investigação

PF investiga terceiro registro de vacina com nome de Bolsonaro em SP

Polícia Federal apura a suspeita de um terceiro certificado falso de imunização de Bolsonaro. E-mail tinha nome de Lula

Renato Souza
Luana Patriolino
Ândrea Malcher
postado em 05/05/2023 03:55
 (crédito:  Ailton Barros/Instagram)
(crédito: Ailton Barros/Instagram)

A investigação do suposto envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em um esquema de inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde teve mais um desdobramento. A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) apuram a suspeita de um terceiro certificado falso de vacinação contra a covid-19, em nome do ex-chefe do Executivo, desta vez, em São Paulo. A Polícia Civil do estado também investiga o caso.

Segundo o relatório do caso, o registro falso aponta que Bolsonaro tomou uma dose da Janssen em 19 de julho de 2021, em uma unidade de saúde do bairro de Peruche, em São Paulo. O posto, no entanto, negou a veracidade do dado. Conforme boletim de ocorrência feito pela Prefeitura de São Paulo, obtido pelo Correio, o e-mail de contato na ficha é "lula@gmail.com".

Os outros dois certificados, emitidos pelo aplicativo ConecteSUS, são da vacina da Pfizer, supostamente aplicada em Duque de Caxias (RJ), em 30 de dezembro.

Bolsonaro foi alvo, na quarta-feira, de busca e apreensão da Polícia Federal na Operação Venire, que apura suposta fraude sobre vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. No mesmo dia, agentes prenderam o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.

De acordo com as investigações, o certificado de vacinação datado de 30 de dezembro foi obtido por meio de um celular vinculado a Cid. Ele teria emitido o documento duas horas antes de viajar com Bolsonaro aos Estados Unidos.

Segundo o relatório da PF, registros de vacinação do ex-presidente e de sua filha caçula, Laura, 12 aos, foram apagados seis dias depois da emissão, com a alegação de "erro".

O certificado de imunização de Bolsonaro foi emitido com o CPF do ex-presidente e utilizando um endereço de IP do Palácio do Planalto.

A fraude nos certificados teria ocorrido por meio de um esquema montado na Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde os dados foram inseridos e excluídos. O responsável seria o secretário de governo do município, João Carlos de Souza Brecha — um dos seis presos na operação de quarta-feira.

Encerradas as apurações, o Ministério Público Federal (MPF) formará seu entendimento sobre a ocorrência ou não dos crimes, quais são os agentes envolvidos e, assim, decidir se vai oferecer denúncia a ser apreciada pelo Judiciário. Caso a denúncia seja recebida, Bolsonaro se tornará réu na ação penal.

O ex-chefe do Executivo nega envolvimento no suposto esquema de falsificação de certidão de vacinação contra a covid-19. De acordo com fontes ligadas às investigações, Cid se recusou a responder aos questionamentos.

Mensagens golpistas

Em outra frente de investigações, gravações em áudio, que estão com a PF, revelam discussões feitas na antessala do gabinete presidencial, em 15 de dezembro, com o intuito de dar um golpe de Estado. O conteúdo evidencia que o ex-major do Exército Ailton Barros trocou mensagens com Mauro Cid a respeito de uma tentativa de derrubar o regime democrático.

Nas conversas, Ailton fala de um plano para tomar o poder com uso da força, que, em seguida, teria como desdobramento a prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os diálogos integram material colhido pelos investigadores no âmbito da Operação Venire. Nas mensagens, obtidas pela CNN Brasil, Ailton aborda o "conceito da operação". A estratégia envolvia o então comandante do Exército, Freire Gomes, e Bolsonaro.

"É o seguinte, entre hoje e amanhã, sexta-feira, tem que continuar pressionando o Freire Gomes para que ele faça o que tem que fazer", diz Ailton. "Até amanhã à tarde, ele aderindo… bem, ele que faça um pronunciamento, então, se posicionando dessa maneira, para defesa do povo brasileiro. E, se ele não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa. Que você viu, né? Eu não preciso falar. Está abalada em todo o Brasil", completa. A emissora não teve acesso às respostas de Cid a Ailton.

Ao Correio, o advogado e assessor de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, negou que o ex-chefe do Executivo teve conhecimento da troca de mensagens entre seus aliados. "Onde há o envolvimento do presidente nisso? Ele aparece nos áudios?", questionou.

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