investigação

Ex-diretor da PRF tenta blindar Bolsonaro na CPMI do 8 de janeiro

Em depoimento à CPMI, Silvinei Vasques nega qualquer tipo de envolvimento do ex-presidente nas operações feitas pela corporação no segundo turno das eleições

Taísa Medeiros
postado em 21/06/2023 03:55
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Em uma sessão tumultuada da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques procurou blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro. O depoimento do policial abriu a série de oitivas que o colegiado fará na apuração dos ataques antidemocráticos.

Vasques negou qualquer tipo de envolvimento de Bolsonaro nas operações da PRF que teriam dificultado a chegada de eleitores às seções no segundo turno do pleito de 2022. Os bloqueios ocorreram sobretudo na Região Nordeste, que concentra a maior parte dos eleitores do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-diretor refutou que a PRF tenha direcionado a fiscalização para o Nordeste e classificou as acusações de "maior injustiça da história" da instituição. As declarações dele divergem das apurações feitas pela Polícia Federal no caso.

"Na PRF ou em qualquer órgão federal, vocês podem ter certeza de que ninguém consegue fazer uma trama dessa sem juntarem provas. Isso não existiu. É fantasiosa", enfatizou.

Ele definiu a relação com o ex-presidente como "muito profissional". "Nunca fui numa festa do presidente Jair Bolsonaro, nunca fui padrinho, nunca votei nele, até porque meu título é de outro município. O que temos é relação profissional", frisou.

Durante o processo eleitoral, porém, o policial usou suas redes sociais para pedir voto a Bolsonaro, que buscava a reeleição. Na época, compartilhou uma foto da bandeira do Brasil e escreveu: "Vote 22, Bolsonaro presidente". Poucas horas depois, a publicação foi apagada. Devido ao fato, é investigado por improbidade e foi exonerado do cargo em dezembro, se aposentando logo em seguida.

O policial negou que fosse alvo de processos, ao ser questionado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA), mas, ao final da sessão, recuou.

Segundo Vasques, não havia interferências do governo Bolsonaro na instituição. "Estou afirmando que não havia interferência na PRF, pelo menos na minha gestão. Nunca recebi pedido de ninguém", frisou.

Sobre o planejamento e a organização para as fiscalizações nas rodovias, o depoente afirmou que foram encabeçadas pelo Ministério da Justiça — comandado, na época, por Anderson Torres. "A operação não era da PRF, era do Ministério da Justiça, sob a coordenação da Secretaria de Operações Integradas, que é a Seopi", sustentou.

Eliziane Gama questionou as ordens de serviço emitidas para a operação, uma vez que, segundo os documentos, no rito de organização definido no Comando Central, constava apenas a Região Nordeste. "Há uma clara suspeição sobre esse planejamento, que, como eu disse, consta aqui deste documento que está sob o poder da CPI", destacou a senadora. O depoente disse que desconhecia as ordens de serviço, e a parlamentar protocolou a convocação de outros integrantes da PRF que assinaram o documento.

Durante os questionamentos realizados pela relatora Eliziane Gama sobre um caso de agressão a um frentista, no qual supostamente Vasques estaria envolvido, o deputado Éder Mauro (PL-PA) interrompeu aos gritos, alegando que as perguntas direcionavam a resposta.

O depoimento de Vasques teve de ser interrompido por causa de um bate-boca entre Eliziane e o deputado Éder Mauro (PL-PA), que acusou a senador de induzir a testemunha.

 

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