Referências para os filhos em diversos aspectos, os pais podem ser inspiração para um novo hábito, uma escolha profissional, transmitir tradições de família. Ao crescer na presença e companhia deles, é comum os rebentos adquirirem traços de suas relações com os mais diferentes campos, inclusive da moda. A Revista convidou três pais superestilosos para compartilharem o que há de mais incrível em seus guarda-roupas, como selecionam suas composições e o papel dos filhos no processo. Confira!
Do casual ao formal
O servidor público Pablo Rafael Tavares, 34 anos, sempre nutriu interesse por moda e por criar combinações bacanas. Ele conta que, desde mais novo, gostava de acessórios diferentes do que a maioria costumava usar. “Lembro que fui a uma festa e só eu estava de cachecol. Fui motivo de piada. Mas, hoje, é muito mais fácil ter acesso a peças diferentes, você consegue todos os modelos na internet.”
Ele garante ter um estilo próprio, que transita pelas composições mais formais do ambiente de trabalho até os looks casuais para festas e passeios. As ideias para as combinações são frutos da observação de visuais inspiradores e dos experimentos que faz para encontrar aquilo que veste melhor. Entre os combos que deram certo e que costuma repetir, Pablo cita a bermuda rosa com t-shirt branca e o terno liso com uma camisa despojada, de estampa quadriculada.
Suspensórios, tons neutros, tênis e sapatos que prefere usar sem meia são itens que fazem parte de várias de suas composições do dia a dia. As sandálias Havaianas são uma de suas peças favoritas e símbolo de quando está à vontade e tranquilo — Pablo adora combinar um de seus três pares com o look para ficar em casa ou ir a alguma atividade de lazer.
O cuidado com o resultado final vai além da simples preocupação com cores e modelos, e passa pelo caimento. “Eu não compro um terno e visto. Vou ao alfaiate, faço os ajustes. Você não precisa ser formal e abrir mão das suas características ou dos seus gostos, tem como unir as duas coisas. Tenho que mexer na calça para conseguir usá-la sem meia. São características minhas, e tem gente que usa de outras formas”. Pablo, que também é modelo, acredita que essa profissão o influenciou a prestar ainda mais atenção aos detalhes.
Conexão
Para ele, os acessórios adicionam personalidade às composições e costuma recorrer a pulseiras, bonés de diversos modelos, óculos escuros, relógios, cordões e dois objetos que está sempre usando e carregam significados especiais: “Tenho um anel de caveira mexicana que demorei dois anos para comprar, porque tenho um filho falecido, e ele significa isso para mim. Uso o escapulário também”. Rafael tem em torno de 15 tatuagens espalhadas pelo corpo, a maioria em homenagem aos filhos.
A filha Manuela Johnston Tavares, 7, assim como o pai, já deixa transparecer sua personalidade pelas roupas. “Ela tem um gosto próprio; se gosta daquela camiseta, ela vai usar! Tem tanto a influência da minha irmã, que entende muito de moda e decoração, quanto minha. Quando coloco minha sandália Havaiana, ela pergunta: você vai assim?”, lembra, aos risos.
Apesar de terem uma conexão forte antes, o período de isolamento social tem intensificado os laços entre Manu e Pablo. “Tenho guarda compartilhada, e, por conta da quarentena, ela fica uma semana comigo e outra, não. A gente acompanha os deveres e tudo o mais. Priorizo as questões da Manuela, somos muito ligados.”
Vintage em Brasília
O estilo do músico Ulysses Melo Manso, 29 anos, é consequência das referências musicais que tem. “Transmito, pelo vestir, o que faço. Poderia dizer que meu estilo é alternativo? Sim, mas, para mim, não é alternativo, é o meu estilo. Uso roupas vintage dos anos 1980, 1990 e 2000 e me inspiro em ícones pop dessas décadas. Não tem uma pessoa específica, é um mood. Acordo de um jeito e quero vestir aquilo”, explica.
As camisetas vintage, que, segundo ele, têm tecido, design gráfico e caimento ímpares, são o que norteiam as combinações. “Uso muito as da Harley Davidson dos anos 1990, peguei do meu pai uma coleção bem grande. O gráfico, o visual, a perda de cor, o preto bem cinza, os rasgados, o algodão mais grosso chamam muita atenção. Tento fugir da camiseta e calça jeans, mas não consigo. Brasília é uma loucura, então, sempre levo a jaqueta também, porque vai que esfria.”
