Bem-estar

Reflexões por meio da cabala

Livro do rabino Nilton Bonder discute conceito de alegria em edição em que relaciona sistema filosófico e religioso judaico com temas cotidianos

Adriana Izel
postado em 21/08/2020 18:27 / atualizado em 21/08/2020 18:29
 (crédito: Editora Rocco/Divulgação)
(crédito: Editora Rocco/Divulgação)

Desde que criou a trilogia de livros Cabala da Comida, da Inveja e do Dinheiro, o rabino gaúcho Nilton Bonder percebeu que poderia trabalhar conceitos do sistema filosófico e religioso judaico com questões do dia a dia da sociedade. E é exatamente isso que Bonder faz na nova série de livos intitulada Reflexos e refrações, em que aborda sete temas utilizando pequenas parábolas, como uma plataforma de um sistema. “Decodificar vários níveis ou campos ajuda a aprofundar um assunto”, explica em entrevista à Revista.

Até agora, já foram lançadas três obras da série: Cabala e a arte de manutenção da carroça: Lidando com a lama, o buraco, o revés e a escassez; Cabala e a arte do tratamento da cura: Tratando a dor, o sofrimento, a solidão e o desespero; e, o mais recente, Cabala e a arte de preservação da alegria. Ao todo, serão sete volumes que se valem dos ensinamentos presentes no judaísmo.

Os livros podem ser lidos separadamente, pois cada um trata um conceito. “No entanto, acho que o leitor que acompanhar a série — não necessariamente em nenhuma ordem — desfrutará da parte mais interessante desse trabalho. Assim como numa série de temporadas, você pode ver apenas um episódio e tirar o que ele tem a oferecer, porém, é muito mais rico conhecer sistemicamente os personagens e as situações. Essa ‘similaridade distinta’ é que chamamos de sistêmica, permitindo muitas reflexões e refrações sobre os vários assuntos. Daí o título da série”, detalha.

Alegria x felicidade

O mais recente livro foi lançado em julho nas livrarias. A obra tem como tema a alegria, conceito que Nilton Bonder acredita ser percebido de forma errada na sociedade. “Tento desconstruir a ideia de que estar alegre é estar feliz. A alegria não é uma emoção, como a felicidade. Fico feliz quando algo acontece de bom na vida e eu reajo ficando feliz ou, ao contrário, infeliz. A alegria, por sua vez, não é uma emoção, mas uma disposição, um humor. Alegria é a animação por sentir emoções. Algo inato no ser humano. Você nasce alegre e, se souber preservar essa alegria, morre alegre”, comenta.

Na obra, Bonder ensina a preservar a alegria com a qual o ser humano nasce. Para isso, utiliza pequenos contos, como Os sete pedintes, uma narrativa em que pessoas em situação de rua ajudam diferentes personagens a recuperar a alegria perdida. “A cabala é apenas um sistema, e pode ajudar a compreender e assimilar. O que é importante para nossos tempos é a alegria. Como há disposição por sentir, ela pode se fortalecer muito, mesmo diante de todos os desafios. A alegria pode e deve ser protegida.”

Origem judaica

Trata-se de uma sabedoria que busca mergulhar nas questões mais essenciais da humanidade a partir de ensinamentos ocultos extraídos das mais de 300 mil letras hebraicas dos escritos de Torá, livro sagrado do judaísmo que reúne os cinco primeiros da Bíblia. Segundo o conceito da cabala, as histórias de Torá têm ensinamentos mais profundos do que realmente está escrito. São lições sobre crescimento espiritual e de vida encontradas pela combinação de letras e números no estudo da guimátria, a numerologia judaica. Os textos fornecem metáforas para cura e crescimento na vida diária. Durante anos, foi um conhecimento pouco difundido, até que se tornou popular com adeptos famosos, como Madonna, Glória Maria e Luciano Huck.

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Duas perguntas // Nilton Bonder

 (crédito: Editora Rocco/Divulgação)
crédito: Editora Rocco/Divulgação

Percebe-se uma reaproximação das pessoas com a religião, de modo geral, na pandemia. Por que o senhor acha que isso tem acontecido e como a religião pode ajudar neste momento?
Acho que há uma aproximação com a vida interior. Estamos refletindo sobre vários valores e sobre as coisas materiais, os custos e o consumo. A religião pode ter uma função importante, se for corajosa para abraçar o genuíno desejo de evoluir, algo que as ameaças que estamos vivendo aguçam. O bem-estar físico é primordial na ameaça à saúde, mas o que fará a diferença, a médio e longo prazo, será o bem-estar espiritual. O ser humano pode mudar o curso da exploração e destruição de seu habitat se for capaz de voltar-se para dentro. No seu interior, há recursos que vêm sido buscados e extraídos exclusivamente do mundo externo da natureza.

Como o senhor vislumbra o mundo pós-pandemia?
Vamos ter, inicialmente, uma corrida ao velho normal. Acho que, depois de um período celebrativo, vamos cair na real de outras ameaças que nos rondam e dos custos da alienação. Sem fantasias mágicas ou ingênuas, mas o mundo pisou no acelerador para importantes e profundas transformações. Não é só uma pandemia, é o momento em que o mundo acordou para realidades que demandam mais coletivo e maior humildade. Tudo é profundamente interligado, e não saberemos mais suportar as ilhas desconexas e sem noção da vida.

Cabala e a arte de
preservação da alegria
De Nilton Bonder. Editora Rocco, 144 páginas. Preço médio:
R$ 24,90.

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