Bichos

Conheça médicos veterinários que ajudam ONGs que acolhem animais

A história de três médicos veterinários que ajudam ONGs que acolhem e cuidam de animais abandonados

Manuela Ferraz*
postado em 15/08/2020 18:13 / atualizado em 17/08/2020 15:16
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

O trabalho voluntário é essencial a qualquer tempo e sociedade. No contexto da pandemia da covid-19, em que o número de abandono de animais se mostra expressivo, essa dedicação ganha ainda mais importância. A Revista convidou três médicos veterinários que estão à frente de alguns atendimentos do grupo Toca Segura e travam batalhas diárias em prol da saúde e do bem-estar dos resgatados para compartilhar um pouco de suas vivências. Deixamos aqui a nossa homenagem e agradecimento também aos protetores e todos os demais profissionais que compartilham esse empenho.

Motivo de esperança

Não foi Ana Beatriz Barbosa, 39, que escolheu a medicina veterinária, mas a profissão que a escolheu. Ela acredita, na verdade, que essa seja sua vocação e motivo de realização. Mais do que tratar o cachorro, a veterinária busca entender que ele é o amor de alguém e merece dedicação diária. São inúmeros cursos, pós-graduações e investimentos que se fazem necessários para trazer o que há de mais moderno para sua rotina.

A profissional trabalha com medicina integrativa e utiliza técnicas inovadoras como ozonioterapia, terapia neural, homeopatia injetável, nutracêuticos e fórmulas manipuladas. “É uma medicina voltada para o bem-estar do animal, na qual consigo tratar o paciente por completo e não só a doença. São atendimentos personalizados e individualizados, garantindo uma rápida recuperação sem causar estresse.”

Dedicar-se ao trabalho voluntário também não foi uma escolha ao acaso. Ana Beatriz sensibilizou-se com resgate da cachorrinha Esperança, encontrada no Paranoá, com o corpo repleto de lesões e muita dor, e entrou em contato com o abrigo, oferecendo-se para custear o tratamento. Desde então, faz parte do time de veterinários do Toca Segura.

“Duas vezes na semana, monto protocolos para todos aqueles animais que necessitam do meu atendimento. Esperança está sendo um grande ensinamento em minha vida. Há dois meses, em nosso primeiro contato, tive que segurar a emoção ao vê-la tão vulnerável. Feridas em todo o corpo, anemia, cabeça sempre baixa, além do pavor que demonstrava quando um humano se aproximava. Felicidade tenho em chegar ao abrigo e notar a diferença que pude fazer em sua vida. Estou finalizando o tratamento e torcendo para que ela e todos os outros resgatados possam ter direito a um lar digno com muita responsabilidade e que jamais volte à situação de rua”, relata.

Resgate da dignidade


Ana Beatriz conta que um dos maiores desafios no cuidado de animais resgatados, que chegam com sinais de maus-tratos, violência física e psicológica, é conquistar a confiança e fazê-los acreditar que a mão humana, que os fez sofrer, poderá cuidar de suas dores. Além da dedicação, ela acredita que é preciso paciência e carinho durante todo o tratamento dos pets e total apoio da comunidade com os abrigos.

“Fiz todo o meu curso com uma única certeza: dedicar-me com muito amor e ajudar aqueles que mais precisam. Saber que amor, carinho e cuidados transformam e resgatam a dignidade dos animais me fortalece para busca constante de aprendizado.” Em breve, Ana Beatriz realizará um grande sonho e inaugurará um hospital veterinário 24 horas de medicina integrativa, em que a equipe estará pronta para tratar e prevenir doenças, oferecendo alternativas para reduzir os efeitos colaterais dos protocolos convencionais.


Para o público

“Quando tinha 12 anos e estava na 6ª série, começamos a estudar o reino dos animais e fiquei encantado: naquele momento, decidi que ia ser médico veterinário, e ninguém tirou isso da minha cabeça. Eu nasci pra exercer essa profissão” conta Edgard Gomes, 33, que cresceu rodeado de cachorros, galinhas, jabutis, coelhos e, posteriormente, hamsters, peixes e até porquinhos-da-índia.

Grande parte de sua formação se deu em instituições públicas, como a Universidade de Brasília, onde cursou medicina veterinária, e a Universidade de São Paulo, onde fez mestrado, e isso o fez refletir: “O fato de ‘não pagar’ mensalidade pela minha formação era porque alguém estava pagando – toda a população, por meio dos impostos. Saindo da faculdade e abrindo um negócio, eu não poderia atender a toda essa população, a camada mais pobre ficaria de fora por ter dificuldades para pagar pelo serviço prestado”, explica.

