Neurônios em dia

Estudos apontam: temos feito o possível para nos conectar na pandemia

O distanciamento social tem provocado o reconhecimento da importância de nossas relações sociais, interações que a ciência mostra um inequívoco efeito positivo sobre nossa saúde e longevidade

Ricardo Teixeira
postado em 29/08/2020 17:34 / atualizado em 29/08/2020 17:36
 (crédito: Fernando Lopes)
(crédito: Fernando Lopes)

Antes da pandemia, já vivíamos uma pandemia de solidão, especialmente na Europa e América do Norte. Em alguns países desses continentes, cerca de metade dos adultos vivem sozinhos. Latino-americanos, africanos e asiáticos têm uma tendência maior em viver em família. Atualmente, 16% dos lares brasileiros têm apenas um morador, enquanto na Suécia esse índice é de 40%. Em Estocolmo, capital do país escandinavo, encontramos 60% dos lares com apenas uma pessoa.

Antes da pandemia, havia a estimativa que dois terços dos americanos se sentiam solitários. A mesma metodologia utilizada nos estudos pré-pandemia continuou sendo aplicada nesses últimos meses de quarentena, e a expectativa era que essa percepção de solidão fosse crescendo. Mas as pesquisas recentes não têm mostrado isso.

Quando se coloca a afirmação “Eu recebo o suporte emocional e social que eu preciso”, não houve piora nas respostas do inicio do ano sem quarentena e após a deflagração da pandemia. Houve até um leve incremento da percepção de suporte emocional e social após o início da quarentena entre americanos adultos estudados. E isso foi confirmado por um estudo que incluiu adultos de 28 países. Outra pesquisa realizada na Alemanha apontou que houve, no primeiro mês da quarentena, uma maior percepção de solidão, seguida por um declínio desse sentimento. Isso sugere que o súbito isolamento social promoveu uma adaptação rápida às circunstâncias, provavelmente por meio do incremento de outras formas de conexão com o outro. Sozinhos, porém, não solitários.

O distanciamento social tem provocado o reconhecimento da importância de nossas relações sociais, interações que a ciência mostra um inequívoco efeito positivo sobre nossa saúde e longevidade. Além disso, muitos estão se dando a oportunidade de ações voluntárias no apoio aos mais vulneráveis de suas comunidades, gerando um senso importante de pertencimento de um todo. Estudos mostram que após o fatídico ataque terrorista de 11 de setembro, os americanos mostraram-se mais solidários e gentis. A pandemia pode estar trazendo a experiência coletiva de que estamos todos no mesmo barco.

É fato que essa é uma tendência quando se analisa um grupo, mas, individualmente, há aqueles que sofrem mai,s como os que vivem sozinhos ou que apresentam uma doença crônica incapacitante. Sofrem mais também as gerações mais novas, homens e residentes em países como uma cultura individualista.

Até o momento, não temos evidências que mostrem que o afastamento social tem nos tornado mais solitários. Certamente, as plataformas digitais que permitem interações com as pessoas importantes de nossas vidas têm sido grandes trunfos para enfrentar a Covid-19.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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