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Lula promete lutar contra desmatamento, mas cobra apoio de países ricos

Sob aplausos na COP27, presidente eleito se compromete a lutar contra o desmatamento, mas reivindica o financiamento das nações mais abastadas. Ele diz que agronegócio será "aliado estratégico" e propõe que a conferência de 2025 seja na Amazônia brasileira

Francisco Artur
postado em 17/11/2022 03:55
 (crédito: Ahmad Gharabli/AFP   )
(crédito: Ahmad Gharabli/AFP )

No centro das atenções de uma plateia formada por líderes da sociedade civil, cientistas, diplomatas e jornalistas, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou, ontem, na Conferência Internacional do Clima (COP27), em Sharm el Sheikh, no Egito. O futuro chefe do Executivo prometeu zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.

“O combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo”, enfatizou Lula. Para cumprir essa meta, segundo ele, serão necessárias ações para reativar os trabalhos da equipe de fiscalização e proteção ao meio ambiente. “Nos três primeiros anos deste governo que está acabando (Jair Bolsonaro), o desmatamento na Amazônia aumentou 73% e houve um desmonte na fiscalização. Isso vai acabar e ficará no passado”, destacou, sob aplausos.

Ao comentar os desafios para conciliar desenvolvimento econômico e proteção ao meio ambiente, Lula disse que o agronegócio será “um aliado estratégico” nos próximos anos. Segundo ele, o agro será otimizado, de forma que não haverá necessidade de derrubar a floresta.

“No nosso governo, buscaremos um agro regenerativo e sustentável, com investimento em ciência, tecnologia, e com educação no campo”, frisou. “Com os 30 milhões de hectares de terra degradada que temos, vamos torná-las agricultáveis, sem precisar desmatar um metro de terra, para continuarmos a ser um dos maiores produtores de alimentos no mundo.”

O presidente eleito afirmou que sua gestão vai provar ser “possível promover crescimento econômico e inclusão social tendo a natureza como aliada estratégica e não mais como inimiga a ser abatida a golpes de tratores ou motosserras”.

Lula lembrou, porém, que o combate às mudanças climáticas é uma ação coletiva e dependerá dos esforços de todos os países. O trabalho, conforme ressaltou, terá de contar com o apoio financeiro das nações ricas para as mais pobres.

“Não haverá futuro enquanto estivermos cavando um poço sem fundo entre ricos e pobres”, argumentou. Nesse momento, o presidente eleito mencionou o acordo firmado em 2009 pelos países ricos de oferecer, a partir de 2020, US$ 100 bilhões anuais para que as nações mais pobres enfrentassem os efeitos da crise climática. “Esse compromisso nem foi nem está sendo cumprido”, criticou.

Com a vitória de Lula nas eleições, a Noruega anunciou a retomada do financiamento do Fundo Amazônia. O país, que até 2019 concedia R$ 3,5 bilhões (93,8%) para que o Brasil combatesse o desmatamento no bioma, declarou ter interesse em manter os repasses. A Noruega tinha congelado o financiamento por discordar da política ambiental do governo Bolsonaro.

A Alemanha, por sua vez, manifestou interesse no retorno ao Fundo Amazônia. Após as eleições brasileiras, o secretário do Ministério para Cooperação e Desenvolvimento da Alemanha, Jochen Flasbarth, disse no Twitter que o governo alemão tem interesse em fazer contato com o Brasil. “Há uma forte vontade dentro do governo alemão de chegar ao Brasil rapidamente agora”, escreveu.

COP no Brasil

No Egito, Lula anunciou interesse em que a próxima edição da conferência do clima seja realizada na Amazônia brasileira. O evento é promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). “Vamos falar com o secretário-geral da ONU para que a COP de 2025 aconteça no Brasil, na Amazônia: ou no estado do Pará ou no Amazonas. Os dois estão aptos a sediar”, afirmou no discurso.

A razão para que o próximo evento do clima ocorra na Amazônia brasileira, segundo o futuro chefe do Executivo, é fomentar que líderes mundiais conheçam a região presencialmente.

“Será muito importante que a próxima COP aconteça na Amazônia, porque será a única forma de as pessoas conhecerem de perto a realidade concreta da região, não apenas a partir de leituras”, justificou.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), que está em Sharm El-Sheikh, disse ao Correio que o discurso do presidente eleito representa a mudança da posição do Brasil no cenário internacional. “Lula repõe a dignidade do Brasil em âmbito internacional, sepultando o isolamento da vergonhosa diplomacia de seu antecessor”, afirmou. “Sustentabilidade e combate à fome, mais que rótulos internacionais poderosos, serão legados efetivos do novo governo.”

Deu no...

The New York Times

O diário dos Estados Unidos frisou que as expectativas se tornaram altas com o discurso “exuberante” de Lula na cúpula do clima. “Na primeira viagem após vencer as eleições no mês passado, Luiz Inácio Lula da Silva prometeu proteger a Amazônia e disse que o Brasil está saindo do casulo.”

The Guardian

O jornal do Reino Unido destacou a promessa de Lula de reverter degradação e parar o desmatamento. “Presidente eleito diz que trabalhará para salvar a Amazônia e ecossistemas, em discurso empolgante na COP27”, enfatizou.

Le Monde

O jornal francês registrou, no título da reportagem, que Lula “pede criação urgente do fundo para cobrir danos climáticos”. A publicação também destacou a intenção do presidente eleito de levar para uma cidade amazônica a COP30. “Antes de seu tão aguardado discurso, o futuro presidente brasileiro também se propôs a organizar a Conferência Mundial do Clima de 2025 na Amazônia”, frisou.

Clarín

O diário argentino destacou o compromisso assumido por Lula na COP27 de “frear o desmatamento na Amazônia”. O jornal considerou o discurso do presidente eleito como “um dos mais contagiantes (em tradução livre)” da conferência, assistido “por centenas de pessoas, “muitas das quais o aplaudiram e entoaram palavras de ordem em português”

(Colaborou Henrique Lessa)

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