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"Qualquer nomeação terá crivo", diz Randolfe Rodrigues sobre novo governo

Senador garante que instituições de controle e fiscalização voltarão a funcionar e não sofrerão interferência do Palácio do Planalto. Serão elas que assegurarão a ocupação criteriosa de postos nos escalões do governo e o combate à corrupção

Isabel Dourado*
postado em 31/12/2022 03:55
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Futuro líder do governo Lula no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) assegurou, ontem, em entrevista ao CB.Poder — uma realização do Correio Braziliense e da TV Brasília — que as nomeações a serem realizadas para os escalões administrativos do Poder Executivo passarão por severo escrutínio. Isso porque, conforme garantiu, as instituições de fiscalização e controle voltarão a funcionar com independência, sem interferência do Palácio do Planalto. Serão essas mesmas instituições, conforme salientou Randolfe, que darão combate sem trégua à corrupção, uma vez que ainda paira sobre o PT os fantasmas do Mensalão e do Petrolão. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Houve um pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro no qual fala da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva como algo que está "previsto". Ele não diz que "vai" ocorrer.

A posse vai ocorrer, vai ser um momento de alívio para os brasileiros. Vai ser um momento que sinalizará a reconstituição nacional, uma festa tranquila. O ministro da Justiça que, na prática, está governando, Flávio Dino, está coordenando todas as medidas de segurança necessárias para os eventos. Está fazendo isso em coordenação com o governo do Distrito Federal, junto com as forças de segurança do DF, federais e as Forças Armadas para dar àquele que quiser vir a Brasília a segurança necessária.

Depois da festa é hora de agarrar no serviço — e serviço não vai faltar. Foram nove partidos contemplados na configuração da Esplanada, mas eles ainda não representam um número de votos suficientes para aprovação de emendas constitucionais. Como isso será construído?

A composição do governo não está concluída. É importante lembrar que o presidente Lula liderou a maior frente ampla da história política do país, pelo menos de toda experiência da história republicana. Fomos 10 partidos no primeiro turno, mais dois que se somaram no segundo turno, e outros dois que se juntaram neste período de transição para ajudar a governar. Estou consciente de que teremos uma margem não somente necessária, mas uma margem tranquila para as matérias que o governo necessitará aprovar no Congresso. Primeiro teste, inclusive, será no Senado, Casa em que estou, será a eleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Posso antecipar que nós temos de 55 a 60 votos para reconduzi-lo à Presidência do Senado. Da mesma forma, acredito que na Câmara dos Deputados conseguimos construir um mínimo de, pelo menos, 320 votos, um mínimo necessário para aprovar matérias que são necessárias para o país. Vai ter muita coisa que precisaremos aprovar, como a nova organização administrativa do Poder Executivo da Esplanada.

Cargos podem ajudar a ter votos, mas representam um risco à administração pública, pois, às vezes, o indicado pode não ter qualificação. Como isso será trabalhado?

Qualquer nomeação terá o crivo necessário. O tempo que não tinha — e que se nomeava fascista para a secretaria da cultura, racista para a Fundação Palmares, machistas para conduzir pastas das mulheres — acabou. As nomeações cumprirão critérios políticos porque um governo de reconciliação e de união nacional obviamente tem que contemplar a diversidade partidária que existe no Congresso. Mas, ao mesmo tempo que será um governo assim, cada um dos quadros nomeados passará pelo crivo e passará pela análise de perfil para que tenha identidade e integridade necessária para os cargos. Estou muito tranquilo em relação a isso. As instituições de controle que nesse período do último estavam em exílio no nosso país, voltarão a funcionar. Voltaremos a ter uma Controladoria Geral da União (CGU) atuante contra qualquer desatino e qualquer deslize da administração federal. Teremos uma Polícia Federal (PF) que cumprirá com seu papel e não terá redesignação de delgado e interferência por parte do chefe do Executivo.

O que fazer com o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). A gente já ouviu que deve voltar para o Ministério da Fazenda. É possível tirar uma instituição independente para devolvê-la à estrutura de governo?

Acho mais importante manter a independência do COAF, que cumpre uma dupla função. É uma instituição de controle sobre movimentações financeiras atípicas é, também, uma instituição que tem relação direta com a pasta da Fazenda. A preferência apontada pelo futuro governo e também pelos ministros da área econômica é que mantenha a independência necessária para continuar atuando, e sem interferência.

Na live, Bolsonaro lembrou do Mensalão e do Petrolão. Há algum risco disso? Como os casos de corrupção serão tratados, uma vez que há uma desconfiança por causa dos erros do passado?

A cara dele nem treme quando fala de corrupção. Não tem ninguém que tenha tido um corolário de tantos crimes cometidos, inclusive de corrupção, quanto Bolsonaro. O que vai acontecer, a partir de agora, é que os mecanismos de controle funcionarão. Quanto mais as instituições de combate a corrupção funcionam, mais impedem que o ato de corrupção se concretize. Se ocorrer, tem que ser assegurado o direito à ampla defesa. O germe da corrupção será combatido.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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