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Com discurso dúbio, Bolsonaro dá a entender que FAs devem 'lealdade ao povo'

Bolsonaro se dirigiu aos apoiadores horas depois que o petista anunciou cinco ministros do futuro governo

Depois de um hiato de quase 40 dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se dirigiu, ontem, aos apoiadores no Palácio da Alvorada. Num discurso ambíguo, em boa parte do tempo deu a entender que as Forças Armadas estariam apenas à espera de alguma ordem e que os militares devem "lealdade ao nosso povo" — numa insinuação de que compactuariam com as ideias antidemocráticas dos grupos que, desde o resultado da eleição presidencial, vêm pedindo a ruptura da ordem constitucional por não concordarem com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas.

Bolsonaro se dirigiu aos apoiadores horas depois que o petista anunciou cinco ministros do futuro governo, que começa em 1º de janeiro de 2023. O presidente estava acompanhado do vice na chapa que concorreu à reeleição, Walter Braga Netto; do ex-ministro do Turismo Gilson Machado; e do blogueiro Oswaldo Eustáquio, além de seguranças.

O presidente destacou que ainda é o "chefe supremo" das Forças Armadas e que os militares são o "último obstáculo para o socialismo". "As Forças Armadas, tenho certeza, estão unidas. As Forças Armadas devem, assim como eu, lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição e são uns dos grandes responsáveis pela nossa liberdade", afirmou.

Ele salientou que "se algo der errado, é porque perdi minha liderança e me responsabilizo pelos meus erros. Mas peço a vocês: não critiquem sem ter certeza absoluta do que está acontecendo". A plateia devolveu com palavras de ordem como "Eu autorizo".

Enigmático, disse ainda que "nada está perdido". "Nunca saí de dentro das quatro linhas da Constituição e acredito que a vitória será também dessa maneira", garantiu.

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Indireta

Em crítica velada a Lula, Bolsonaro afirmou que "não se faz um bolo diferente com o mesmo ingrediente". E emendou que é a população que decidirá seu futuro e o das Forças Armadas. "Quem decide o meu futuro, para onde vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês. Quem decide para onde vai a Câmara, o Senado, são vocês também", exortou.

Mas, ao responder sobre pedidos para que os militares impeçam a posse de Lula, Bolsonaro foi no sentido contrário daquilo que vinha falando: "Não é 'Eu autorizo', não. É o que eu posso fazer pela minha pátria. Não é jogar a responsabilidade para uma pessoa", saiu-se.

O presidente comentou o longo silêncio. "Estou há praticamente 40 dias calado. Dói na alma. Sempre fui uma pessoa feliz no meio de vocês", observou.

Destacou acreditar em seus apoiadores e afirmou: "Vocês se manifestam de acordo com as nossas leis, vocês são cidadãos de verdade. Acredito em vocês. Vamos acreditar no nosso país", pediu.

Desde 31 de outubro, Bolsonaro só se manifestou publicamente em dois momentos: em 1º de novembro, falou brevemente sobre o resultado das eleições, dizendo que continuaria cumprindo a Constituição; e no dia seguinte, quando pediu, em vídeo, o desbloqueio de rodovias aos seus apoiadores.

"Todos sabemos o que aconteceu ao longo desses quatro anos, ao longo do período eleitoral, e o que foi anunciado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nós estamos lutando pela liberdade", acrescentou.