nenhum governo", disse Souza.
O deputado não é uma voz isolada. As bancadas do MDB no Rio Grande do Sul, no Paraná e no Centro-Oeste podem ser as mais refratárias ao diálogo com Lula num primeiro momento — os ruralistas ainda lambem as feridas da derrota de Bolsonaro. Observam, porém, que as urnas consolidaram um "bolsão eleitoral" conservador, justamente numa ampla faixa da economia dos grãos e da pecuária, que chega ao interior de São Paulo e Minas Gerais.
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Reeleição
O setor conseguiu reeleger 66,3% dos 241 deputados que compõem a atual bancada do agronegócio na Câmara, índice superior ao total geral de renovação dos mandatos, que ficou em 44,2%. Nas estimativas da FPA, os representantes do agronegócio não terão menos do que 158 deputados na próxima legislatura. Aliados de Lula na área consideram que os primeiros passos em direção à reconciliação foram dados pelo então candidato do PT ainda na reta final da campanha. Às vésperas do segundo turno, o petista dedicou um capítulo ao agronegócio na "Carta para o Brasil do Amanhã". Prometeu forte investimento na Embrapa, financiamento e juro baixo a pequenos e médios produtores.
Mas a equipe de Lula causou mal-estar entre ruralistas ao prever uma "regulação" da produção agrícola no texto das diretrizes de governo. Ainda antes do primeiro turno, uma nova versão do documento foi apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sem o termo. Para conseguir retomar pontes, Lula foi aconselhado a reduzir acenos ao Movimento dos Sem Terra (MST), a promover a segurança no campo e a pacificar a interlocução com a China e a União Europeia, grandes mercados de grãos e carne.(Colaboraram TM e RF)
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