CONGRESSO

CPI mista dos atos golpistas será palco para congressistas blogueiros

Parlamentares e analistas políticos avaliam que a comissão parlamentar de inquérito para investigar os ataques do 8 de janeiro será bem midiática, repleta de deputados e senadores com perfil blogueiro

Raphael Felice
Taísa Medeiros
postado em 30/04/2023 03:55 / atualizado em 30/04/2023 11:19
 (crédito: Divulgação/Câmara dos Deputados)
(crédito: Divulgação/Câmara dos Deputados)

A presença expressiva de "políticos blogueiros" na atual legislatura potencializou o uso do aparato Legislativo, como o plenário e as comissões, para conseguir recortes com frases de efeito em redes sociais. Essa tendência midiática será ainda mais enfática durante os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o ataque às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro, conforme avaliam especialistas e os próprios parlamentares.

Durante o avanço das articulações sobre a CPMI nas duas últimas semanas, deputados e senadores de legendas como PT, PL, PSDB, PP, PCdoB e Republicanos usaram termos como "lacração", "gritaria", "barraco", "confusão", "só vai ter maluco" e até "bancada do bullying" para definir o clima do colegiado e composição.

As "lacrações palanqueiras", termo utilizado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) no ano passado para se referir a discursos com fim de "bombar" nas redes sociais, tendem a ficar em primeiro plano em detrimento das apurações da CPMI para grande parte da composição do colegiado, principalmente da ala bolsonarista. Aliás, este é um questionamento que corre nos bastidores: o que, de novo, pode ser trazido pela Comissão, uma vez que uma investigação formal já está adiantada no Supremo Tribunal Federal (STF)? A única explicação seria a oportunidade de visibilidade diante da mídia e das redes sociais que os debates podem gerar.

A escalação dos nomes pelas legendas reitera essa máxima: Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e André Fernandes (PL-CE) são os favoritos do partido de Valdemar Costa Neto e do ex-presidente Jair Bolsonaro para compor a CPMI. Todos, engajados com as mídias sociais.

Fernandes, porém, não conseguiu ainda garantir a vaga na CPMI. O autor do requerimento de instalação da Comissão é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) justamente por ter convocado pessoas para participar do quebra-quebra de 8 de janeiro. Caso não assuma a vaga, um dos nomes cotados é o de Nikolas Ferreira (PL-MG), que ganhou enorme capital político-eleitoral com uso das redes sociais. No Senado, a oposição avalia indicar nomes como Damares Alves (Republicanos-DF), Carlos Portinho (PL-RJ), Jorge Seif (PL-SC) e Magno Malta (PL-ES). O PL terá apenas duas indicações na CPMI.

O foco dos adversários de Lula na CPMI consistirá, principalmente, em explorar o vídeo do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias dentro do Palácio do Planalto no dia dos ataques. G. Dias, como é conhecido, estava acompanhado de funcionários do GSI de General Heleno, que ocupou o cargo no governo Bolsonaro. Além do militar, outro alvo deve ser o ministro Flávio Dino. Nas duas vezes em que o ministro da Justiça foi à Câmara, nas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Segurança Pública (CCJ), as audiências foram marcadas por muita confusão.

Para fazer frente ao bolsonarismo e sua capilaridade nas redes sociais, André Janones (Avante-MG) voltará a ser protagonista na defesa de Lula e do governo. Na eleição de 2022, praticamente sozinho, o deputado federal equilibrou o campo de batalha nas redes, usando estratégias parecidas com a dos bolsonaristas. A base ainda deve ter dois nomes fortes nas redes sociais, os deputados Duarte Júnior (PSB-MA) e Duda Salabert (PDT-MG).

No Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) é o nome mais midiático, seja por constantes aparições na televisão e até mesmo nas redes sociais. Além dele, outros nomes que carimbaram o governo Bolsonaro durante a CPI da Pandemia também devem estar presentes, como Renan Calheiros (MDB-AL), Rogério Carvalho (PT-SE), Humberto Costa (PT-PE), Omar Aziz (PSD-AM) e Otto Alencar (PSD-BA). Com os times formados de ambos os lados é possível perceber o padrão em busca pela repercussão midiática tanto do lado da oposição, quanto na base governista.

Já o governo quer iniciar com força total para tentar "liquidar" a CPMI o mais rápido possível. O primeiro alvo dos governistas será Anderson Torres, ministro da Justiça do governo anterior e ex-secretário de Segurança Pública do DF. Outros nomes como os generais Augusto Heleno e Walter Braga Neto (ministro da Defesa de Bolsonaro) também devem ser chamados. O ex-presidente Jair Bolsonaro deve ser alvo da base da CPMI apenas na reta final.

Composição

Os líderes dos blocos partidários precisam indicar os deputados e senadores que vão integrar a CPI mista dos atos antidemocráticos para a devida instalação. O governo caminha para ter a maioria da composição, entre 20 e 24 dos 32 parlamentares. Por isso, deverá ficar com a presidência e relatoria. O líder da oposição, senador Rogério Marinho (PL-RN), considera que uma das vagas precisa ser da minoria, que teve a iniciativa. Já o líder do governo no Congresso Nacional, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), destacou que "a tentativa de golpe" de 8 de janeiro foi arquitetada ao longo dos últimos quatro anos.

Para o cientista político da Hold Assessoria, André Cézar, a CPI mista será bastante midiática, especialmente nas redes sociais. "Essa tendência tem sido vista desde a posse do novo Congresso. Vimos exemplos clássicos com as confusões constantes, como na ida de Flávio Dino à uma comissão na Câmara, que precisou ser suspensa, e na última semana, o caso de Eduardo Girão", observa. Ele destaca que, para não perder controle, o governo precisará ter condições de conter certos arroubos. "Isso empobrece a discussão e o processo democrático fica sempre em xeque. Só parlamentares de peso serão capazes de segurar essa onda", conclui.

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  • André Fernandes, deputado autor do requerimento para criação da CPMI, ainda não garantiu vaga no colegiado
    André Fernandes, deputado autor do requerimento para criação da CPMI, ainda não garantiu vaga no colegiado Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
  • deputados
    deputados Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados
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