atos golpistas

CPMI de 8/1: fotógrafo diz que foi ameaçado para deletar fotos

Parlamentares de oposição não aceitaram as justificativas apresentadas, embora a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA), não veja relação entre a presença do fotojornalista no local e participação nos atos golpistas

Tomada de depoimentos. Repórter fotográfico, Adriano Machado.

 -  (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Tomada de depoimentos. Repórter fotográfico, Adriano Machado. - (crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Ândrea Malcher
postado em 15/08/2023 17:51

O fotógrafo Adriano Machado, da agência de notícias Reuters, afirmou, nesta terça-feira (15/8), na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas do dia 8 de janeiro, que foi ameaçado pelos manifestantes para que deletasse as imagens feitas durante os ataques às sedes dos Três Poderes.

Segundo o fotojornalista, por volta das 15h45 do dia 8 de janeiro ele percebeu que uma pessoa ia em direção ao gabinete da Presidência, o que chamou a atenção dele. “Para a minha segurança, permaneci em um local de maneira discreta. Aproximadamente às 15h55, outras pessoas chegaram na antessala do gabinete da Presidência da República e forçaram a entrada na porta de vidro”.

“Quando eu vi esse grupo, como profissional, registrei aquele momento, como qualquer outro fotojornalista faria. Fiz os registros de forma discreta; acredito que eles não tenham me visto. Quando eles abriram a porta de vidro da antessala, eu, como fotojornalista, acompanhei para registrar todo o acontecimento. Naquele momento, o clima era extremamente hostil e instável. Então, eu tomei bastante cuidado com a minha segurança. Foi quando eles perceberam a minha presença, me cercaram e questionaram quem eu era e o que eu estava fazendo ali”, contou Adriano.

Machado foi convocado a depor baseado em imagens do dia dos ataques em que supostamente estaria confraternizando com os bolsonaristas que estavam no local. Em depoimento, o fotógrafo disse ter ficado “nervoso e tenso” por ter sido identificado como membro da imprensa pelos vândalos.

“Quando eu estava próximo à porta de saída, um deles me abordou e exigiu que eu deletasse as fotos daquele acontecimento. Após confirmar que eu teria cumprido com a exigência, uma das pessoas me cumprimentou. Isso pode ser visto em imagens que circularam na imprensa. Eu não conheço essas pessoas e, naquele momento e circunstância, eu não poderia deixar de retribuir o cumprimento, até mesmo por temer pela minha segurança. Apesar de eu não endossar ou apoiar o que estava havendo, eu não tinha escolha a não ser o cumprimentar de volta. Eu estava preocupado que, se me recusasse a retribuir o cumprimento, isso poderia levar a uma situação perigosa para mim. E cumprimentá-lo me pareceu uma boa maneira de aliviar a tensão”, explicou o fotógrafo que ainda contou ao colegiado ter sido ameaçado por um manifestante que tinha consigo um objeto de choque taser.

A relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), avaliou que a presença de Adriano no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro “não tem nada a ver” com os ataques e que o trabalho do fotojornalista pode ajudar, inclusive, a identificar alguns dos responsáveis pela destruição no Planalto. “Ninguém está a salvo de qualquer investigação, nem jornalista, principalmente quando o regime democrático é colocado em risco. Entretanto, pelas informações que tenho até agora em mãos, o repórter fotográfico Adriano Machado não colaborou para um cenário com tais características pérfidas. Vistas assim as coisas, talvez a sua presença hoje aqui, nesta CPMI, não esteja respaldada em indícios robustos de alguma falta grave”, observou a parlamentar.

Deputados de oposição não aceitaram as justificativas apresentadas pelo depoente. Para os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF), Eduardo Girão (Novo-CE) e Magno Malta (PL-ES) as imagens das câmeras de segurança em que Adriano aparece cercado por manifestantes indicam uma espécie de ensaio para que fosse registrado o momento em que a porta de vidro que dá acesso a sala da Presidência fosse arrombada.

“O meu raciocínio é que o senhor estava lá como um profissional para cobrir e fazer um documentário depois do que aconteceu para dar legitimidade mundial a esse golpe, como eles fizeram no impeachment da Dilma (…). Mas o cara vai lá, vê a foto e te dá a mão. Ninguém bate na mão assim do outro hostilizando. Valeu, parceiro. Me desculpa, eu não sou psicólogo, mas eu sei fazer leitura, aquilo ali foi de amigo agradecido. Não que o senhor tenha amizade com ele”, afirmou Magno Malta.

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