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Volta de Bolsonaro ao Brasil é marcada por recepção modesta e polêmica das joias

Sem a esperada volta apoteótica ao Brasil, ex-presidente tenta explicar caso das joias que está sob investigação da PF

Luana Patriolino
Raphael Felice
Ândrea Malcher
Mariana Albuquerque*
Kelly Hekally - Especial para o Correio
postado em 31/03/2023 03:55
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

A multidão esperada por aliados não se confirmou, e, segundo estimativas, 500 pessoas aguardaram o ex-presidente Jair Bolsonaro no retorno ao Brasil, após três meses nos Estados Unidos. O ex-chefe do Executivo desembarcou por volta das 6h40 de ontem, no aeroporto de Brasília, procedente de Orlando, e não manteve contato com os simpatizantes. Ele saiu por uma área restrita, medida adotada pela Polícia Federal para evitar tumulto no terminal, e seguiu direto para o escritório do PL.

Na sede da legenda, no Setor Hoteleiro Sul, um pequeno grupo de apoiadores esperava o ex-presidente. No local, ele se encontrou com a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro e aliados.

Bolsonaro retorna em meio às investigações sobre as joias e outros presentes oferecidos por governos estrangeiros, e não declarados à Receita Federal. O ex-presidente foi intimado a prestar esclarecimentos à Polícia Federal na próxima quarta-feira.

O ex-chefe do Executivo procurou minimizar o caso. Em entrevista, ontem, à Jovem Pan, afirmou que o Departamento Histórico da Presidência da República classificou as joias sauditas como bens pessoais do presidente.

Ele sustentou que o conjunto de diamantes, avaliados em R$ 16,5 milhões e retidos pela Receita Federal, teria mudado de valor após seu nome vir a público. "Quando foi apreendida pela Receita, parece que seria um valor alto, US$ 1 milhão. E quando apareceu meu nome, passou para 3 milhões de euros."

O ex-presidente afirmou que o caso das joias só veio à tona porque houve transparência em seu governo. "Por que o Estado de S. Paulo (que revelou o escândalo) fez uma matéria sobre o primeiro e o segundo pacote de joias? Porque está cadastrado."

Na entrevista, Bolsonaro comentou sobre o cargo de presidente de honra que assumirá no PL. Destacou que cumprirá papel como conselheiro da legenda. "Quem faz a oposição são os parlamentares. Chego na condição de uma pessoa mais velha, experiente", ressaltou. "Também vou dar minhas sugestões, ter uma linha direta com a liderança do partido na Câmara e no Senado. Não somos oposição, somos pró-Brasil. Não queremos que o Brasil afunde, para aparecermos como salvador da pátria."

Bolsonaro aproveitou para defender uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar os atos terroristas de 8 de janeiro. "Foi um movimento espontâneo por parte da população, que resolveu ir para a porta dos quartéis por uma questão de segurança. O episódio do dia 8 (de janeiro) vai ser esclarecido via CPMI, que, num primeiro momento, o Lula e seus políticos queriam. Dois dias depois conseguiram as assinaturas e se gabaram 'olha conseguimos, vamos agora enterrar a direita'. Poucos dias depois, viram que não foi bem assim aquela história", comentou.

Ele disse reprovar os ataques às sedes dos Três Poderes. "Ninguém concorda com essa invasão. Pelas informações que temos, aquilo foi preparado algumas horas antes", destacou. "Por que o PT, o governo não quer a CPMI? O que ele tem a temer?"

"Flopou"

O número reduzido de apoiadores que recepcionaram Bolsonaro foi motivo de ironia no governo Lula. Ao comentar o arcabouço fiscal, anunciado ontem (leia reportagem nas páginas 6 e 7), o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alfinetou o ex-presidente. "Tenho dito, desde o começo, que o tema do marco fiscal não é debate entre governo e oposição. Quem tentar criar o ambiente de conflito do governo anterior vai se dar mal. Vai flopar, como flopou a recepção do ex-presidente que hoje voltou ao Brasil", frisou. Flopar é o termo usado nas redes sociais para descrever algo que foi malsucedido.

O senador Humberto Costa (PT-PE) também tripudiou. "Sem dinheiro público para aliciar seguidores, Bolsonaro teve uma recepção medíocre, assim como foi o seu governo. Agora, vai ter que se explicar na Justiça sobre as joias que tentou surrupiar e tantos outros escândalos de corrupção da sua gestão", escreveu.

Já o lado bolsonarista teve um outro entendimento sobre a chegada do ex-presidente. "O presidente Bolsonaro retornou mobilizando multidões, como sempre. Mostrando que é um grande líder e que todas as pessoas que o apoiaram e que votaram nele na eleição estavam com saudade", afirmou o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), em vídeo publicado nas redes sociais.

Ao Correio, o ex-ministro da Casa Civil Ciro Nogueira definiu o ex-presidente como o grande líder da oposição. "Temos um líder que, até no próprio Nordeste, movimenta multidões, pessoas apaixonadas. É o grande eleitor da próxima eleição (2024)", ressaltou. "Nas próximas eleições, os candidatos apoiados pelo presidente Bolsonaro serão favorecidos pelo apoio dele."

Questionado sobre ações em que o ex-chefe do Executivo é investigado, Ciro Nogueira usou a expressão "nada melhor que o tempo". "Bolsonaro é um homem de bem, simples, correto. Não cola com a população a imagem de ladrão, principalmente de pessoa que desvia recursos públicos. A população vai ver isso e não vai afetar em nada (a sua popularidade)", frisou.

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

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