Entrevista

Avelar defende conselho menor: 'Segurança tem de ser por profissionais'

Presidente de colegiado que representa secretários de segurança de todo o país, o titular da pasta no DF propõe acréscimos na PEC que trata do tema.

Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp) e titular da Segurança no Distrito Federal, Sandro Avelar considera fundamental fortalecer o colegiado. Ele avalia que o Consesp deve equivaler a órgãos como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) com o objetivo de aprimorar a governança da segurança pública no Brasil. Ele é um dos participantes da I Conferência de Segurança Pública iLab-Segurança 2025, realizada em Brasília.

Qual a expectativa para a conferência e os principais objetivos?

É a primeira vez que a gente consegue reunir todos os conselhos nacionais representativos das categorias mais importantes da segurança pública. Delegados gerais da Polícia Civil, comandantes gerais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, peritos policiais penais do âmbito estadual e federal, além dos Detrans. É uma oportunidade para que haja uma discussão profícua por parte daqueles que são os profissionais que realmente atuam na segurança pública em todo país. Será uma troca de experiências e um processo de construção de soluções. Vamos apresentar um pacote de sugestões.

A PEC da Segurança, que foi elaborada pelo governo e já tramita no Congresso, não contempla nenhuma destas sugestões? 

Nós apresentamos ao Ministério da Justiça uma PEC alternativa aprovada por unanimidade por todos os secretários de segurança e o governo chegou a refazer o projeto, considerando nossas sugestões. Apresentamos uma PEC alternativa que foi aprovada por todos os secretários de segurança pública, sem caráter político e ideológico, muito pelo contrário, são posições técnicas, propostas aprovadas por unanimidade, independentemente de direita e esquerda. A segurança tem que ser vista assim, tem que ser tratada por profissionais da segurança pública.

O que mudou?

A proposta que a gente apresentou para o governo serviu para que fosse apresentada uma segunda versão, que foi encaminhada ao Congresso. Essa segunda proposta é melhor do que a primeira,  inclusive por fazer referência expressa à autonomia dos estados, respeitando o pacto federativo, que era algo que o CONSESP defendia. Mas nós fomos além e sugerimos novas propostas que não foram contempladas na PEC, como o aumento da destinação dos recursos oriundos das bets, que não foi contemplado pelo Ministério da Justiça e sugerimos que seja observado agora dentro do Congresso Nacional. 

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O que o senhor destaca de positivo na versão da PEC que tramita no Congresso? 

Na PEC, há previsão de que o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) se torne incontingenciável e isso é um aspecto positivo, pois o fundo é importante para a segurança pública e para o sistema penitenciário. 

Entre as novas propostas a serem apresentadas na conferência, qual o senhor destaca?

Destaco a proposta de uma destinação maior de recursos das bets à segurança. As bets arrecadam bilhões e a proposta é que haja um maior percentual das bets para a área. Atualmente, enquanto a segurança pública fica com apenas 13,6%, sem previsão de repasse de recursos dessa fonte aos Estados e ao Distrito Federal para investir na prevenção e repressão a crimes relacionados aos problemas advindos de jogos e apostas. Nesse sentido, propõe-se o aumento em 18% dos recursos arrecadados para a área de segurança pública, redirecionando 12% aos fundos de segurança pública dos estados e do Distrito Federal e 6% aos fundos penitenciários desses entes federativos. Não adianta o governo federal querer coordenar a segurança pública se não contribuir com recursos mais efetivos e significativos.

Há outras medidas?

Chamo atenção ainda à proposta de agravamento de pena para aqueles que agridem agentes de Estado. Muita gente no Brasil ainda vê com naturalidade alguém atirar em um policial porque ele é policial, mesmo estando de folga ou até mesmo em algum agente do Estado como agentes da Receita, o Detran, etc, que têm contato direto com a população e, muitas vezes, são atacados. Em outros países mais desenvolvidos, há previsão de penas maiores para quem ataque agentes de Estado.

Qual o senhor considera a mais importante?

Sem dúvida, a que muda a composição do Consesp. O conselho faz parte da PEC da Segurança como um órgão que vai ser ouvido ao se discutir as diretrizes básicas da política de segurança pública. Mas, na composição atual, o conselho conta com mais de 50 componentes. É um conselho que mal consegue se reunir com a frequência que deveria. Tem se reunido duas vezes por ano.

