Entrevista | Renato Casagrande

Governador do Espírito Santo sobre postura contra golpistas: "Orai e vigiai"

Apoiador de Lula no Sudeste, líder capixaba Renato Casagrande diz que a defesa da democracia exige vigilância constante, mas vê extrema-direita enfraquecida após atos de domingo

Vinicius Doria
postado em 15/01/2023 03:30
 (crédito: Tati Beling/ Ales )
(crédito: Tati Beling/ Ales )

Único chefe de Executivo estadual aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região Sudeste, o capixaba Renato Casagrande (PSB) — que assumiu em janeiro, pela segunda vez consecutiva, o comando do Espírito Santo — adotou uma passagem bíblica do Livro de Mateus, em que Jesus aconselha aos apóstolos “orai e vigiai”, como conselho a si e aos colegas governadores. A frase é um alerta de que a ameaça golpista não acabou com a repressão aos atos terroristas de 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes.

Casagrande participou, na segunda-feira passada, da reunião no Palácio do Planalto em que o presidente Lula recebeu ministros do Supremo Tribunal Federal, incluindo a presidente da Corte, Rosa Weber; os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL); e representantes dos governos de todas as 27 unidades da Federação, em uma demonstração de união da República contra os ataques extremistas.

Em entrevista ao Correio, o governador capixaba disse que “os golpistas ficaram isolados” e que os atentados tiveram como consequência a “unificação de forças antagônicas em torno do valor da democracia brasileira”.

Ele ficou perplexo com o nível de destruição dos palácios da Praça dos Três Poderes e declarou que é preciso estar vigilante para que movimentos como o que se viu em Brasília não voltem a acontecer. A presença de governadores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro — em especial o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura — sinalizam que a democracia “une as pessoas”.
Filiado ao PSB e reeleito em segundo turno para comandar um estado que deu quase 60% dos votos ao então candidato Jair Bolsonaro, Renato Casagrande prega união das forças políticas locais em torno da retomada do desenvolvimento econômico.

Qual o balanço que o senhor faz da reunião dos governadores com o presidente Lula e os ministros do STF?

Foi uma reunião com muitos símbolos, forte, com todos os Poderes, com todos os estados presentes, todas as instituições, foi uma reação necessária aos atos violentos que essas instituições sofreram no domingo. Era preciso uma reunião forte, que pudesse demonstrar à população brasileira a unidade das instituições e o trabalho que nós temos que fazer juntos, independentemente das nossas posições políticas, para defender as instituições brasileiras. Isso ficou claro. Lideranças de diversos partidos, juntas, com o mesmo objetivo de condenar os atos terroristas que destruíram fisicamente sedes de Poderes, mas que, na verdade, foi um ataque forte à democracia brasileira. Os golpistas ficaram isolados por terem ultrapassado a faixa da razoabilidade, e ficaram enfraquecidos, enquanto as instituições se fortaleceram com esse movimento e com essa resposta que foi dada de domingo para segunda-feira.

Diante da violência dos ataques na Praça dos Três Poderes, a resposta foi adequada?

Sem dúvida. Apesar da violência dos atos e da agressividade das pessoas, o que resultou desse processo violento foi a unificação de forças políticas antagônicas em torno do valor da democracia brasileira. É hora de estarmos juntos defendendo as instituições.

Como o senhor viu a presença de governadores, como o senhor mesmo disse, antagônicos, em especial, o de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um dos principais ministros do governo Bolsonaro, mas que fez um discurso pregando pacificação e diálogo?

Avalio como um passo a mais, um amadurecimento da consolidação da nossa democracia. No golpe (militar) de 1964, nossa democracia não sustentou a pressão sobre as instituições. Neste ano, as instituições envergaram, mas não quebraram. Conseguiram resistir aos ataques que estão sofrendo há algum tempo e conseguiram passar por este momento mais duro, que foram os atos de domingo passado. Agora, reunir diferentes pensamentos políticos, de diferentes práticas políticas, lideranças que apoiaram o ex-presidente Bolsonaro, que apoiaram o presidente Lula, que deram apoio a outros candidatos, todos no mesmo ambiente para lutar por uma bandeira única é uma demonstração clara de que a democracia une as pessoas, e é isso que precisa nortear nosso trabalho.

O que o senhor sentiu ao entrar no Palácio do Planalto e, depois, na sede do Supremo Tribunal Federal, o mais depredado na noite de domingo?

Especialmente no Supremo, só quem viu para acreditar no poder destruidor das pessoas que lá entraram com esse objetivo e equipados para fazer isso. Não deixaram pedra sobre pedra. Destruíram praticamente tudo, todos os móveis, todas as obras de arte, todo o sistema elétrico e hidráulico, as vidraças, foi impressionante a intensidade da destruição.

Qual a mensagem que o senhor vai levar para o Espírito Santo, estado que deu ampla vitória a Bolsonaro contra Lula — que tinha seu apoio —, em que o senhor se reelegeu depois de uma disputa difícil no segundo turno contra o candidato apoiado pelo então presidente?

Orai e vigiai (passagem bíblica do Livro de Mateus 26:41)! Vamos orar para que tudo possa correr bem, mas vamos vigiar, porque a democracia exige vigilância permanente. Nós não podemos achar que está tudo resolvido. Temos que ficar com nosso nível de inteligência monitorando qualquer manifestação que tenha a prática da violência, a intenção de não aceitar resultado eleitoral, que tenha espírito golpista. Temos que ficar vigilante e acionar sempre que necessário a Justiça, e controlar para que nenhum espírito autoritário possa se sobrepor à nossa força democrática.

A classe política capixaba entende esse recado?

A maioria, sim. Tem uns que não querem entender, mas a maioria das lideranças entende a necessidade de a gente continuar fortalecendo nossas instituições.

O senhor retornará a Brasília no dia 27, para uma nova reunião dos governadores com o presidente Lula?

Pode ser até que a gente venha antes, porque, neste início de ano, são muitos ministros para a gente conversar para tratar da pauta do Espírito Santo e da pauta nacional. Eu estive (na terça-feira) com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), e dos Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB-SP), para tratar dos temas de interesse do estado. São investimentos em infraestrutura necessários para que o estado possa aumentar a sua competitividade, principalmente nessas áreas portuária, aeroportuária e de transporte rodoviário.

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