Bichos

Mantenha os felinos nutridos e hidratados

Gatos não podem ficar muito tempo em jejum, principalmente, sem beber água. Especialistas orientam o que fazer caso isso ocorra

Uma das preocupações de quem cria gato é fazer com que ele beba água e não fique um longo período sem comer. E não é à toa. Os bichanos apresentam maior risco de ter doenças relacionadas aos rins — estima-se que a cada três felinos, um passará por algum problema renal ao longo da vida. O primeiro fator é fisiológico. “Ele tem menor quantidade de néfron, que é a unidade funcional do rim, ou seja, a estrutura responsável pela formação da urina no órgão. Um gato, por exemplo, tem metade da quantidade de néfron de um cachorro”, explica a veterinária Elaine Bonfim.

Ela justifica o fato de os felinos beberem pouca água com a ancestralidade. “Eles viviam em áreas desérticas e, por consequência, sobreviviam com menos líquido.” Ao longo dos anos, os bichanos mudaram a forma de se alimentar. “Antes, o gato selvagem tinha hidratação pela forma que se alimentava. Ao comer uma presa, um pássaro, por exemplo, ele se hidratava e ganhava proteína”, complementa.

Hoje, vivendo em apartamentos ou casas, os hábitos mudaram. Elaine dá algumas dicas para ajudar na hidratação. Um delas é evitar potes estreitos para pôr a água, pois esses animais têm bigodes muito sensíveis e isso pode incomodar. “Acrescente patês e sachês na alimentação, porque são comidas úmidas”, ensina.

De acordo com a veterinária, por causa da fisiologia e dos hábitos, há maior probabilidade de os gatos terem lesões e cálculos renais. “Os tutores devem prestar atenção, principalmente, aos sinais comportamentais, como fazer xixi fora do lugar – na almofada, no tapete – ou não comer.”

A secretária Jacqueline Brandão, 30 anos, tem uma gatinha de 4 meses, e faz de tudo para ela beber muita água. “Como a Lolla é bem ativa o tempo todo ela está bebendo. Eu sempre procuro trocar a água durante o dia para manter a temperatura”, conta. Lolla come bem pela manhã e à noite, mas passa o dia beliscando. “Ela quase não fica em jejum, pois eu sempre deixo ração no potinho”, diz.

Jejum e porção

Além dos problemas de hidratação, os bichanos podem apresentar dificuldade para comer. O gato é um animal que, via de regra, quando sente dor ou algum outro desconforto, não reclama por meio de sons. Segundo Cecília Prado, coordenadora da ONG Clube do Gato, em Brasília, para saber se ele está bem, é preciso prestar atenção. “A falta de apetite é, com certeza, um dos sinais mais relevantes. Logo, se ele não quer comer, a primeira recomendação é levar ao veterinário”, alerta.

Diferentemente de outros animais, o jejum pode ser muito prejudicial ao gato. “Bastam três dias sem comer para que ele desenvolva lipidose hepática, uma infiltração de gordura nas células do fígado. Caso não seja tratada a tempo, pode morrer”, afirma.

Segundo Cecília, a quantidade de refeições que o gato deve ter por dia é bastante polêmica e não há um consenso. “Na ONG, os veterinários especializados em felinos indicam que, caso o animal não tenha nenhuma necessidade de saúde associada a uma dieta mais restrita, o consumo é livre. Ou seja, deixe ração à vontade ao longo do dia.”

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Você sabia?

A síndrome de Pandora – ou cistite intersticial – caracteriza-se como o conjunto de sinais clínicos e distúrbios do trato urinário inferior de felinos. Eles podem fazer xixi fora do lugar, apresentar sangue na urina, demonstrar dor ao urinar ou obstrução uretral. Essa síndrome ocorre, principalmente em gatos que vivem confinados, que têm sobrepeso, vida entediante, sem muito espaço ou lugares para subir ou se esconder. Somado a isso, uma alimentação inadequada e com pouca ingestão de água. Essa enfermidade tem caráter crônico e o diagnóstico é feito após a exclusão das demais possíveis doenças do sistema urinário. O nome faz referência à caixa de Pandora, da mitologia grega, pela complexidade e multiplicidade de órgãos e sistemas afetados, bem como a falta de informações consistentes.

Fonte: Pet Love e Shop Veterinário, lojas on-line

Dicas de hidratação

Forneça mais ração úmida. Um truque é sempre acrescentar mais água no sachê e bater no liquidificador para aumentar porcentagem de líquido no alimento.
A possibilidade de sobrepeso pode ser controlada fornecendo mais alimento úmido. Estudos recentes mostram que, considerando a mesma quantidade de ração seca e de úmida (sachês, patês, etc.), a seca contém aproximadamente quatro vezes mais calorias.
É preciso observar outros fatores que influenciam a ingestão do alimento, como textura e tamanho dos grãos. Tudo tem de estar de acordo com as necessidades do bichano. Deve-se oferecer sempre um alimento de alta qualidade e próprio para a condição.
Se for oferecer um novo alimento, é importante fazer a troca gradual seguindo a recomendação do fabricante, pois a mudança repentina pode causar transtornos digestivos e dificultar a aceitação do novo produto.
Gatos são mais receptivos aos alimentos quando oferecidos em ambiente adequado e familiar. Por isso, é bom nunca colocar a vasilha de comida perto da caixinha de areia em que ele faz as necessidades.
Os felinos são preguiçosos para beber água. Algumas dicas importantes são espalhar mais potes de água pela casa (não restringi-los a apenas um local) e investir numa fonte de água, para mantê-la fresca e corrente.
Se não puder comprar uma fonte, coloque a água em vários potes diferentes — vidro, cerâmica ou inox — para que o animal decida a preferência. Ponha pedrinhas de gelo para estimulá-lo a brincar com elas e, ao mesmo tempo, hidratar-se.
Gatos são animais de hábitos noturnos e muitos podem querer comer ao longo da noite. Assim, preste atenção, pois há a possibilidade de ter de deixar o alimento disponível durante a madrugada.
Ao oferecer um alimento úmido como petisco, é possível misturá-lo ao seco ou ofertar em um recipiente separado. Porém, o alimento úmido não deve ficar exposto por mais de 30 minutos. Sobras devem ser descartadas e o comedouro, higienizado com água e sabão.
Avalie o motivo por que seu bichano não quer comer.

Fontes: Cecília Prado, coordenadora da ONG Clube do Gato em Brasília, e Flavio Silva, médico veterinário.