Pensando nisso, Edgard criou, em 2016, um canal no YouTube, chamado ANPDog: Alimentação Natural para Dogs, para postar, semanalmente, vídeos com dicas sobre a criação de cães, alimentos que previnem doenças e orientações sobre diversas situações. Ele acredita que todos que contribuem com impostos para seu estudo poderão receber de volta um conteúdo de qualidade por meio do canal.

Edgard já desejava iniciar o serviço voluntário quando conheceu a Toca Segura por meio de uma colega de trabalho. “Foi assim que comecei a trabalhar na ONG. Lá, tenho feito atendimento usando técnicas da medicina chinesa veterinária e prescrevo dietas específicas para os animais que têm algum problema de saúde, como doença renal, doença cardíaca, câncer.” Ele, também, faz parte da Comissão de Direito Animal da OAB do Distrito Federal.

O veterinário acredita que o envolvimento com os casos complexos e delicados que trata é a parte mais difícil do voluntariado. Por vezes, ele leva a situação para casa e fica pensando durante a semana o que pode fazer por aquele animal e qual orientação dar para os outros voluntários. “Às vezes, as situações são tão complicadas que, enquanto presto o atendimento, vou rezando e pedindo a Deus que minhas mãos possam levar cura a cada um deles.”

Por outro lado, ver um companheiro de quatro patas que teve a saúde restabelecida é o mais gratificante. O especialista explica que atendeu a alguns cães com sequelas neurológicas de cinomose, que apresentam tremores semelhantes ao de pessoas com doença de Parkinson, e que a acupuntura foi fundamental para amenizar esses sinais. “Fico muito feliz ao chegar à ONG e encontrar a Joana e a Princesa com esses sintomas bem amenizados. Quero deixar um convite para as pessoas visitarem uma ONG, ou pensar em doar alguma coisa, nem precisa ser dinheiro. Um pacote de ração, produtos de limpeza, uma mantinha para época do frio e até jornais velhos têm muita utilidade e ajudam a dar mais qualidade de vida para os animais resgatados.”


Amor de infância

A médica veterinária Ialy Carvalho de Oliveira, 38, cresceu em contato com o ambiente rural. A família é do município de Carolina, no Maranhão, e ela conta que, ao visitá-los na infância, o avô sempre a recebia com um jumentinho selado para dar uma volta. “Nisso, meu amor pelos bichos ficou vivo em mim. Na primeira graduação, fiz zootecnia. Foi um curso maravilhoso, mas sentia que faltava algo. Foi quando resolvi emendar e concluir a veterinária.”

A princípio, Ialy não conhecia o trabalho voluntário, mas demonstrava sua preocupação e aptidão quando algum vizinho fazia resgate e precisava de ajuda ou quando um animal aparecia pelas redondezas de casa. O contato com casos delicados levou a médica à prática de resgates independentes, e a conexão especial com três cães e dois gatos teve por consequência a adoção.

“Resgatei meu primeiro cão na caminhada matinal da minha mãe. Spike tem 13 anos hoje e é cheio de vida! Tenho o Chico, de 7, que foi resgatado. Depois que o castrei, trouxe para casa para cuidar do pós-operatório. Ele tinha 6 ou 7 meses e nunca mais foi embora. Há três anos, também adotei o Zeca, já adulto. Veio da Toca Segura, de uma das feirinhas que fazíamos quando tinha consultório local. Tenho, ainda, os gatos Marrie, que há quatro anos peguei na frente da minha igreja — parecia estar lá me esperando — e Noah, que veio do Maranhão. Ele estava largado no estacionamento de um mercado, com medo, frio e minha mãe não pensou duas vezes”, relata.

Sempre a postos
Atualmente, a veterinária é voluntária no abrigo. Ela afirma que está sempre em contato com as responsáveis pela organização para acompanhar os pacientes. Um dos tratamentos que oferece é a castração que, explica, é essencial para evitar o crescimento populacional desenfreado de cães e gatos. Além disso, o atendimento de quadros de gastroenterites, verminoses, erlichiose (popularmente conhecida como doença do carrapato), cinomose, miíases (bicheiras), dermatites, queimaduras, lesões causadas por atropelamento e animais em situação de maus-tratos é comum entre os resgatados.

