TROCA DE GESTÃO

Entrevista: ministro do Esporte promete continuar projetos de Ana Moser

No lugar de Ana Moser, novo ministro de Lula quer construir uma ponte de diálogo entre o Executivo e o Parlamento. Além disso, pretende atrair recursos e dar continuidade aos projetos em andamento criados pela antecessora

André Luiz de Carvalho Ribeiro, mais conhecido como André Fufuca, apelido herdado do pai Francisco, um conhecido líder político do Maranhão, assumiu o Ministério do Esporte, antes comandada pela medalhista olímpica Ana Moser. Representando a entrada do Partido Progressistas (PP) no governo, mesma legenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), Fufuca aposta em usar a experiência como parlamentar para ampliar recursos e projetos da pasta.

Para isso, Fufuca promete despachar regularmente no Congresso. Como mais um ministro oriundo do Centrão, deve buscar o parlamento e turbinar sua atuação. Apesar de se dizer satisfeito com a aprovação pela Câmara do projeto que taxa as apostas esportivas, as bets, espera conseguir ampliar a parcela do Esporte na divisão do bolo. Nesse intento pode esbarrar no colega Celso Sabino, outro ministro vindo do parlamento que conseguiu negociar uma parcela das apostas para financiar os projetos da pasta e a Embratur.

 

 

Apostando no discurso da união e conciliação, mesmo depois de apoiar Jair Bolsonaro (PL) no último pleito, diz que fará campanha para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso o petista seja candidato à reeleição.

Veja os principais trechos da entrevista exclusiva que o novo ministro concedeu ao Correio:

Ministro, quais as expectativas da nova gestão?

É, sem sombra de dúvida, a melhor possível. Nós temos disposição, vontade de trabalhar, humildade de aprender e acima de tudo o espírito do coletivismo e da comunhão.

E o balanço dos 8 meses da ministra Ana Moser?

A ministra Ana Moser tinha um perfil mais técnico, um perfil de consolidação de projetos, um perfil de formulação e elaboração de projetos. Nós temos um perfil mais de realização, de construção, de solidificação, de tirar do papel e tornar realidade. Então são duas áreas que se complementam, os projetos e as ações. A ministra Ana Moser tem projetos interessantes, alguns em fase final, outros começando, mas que nós temos, com o tempo de se aprofundar neles, e tentar achar soluções orçamentárias para os tornar realidade.

Quais projetos ficam no legado de Moser?

A ministra tem um projeto muito parecido com uma ideia, um pensamento nosso e do presidente Lula, que é voltado à democratização do esporte. Democratização através da união com outros ministérios, como a Seguridade Social, Educação e Saúde. Outra ideia da ministra será a reformulação e ampliação do programa Segundo Tempo, além da ampliação do programa Bolsa Atleta. Além da questão da paridade, que eu concordo totalmente. Hoje é totalmente desleal se você pegar a remuneração de um atleta masculino comparado a uma atleta feminina.

Uma das críticas ao senhor assumir o Ministério é exatamente a redução da participação feminina na Esplanada. O presidente renunciou ao compromisso de igualdade?

De forma alguma, até porque a paridade não se dá apenas na linha central de um Ministério, ela se dá na construção e no corpo do Ministério e aqui dentro nós teremos paridade, sim, na quantidade e nos espaços dos funcionários do Ministério do Esporte.

Dentro do Ministério?

Sim, trabalharemos nesse intuito.

Na posse o senhor mandou um recado para a ministra Nísia Trindade, o PP não tem mais interesse na Saúde?

Eu não vou dizer que foi um recado, foi mais uma mensagem clara e transparente do que sempre aconteceu. O Progressistas pegou a fama de brigar e de querer o Ministério da Saúde, quando nós nunca pedimos. Eu duvido que qualquer representante do Planalto diga que membros do PP tenham pedido a Saúde. Na época, quem falava pela bancada era o presidente Arthur Lira e eu, na condição de líder. Duvido que qualquer membro da Esplanada diga que alguma vez a gente fez esse pedido.

O senhor, com a experiência parlamentar, fará como vem fazendo o ministro Sabino, e buscará o parlamento para viabilizar projetos da pasta?

Quando eu falei no meu discurso que o ministério vai estar de portas abertas para o Brasil, eu falei não apenas no sentido figurativo, falei pela questão concreta, real, é um pensamento que eu tenho. Inclusive na quarta-feira despacharei no Congresso Nacional, até porque eu acho que é uma forma de a gente demonstrar proximidade e respeito com uma instituição eleita, que representa o povo brasileiro.

Onde vai despachar?

Eu vou despachar na liderança do governo e nas outras lideranças. Eu vou fazer uma "tour" nas outras lideranças, não têm por que eu não ir à liderança do PP, PMDB, PSD, PSDB, do Cidadania. Eu sempre tive uma relação muito próxima com todos lá, tanto que por duas vezes me elegeram para a mesa.

