investigação

Condenado por bomba no aeroporto, terrorista tenta se descolar do 8/1

Na CPMI, extremista George Washington de Oliveira diz que caso não tem a ver com os atos golpistas, mas relatora da comissão aponta relação entre os episódios

Fernanda Strickland
Taísa Medeiros
Victor Correia
postado em 23/06/2023 03:55 / atualizado em 23/06/2023 09:09
 (crédito:  Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, o empresário bolsonarista George Washington de Oliveira — preso por ter colocado uma bomba em um caminhão-tanque na véspera do Natal passado, próximo ao aeroporto de Brasília — negou que a tentativa de atentado tenha ligação com os atos golpistas. O colegiado também ouviu policiais e peritos que atuaram no caso.

Segundo a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), os depoimentos desta quinta-feira apontam para uma ligação entre os atos extremistas, tese que vem sendo defendida pela comissão. O colegiado prega que seja seguida uma linha do tempo dos acontecimentos.

Na sessão, Oliveira exerceu o direito ao silêncio e não respondeu a maioria das questões. A advogada dele, Rannie Karlla Lima Monteiro, justificou que os questionamentos da relatora tinham intenção de conduzir um condão incriminatório contra o empresário. Ele não respondeu sobre o acampamento em frente ao quartel-general em Brasília, nem a respeito da viagem que fez do Pará a Brasília com um arsenal bélico, posteriormente apreendido pela polícia.

O depoente evitou dar detalhes, ainda, sobre a suposta carta que teria escrito ao então presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele chegou a dizer que, se o documento foi encontrado em seu celular, como dizem os investigadores, outra pessoa o escreveu.

Questionado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF) a respeito da ligação entre os ataques, Oliveira negou a tese governista. "Meu caso não tem nada a ver com o do dia 8, que corresponde a essa CPMI", declarou.

O deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) rebateu: "Dizer que um ato não tem nada a ver com o outro é um equívoco. O senhor já foi abandonado", frisou. O parlamentar afirmou que pedirá a quebra de sigilo bancário, não somente de Oliveira como de parentes dele.

Apesar de ser réu confesso no caso do atentado ao aeroporto e ter sido condenado, Oliveira enfatizou que "jamais colocaria artefato explosivo em cima de um caminhão-tanque".

Em depoimento à Polícia Federal, em 25 de dezembro, Oliveira confessou o crime e relatou que o plano para a explosão foi arquitetado no acampamento em frente ao QG do Exército, em Brasília. Segundo ele, a ideia inicial era detonar o artefato na subestação de energia de Taguatinga.

Na CPMI, Oliveira sustentou que o artefato não tinha poder de explosão, contrariando o que disseram os peritos na sessão, mais cedo. "Esse artefato que vocês falam que era dinamite, até os próprios peritos falaram que não tinha poder de explosão."

Silêncio

O silêncio de Oliveira ante uma série de perguntas incomodou o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA). "Essa conduta o senhor realizou porque é próprio da natureza de pessoas como o senhor, agir dessa maneira canhestra, escondida, falsa, como justamente os vermes se escondem no esgoto", disparou.

O parlamentar destacou esperar que a lei seja dura com o extremista e com os outros envolvidos no ato. "Sinceramente, o senhor envergonha este país. O senhor envergonha o Brasil, o senhor envergonha a sociedade brasileira", pontuou.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) definiu o empresário como terrorista e o questionou: "O senhor sabe que é terrorista?". Após hesitar, o depoente respondeu: "Eu não me vejo como um terrorista. Não sou terrorista". Ele se declarou um "patriota".

 

Poder de destruição

Antes do depoimento de Oliveira, a CPMI ouviu o diretor do Departamento de Combate à Corrupção (Decor) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), delegado Leonardo de Castro, que coordenou as investigações sobre os atos de 12 de dezembro — quando um grupo extremista vandalizou o centro de Brasília e atacou a sede da Polícia Federal — e o da véspera de Natal. Prestaram depoimento, ainda, os peritos da Polícia Civil Valdir Pires Dantas Filho e Renato Martins Carrijo, que atuaram no caso do artefato explosivo.

Carrijo relatou que Alan Diego Rodrigues e Wellington Macedo, também acusados da tentativa terrorista, já estavam sendo monitorados por participação na baderna no centro de Brasília.

Um vídeo exibido na CPMI mostra o momento em que um carro passa várias vezes ao lado do caminhão-tanque estacionado próximo ao aeroporto. Na última passagem, mais lenta, Oliveira colocou a caixa com o explosivo embaixo do veículo.

Os investigadores determinaram que o carro era da esposa de Wellington Macedo, que já havia sido preso em 2021 por incentivar atos antidemocráticos e era monitorado por tornozeleira eletrônica. Ele destruiu a tornozeleira em um local de Ceilândia e está foragido desde então. Já Alan Diego foi citado por Oliveira no interrogatório feito pela polícia, e os agentes identificaram que os dois conversaram por telefone no dia do ataque à sede da PF.

Segundo Carrijo, o artefato "era um explosivo industrial normalmente utilizado em pedreiras, para rompimento de rochas". Ele afirmou que o material só não foi detonado porque os terroristas usaram um sistema de ignição destinado a fogos de artifícios, que não era adequado à carga instalada.

Na avaliação de Eliziane Gama, a exposição feita pelos policiais mostra "a correlação dos atos do dia 8 de janeiro com o que ocorreu no dia 24 de dezembro e também no dia 12 de dezembro".

A senadora também destacou o poder de destruição do material, caso a detonação tivesse sido bem-sucedida. "Seria uma tragédia sem precedentes na história brasileira. Felizmente, não tivemos o acionamento por conta desse erro técnico", enfatizou.

 

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