“Vejo esse trabalho como um amor muito grande. As instituições precisam de ajuda sempre. Tem-se um gasto muito grande com material de limpeza, medicamentos, descartáveis, e tudo isso funciona com compra e doação”, explica. Ademais do voluntariado, Ialy, que exerce a profissão há 11 anos, atua como nutróloga, formulando dietas naturais, segundo necessidade e diagnóstico do paciente, e na área da homeopatia. Ela pretende fazer fisioterapia veterinária e lidar com acupuntura e ozonioterapia.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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Motivo de esperança

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

Não foi Ana Beatriz Barbosa, 39, que escolheu a medicina veterinária, mas a profissão que a escolheu. Ela acredita, na verdade, que essa seja sua vocação e motivo de realização. Mais do que tratar o cachorro, a veterinária busca entender que ele é o amor de alguém e merece dedicação diária. São inúmeros cursos, pós-graduações e investimentos que se fazem necessários para trazer o que há de mais moderno para sua rotina.

A profissional trabalha com medicina integrativa e utiliza técnicas inovadoras como ozonioterapia, terapia neural, homeopatia injetável, nutracêuticos e fórmulas manipuladas. “É uma medicina voltada para o bem-estar do animal, na qual consigo tratar o paciente por completo e não só a doença. São atendimentos personalizados e individualizados, garantindo uma rápida recuperação sem causar estresse.”

Dedicar-se ao trabalho voluntário também não foi uma escolha ao acaso. Ana Beatriz sensibilizou-se com resgate da cachorrinha Esperança, encontrada no Paranoá, com o corpo repleto de lesões e muita dor, e entrou em contato com o abrigo, oferecendo-se para custear o tratamento. Desde então, faz parte do time de veterinários do Toca Segura.

“Duas vezes na semana, monto protocolos para todos aqueles animais que necessitam do meu atendimento. Esperança está sendo um grande ensinamento em minha vida. Há dois meses, em nosso primeiro contato, tive que segurar a emoção ao vê-la tão vulnerável. Feridas em todo o corpo, anemia, cabeça sempre baixa, além do pavor que demonstrava quando um humano se aproximava. Felicidade tenho em chegar ao abrigo e notar a diferença que pude fazer em sua vida. Estou finalizando o tratamento e torcendo para que ela e todos os outros resgatados possam ter direito a um lar digno com muita responsabilidade e que jamais volte à situação de rua”, relata.

Resgate da dignidade
Ana Beatriz conta que um dos maiores desafios no cuidado de animais resgatados, que chegam com sinais de maus-tratos, violência física e psicológica, é conquistar a confiança e fazê-los acreditar que a mão humana, que os fez sofrer, poderá cuidar de suas dores. Além da dedicação, ela acredita que é preciso paciência e carinho durante todo o tratamento dos pets e total apoio da comunidade com os abrigos.

“Fiz todo o meu curso com uma única certeza: dedicar-me com muito amor e ajudar aqueles que mais precisam. Saber que amor, carinho e cuidados transformam e resgatam a dignidade dos animais me fortalece para busca constante de aprendizado.” Em breve, Ana Beatriz realizará um grande sonho e inaugurará um hospital veterinário 24 horas de medicina integrativa, em que a equipe estará pronta para tratar e prevenir doenças, oferecendo alternativas para reduzir os efeitos colaterais dos protocolos convencionais.

Para o público

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

“Quando tinha 12 anos e estava na 6ª série, começamos a estudar o reino dos animais e fiquei encantado: naquele momento, decidi que ia ser médico veterinário, e ninguém tirou isso da minha cabeça. Eu nasci pra exercer essa profissão” conta Edgard Gomes, 33, que cresceu rodeado de cachorros, galinhas, jabutis, coelhos e, posteriormente, hamsters, peixes e até porquinhos-da-índia.

Grande parte de sua formação se deu em instituições públicas, como a Universidade de Brasília, onde cursou medicina veterinária, e a Universidade de São Paulo, onde fez mestrado, e isso o fez refletir: “O fato de ‘não pagar’ mensalidade pela minha formação era porque alguém estava pagando – toda a população, por meio dos impostos. Saindo da faculdade e abrindo um negócio, eu não poderia atender a toda essa população, a camada mais pobre ficaria de fora por ter dificuldades para pagar pelo serviço prestado”, explica.

Pensando nisso, Edgard criou, em 2016, um canal no YouTube, chamado ANPDog: Alimentação Natural para Dogs, para postar, semanalmente, vídeos com dicas sobre a criação de cães, alimentos que previnem doenças e orientações sobre diversas situações. Ele acredita que todos que contribuem com impostos para seu estudo poderão receber de volta um conteúdo de qualidade por meio do canal.