Qual o modelo ideal?

A segurança pública precisa de algo nos moldes do que é o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O Judiciário tem uma composição de 15 membros que trabalham permanentemente, sendo nove oriundos do Judiciário e seis do MP e representantes da sociedade civil indicados pela OAB, Câmara e Senado. O CNMP é igual, mas, no lugar de juízes, há membros do MP e e representantes da sociedade civil. A gente defende que o Consesp tenha um perfil parecido. Só que, ao invés de 15, seriam 18 componentes, respeitando as peculiaridade das instituições policiais que temos no âmbito federal e estadual, mas também prevendo a representação da sociedade civil.

A mudança tornaria a governança mais eficiente?

Não vejo cabimento que, em um país que, historicamente, enfrenta problemas de segurança e onde a população aponta a segurança pública como a principal preocupação em pesquisas. Não existe razão para não se dar à segurança o mesmo tratamento sério e efetivo dado ao Judiciário e ao Ministério Público. 

Qual o caminho para que as propostas apresentadas sejam colocadas em prática?

São anteprojetos infraconstitucionais, ou seja, não vão contra o que está sendo previsto na PEC da Segurança. Elas serão apresentadas ao Congresso Nacional e podem ser absorvidas em forma de projeto de lei.

O que acha do rodízio de presos de alta periculosidade, como o Marcola, que está preso em Brasília? 

O sistema penitenciário federal só tem cinco presídios federais, então o rodízio de presos faz parte do protocolo. Não é desejável que um preso de alta periculosidade fique por muito tempo em nenhum presídio sem que seja feito o rodízio, porque a presença dele, muitas vezes, mobiliza a célula que o rodeia e envolve familiares, amigos e comparsas. Esse rodízio é previsto, é natural para que eles não fixem raízes em nenhuma das cinco cidades que abrigam os presídios federais. O período em que ele fica em cada lugar não pode ser longo.  

Mais Lidas

Anteprojetos apresentados

Regulamentação do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (CONSESP)

Propõe a alteração da composição do conselho, diminuindo o número de membros, aumentando o número de vezes em que o conselho se reúne e aprimorando a governança da segurança pública no Brasil.

Compensação financeira aos Estados e Distrito Federal por atuação na repressão ao tráfico de drogas

Propõe-se que os bens e valores apreendidos e confiscados sejam destinados ao Fundo Nacional Antidrogas (Funad), quando a apreensão decorrer de atuação dos órgãos federais, e aos Fundos de Segurança Pública do Estado ou Distrito Federal.

Investigação Colaborativa entre Agências Governamentais

Propõe que os órgãos incumbidos das atividades de fiscalização e controle administrativo colaborem com as atividades persecutórias do estado, especialmente na fase de colheita das provas e identificação dos responsáveis.

Repressão ao homicídio e lesão corporal contra agentes do estado

A proposta é incluir qualificadoras para esses crimes, com penas de reclusão de 20 a 40 anos para homicídio e de 2 a 5 anos para lesão corporal grave, com aumento de 1/3 para casos agravados.

Repressão aos crimes praticados por organizações criminosas

Busca tipificar o crime de extorsão praticado por membros de organizações criminosas, como nos casos em que a organização obriga a população a adquirir serviços essenciais, exige vantagem financeira para o exercício de atividade econômica ou política, ou cobra pela livre circulação, inserindo uma qualificadora no Código Penal.

Criação do crime de obstrução de justiça

Propõe criminalizar quem impede, embaraça ou pratica qualquer ato que prejudique a investigação policial ou o processo criminal.

Aumento da eficiência do processo criminal nos casos de prisão em flagrante de crimes graves

Propõe que, em crimes com pena máxima superior a 4 anos ou praticados com violência ou grave ameaça, o juiz mantenha a prisão por até 60 dias, garantindo a efetividade da investigação e do processo criminal, até que a denúncia seja oferecida.

Repressão ao domínio de cidades

Tipificação do crime de Domínio de Cidades no Código Penal. A proposta criminaliza o bloqueio total ou parcial de vias de tráfego ou estruturas das forças de segurança pública, com uso de armas de fogo ou equipamentos de uso das forças de segurança, para praticar crime contra o patrimônio

Financiamento da segurança pública (bets)

Aumento de 13% para 18% do percentual destinado à segurança pública de arrecadação de impostos provenientes de bets.