O gosto por moda de Ulysses aflorou, ainda mais, durante o período em que morou na Austrália, em 2011. Lá, teve contato com outras referências e ficou admirado ao ver o que as pessoas vestiam nas ruas. Desde a viagem, ele parou de comprar roupas em shopping e passou a garimpar e investir nas peças de brechós internacionais e em alguns nacionais.
Esse hábito, somado às diversas perguntas que recebia sobre a origem das suas roupas e a falta desse tipo de produto em Brasília, o incentivou a fundar, no início deste ano, a Bullseye Vintage, uma loja com itens únicos de décadas passadas. “O brasileiro está mais habituado à realidade do brechó. O brechó e o vintage são parecidos e diferentes ao mesmo tempo. No vintage, há a necessidade de que as peças sigam uma estética que o curador vai definir e que sejam peças, de fato, de anos atrás. A loja não é um brechó, você não vai garimpar, as coisas já estão selecionadas. Fiz uma curadoria. A maioria das peças é dos anos 1980 e 1990.”
Boina lifestyle
Um item passado de pai para filho. Esse é o significado que as boinas ocupam na vida de Rodrigo Brito, servidor público, 41. Para os momentos de lazer, ele gosta de usar sapatênis, bermudas e camiseta polo. E é nessa hora que entra o item que já usa há bastante tempo — e do qual acabou virando colecionador. “Virou uma marca registrada. Sempre curti bonés e chapéus, mas as boinas são as minhas preferidas. Acabei passando esse gosto para o meu filho de 9 anos, que desde 1 ano tem suas boinas — são mais difíceis de achar, mas sempre que encontro compro para ele.”
Dono de um estilo clássico moderno, ele conta que o trabalho exige uma roupa mais sóbria, formal e que a rotina antes da pandemia e do isolamento social era composta por ternos — mas sem a necessidade da gravata. Ele só usa o acessório em ocasiões específicas. “Às sextas, o casual friday permite algumas combinações mais livres, o sapatênis, um blazer mais claro com jeans.”
Rafael Brito, 9, acaba se espelhando muito no pai. Mas é Marina Brito, 7, quem demonstra maior interesse por moda e por montar looks. “Ela adora estar arrumada. Curte peças diferenciadas, como uma jaqueta e uma jardineira, e acabou virando uma contumaz colecionadora de tiaras e laços. Tem de todos os tipos. Acho muito legal esse interesse dela, até porque é só mais um dentre tantos. Por enquanto, ainda regulamos muito o uso de maquiagens, esmaltes, perfumes, mas adornos, roupas e a criatividade em alta estão sempre liberados.”
Liberdade
O servidor público explica que a conexão com os filhos se dá de diversas formas, como por meio da culinária, da literatura, dos esportes, do lazer e da cultura em geral. E a moda, o estilo e os autocuidados são mais um campo em que essa relação acontece. Atualmente, os pequenos têm maior liberdade para escolher o que vestir, com algum nível de orientação — principalmente quando a ocasião pede — dos pais.
Essas relações que a família construiu com as composições demonstra algo para o pai: “Percebo uma coerência de escolhas que se relaciona com o todo, com a forma como educamos nossas crianças. O fato de elas pedirem sugestões de roupas ou calçados, perguntarem se gostamos do look e já se preocuparem em arrumar suas malas para viagens, por exemplo, demonstra esse tipo de relação saudável que estamos construindo, com base na autoconsciência e no respaldo da família como uma instância de cuidado.”
Rafael diz que percebe um ganho de maturidade incrível de Marina e Rafael durante a quarentena: ganharam autonomia com o ensino de casa, têm participado das tarefas domésticas, passaram a entender melhor o trabalho dos pais e se solidarizam nos momentos de estresse. “Apesar do cenário caótico social e economicamente, acredito que eles, assim como todas as crianças, que têm um nível de resiliência ainda maior do que o dos adultos, conseguirão tirar importantes lições desse período da história. Criamos várias rotinas legais, escrevemos um diário da quarentena, criamos um clube de leitura, tomamos chá antes de dormir, temos um clube de pedal só nosso. Isso tende a marcar muito a história deles e a gerar muita lembrança boa também para o futuro.”
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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