Edgard já desejava iniciar o serviço voluntário quando conheceu a Toca Segura por meio de uma colega de trabalho. “Foi assim que comecei a trabalhar na ONG. Lá, tenho feito atendimento usando técnicas da medicina chinesa veterinária e prescrevo dietas específicas para os animais que têm algum problema de saúde, como doença renal, doença cardíaca, câncer.” Ele, também, faz parte da Comissão de Direito Animal da OAB do Distrito Federal.

O veterinário acredita que o envolvimento com os casos complexos e delicados que trata é a parte mais difícil do voluntariado. Por vezes, ele leva a situação para casa e fica pensando durante a semana o que pode fazer por aquele animal e qual orientação dar para os outros voluntários. “Às vezes, as situações são tão complicadas que, enquanto presto o atendimento, vou rezando e pedindo a Deus que minhas mãos possam levar cura a cada um deles.”

Por outro lado, ver um companheiro de quatro patas que teve a saúde restabelecida é o mais gratificante. O especialista explica que atendeu a alguns cães com sequelas neurológicas de cinomose, que apresentam tremores semelhantes ao de pessoas com doença de Parkinson, e que a acupuntura foi fundamental para amenizar esses sinais. “Fico muito feliz ao chegar à ONG e encontrar a Joana e a Princesa com esses sintomas bem amenizados. Quero deixar um convite para as pessoas visitarem uma ONG, ou pensar em doar alguma coisa, nem precisa ser dinheiro. Um pacote de ração, produtos de limpeza, uma mantinha para época do frio e até jornais velhos têm muita utilidade e ajudam a dar mais qualidade de vida para os animais resgatados.”

Amor de infância

 (crédito: Arquivo Pessoal)
crédito: Arquivo Pessoal

A médica veterinária Ialy Carvalho de Oliveira, 38, cresceu em contato com o ambiente rural. A família é do município de Carolina, no Maranhão, e ela conta que, ao visitá-los na infância, o avô sempre a recebia com um jumentinho selado para dar uma volta. “Nisso, meu amor pelos bichos ficou vivo em mim. Na primeira graduação, fiz zootecnia. Foi um curso maravilhoso, mas sentia que faltava algo. Foi quando resolvi emendar e concluir a veterinária.”

A princípio, Ialy não conhecia o trabalho voluntário, mas demonstrava sua preocupação e aptidão quando algum vizinho fazia resgate e precisava de ajuda ou quando um animal aparecia pelas redondezas de casa. O contato com casos delicados levou a médica à prática de resgates independentes, e a conexão especial com três cães e dois gatos teve por consequência a adoção.

“Resgatei meu primeiro cão na caminhada matinal da minha mãe. Spike tem 13 anos hoje e é cheio de vida! Tenho o Chico, de 7, que foi resgatado. Depois que o castrei, trouxe para casa para cuidar do pós-operatório. Ele tinha 6 ou 7 meses e nunca mais foi embora. Há três anos, também adotei o Zeca, já adulto. Veio da Toca Segura, de uma das feirinhas que fazíamos quando tinha consultório local. Tenho, ainda, os gatos Marrie, que há quatro anos peguei na frente da minha igreja — parecia estar lá me esperando — e Noah, que veio do Maranhão. Ele estava largado no estacionamento de um mercado, com medo, frio e minha mãe não pensou duas vezes”, relata.

Sempre a postos
Atualmente, a veterinária é voluntária no abrigo. Ela afirma que está sempre em contato com as responsáveis pela organização para acompanhar os pacientes. Um dos tratamentos que oferece é a castração que, explica, é essencial para evitar o crescimento populacional desenfreado de cães e gatos. Além disso, o atendimento de quadros de gastroenterites, verminoses, erlichiose (popularmente conhecida como doença do carrapato), cinomose, miíases (bicheiras), dermatites, queimaduras, lesões causadas por atropelamento e animais em situação de maus-tratos é comum entre os resgatados.

“Vejo esse trabalho como um amor muito grande. As instituições precisam de ajuda sempre. Tem-se um gasto muito grande com material de limpeza, medicamentos, descartáveis, e tudo isso funciona com compra e doação”, explica. Ademais do voluntariado, Ialy, que exerce a profissão há 11 anos, atua como nutróloga, formulando dietas naturais, segundo necessidade e diagnóstico do paciente, e na área da homeopatia. Ela pretende fazer fisioterapia veterinária e lidar com acupuntura e ozonioterapia.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

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