Pouco antes da reforma, se falou muito de um ministério turbinado, o Esporte vai ficar com a secretaria das apostas, ou fica com a Fazenda. Já está definido isso?

A gente tem um projeto de ampliar o ministério, projeto que é comungado pelo Executivo. Ampliando algumas secretarias, de empreendedorismo e diretorias, como de esportes, voltadas a questões sociais e uma diretoria de apostas.

Sai da Fazenda?

Eu não estou dizendo que vai sair da Fazenda, porque lá o que tem é uma Secretaria, eu estou dizendo que aqui terá uma diretoria de apostas. Porém, a relação de qual será a incumbência dos dois, nós iremos definir com o ministro Haddad. Qual será a pertinência que ficará para a gente, e qual a pertinência ficará com a Secretaria do Ministério da Fazenda.

As conversas já definiram algo?

Não, até porque as conversas em relação a esse assunto ainda não começaram.

O projeto das apostas esportivas foi aprovado na Câmara, mas com mudanças na divisão do tributo. O Turismo foi um dos vitoriosos, como pleiteava o ministro Sabino. Ficou boa a divisão feita pela Câmara?

A divisão foi acertada no que diz respeito às áreas que serão beneficiadas, mas eu acho que o Esporte poderia ampliar um pouco mais.

A parcela do esporte ficou pequena?

Não estou dizendo que ficou pequena, mas poderia ficar maior.

Então vai gastar bastante sola de sapato na busca dessas alterações?

Mas não tenho problema, é aqui do lado e dá para ir até a pé, é aqui do lado.

O PP declarou independência, mas o senhor está no governo, foi uma escolha pessoal?

De forma nenhuma, a escolha foi coletiva, até porque eu fui representante de uma bancada de deputados. Fizemos uma reunião para fechar a questão se iríamos ou não, depois fizemos uma reunião para ver qual seria o nome e ainda fizemos outra reunião para decidir se aceitaríamos ou não o Ministério do Esporte.

Qual é o tamanho dessa base no PP?

Eu acredito que o que vai ser solidificado é que já está sendo nesse período, uns 70 a 80%. Porém, eu não posso mensurar de forma pontual, até porque eu não estou fazendo o acompanhamento como fazia como líder, mas eu acredito que nós teremos a solidificação desse potencial da nossa bancada.

O senhor chama de irmão o senador Ciro Nogueira, estão rompidos?

Estamos distantes uns dias aí. Na verdade, o Ciro adotou uma postura contrária ao atual governo, ele não era simpático que a gente assumisse essa missão. Então a gente está distante, mas nada que o tempo não vá sarar, não vá curar.

A relação ficou estremecida?

É, mas o irmão também pode se distanciar e daqui a pouco volta. É questão de tempo, nada melhor do que o tempo para curar isso.

Vai trazer esse irmão para o governo?

Olha, eu não vou dizer que vou convencer a, b ou c, eu vou dizer que eu vou ser um aliado leal, eu vou trabalhar para que a máxima quantidade de parlamentares e políticos do nosso partido possam apoiar também a gestão do presidente Lula.

O senhor é um bolsonarista arrependido?

Não, eu sou um lulista esclarecido, na verdade.

Mas o senhor fez campanha para o ex-presidente Bolsonaro...

Eu não fui o único a fazer campanha para quem hoje não é aliado do partido. Vários que fizeram campanha no passado, que votaram no Bolsonaro, no Fernando Henrique, no Collor, no Aécio, que votaram no Alckmin e hoje fazem parte do governo, estão dentro do governo. Isso faz parte da democracia, você discorda ou não de um ato. Eu, na época, caminhei de uma forma, agora eu tenho certeza de que irei caminhar de outra, ajudando. Tenha certeza de que o presidente Lula tem um aliado fiel, correto e leal ao lado dele, no dia de hoje e no futuro.

Vai apoiar a reeleição do presidente Lula?

Se o presidente Lula for candidato, sem sombra de dúvida, ele terá um amigo leal ao lado dele.

Mesmo sem o PP?

Eu acredito que gratidão se paga com gratidão. O gesto de correção do presidente Lula para comigo tem que ser pago com um gesto de gratidão e correção minha para com ele. Assim que eu penso.

Quais são os próximos passos na pasta que recebe parte dos recursos de apostas?

O que eu já tenho em mente que serão os nossos próximos passos são as coalizões com os outros ministérios. O Ministério do Esporte pode crescer muito com outros ministérios. Ele pode crescer em parceria com o Ministério da Educação, da Saúde e da Seguridade Social, da Justiça e Segurança Pública, do Desenvolvimento Social, há várias áreas que nós podemos se abraçar para ampliar o nosso trabalho. Nós temos também que nos ater a questão orçamentária, não dá para só sonhar e não colocar em prática. Para isso o Congresso é mais do que importante. Por isso que eu falo, nós temos que ter aliança com todos, temos que ter as portas abertas com todos. Não posso fazer um Ministério fechado nesta sala e achar que eu vou resolver aqui, que eu não vou resolver absolutamente nada.

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