O armário cápsula é, literalmente, coisa do século passado, mas nunca esteve tão na moda. O conceito, criado pela estilista Susie Faux, na Londres de 1970, popularizou-se no desfile de Donna Karan, na década de 1980, que apresentou apenas sete peças básicas — e que se complementavam, tornando a coleção estilosa e prática. Voltou à tona em 2013, quando a blogueira norte-americana Caroline Joy montou seu armário cápsula sazonal.
“Ela compôs um armário bem reduzido — 37 peças — e se comprometeu a usar apenas essas roupas por uma estação inteira, ou seja, três meses. Como postava os looks do dia, todos viram que, apesar do número limitado de peças, o guarda-roupa rendia muitas combinações diferentes. A partir daí, as pessoas começaram a tentar montar um armário cápsula” explica Bruna Brito, 35 anos, consultora de moda e estilo e dona do Instagram e site Vestir Autêntico.
O conceito consiste, basicamente, em um armário com quantidade reduzida de roupas, selecionadas especialmente para durar, atender a diversas ocasiões e render várias combinações. Quando o termo ganhou força, eram sugeridos de 30 e 40 itens. Para Ana Carolina Rosignoli, 27, empresária e sócia-proprietária do Desapeguei Bonito, ele define-se não só pela quantidade de peças como, também, pela consistência das roupas, das combinações e do uso delas. “O mais importante é entender o armário cápsula como um movimento de desapego e sustentabilidade.”
Bruna afirma que não há mais regra ou limites de peças atreladas ao conceito, mas, sim, o objetivo de construir um armário enxuto, com 100% de aproveitamento e uso. Vale lembrar que sapatos, bolsas e acessórios, como brinco, colar, anel, lenço, cinto, chapéu, fazem parte desse ideal — só não entram na contagem pijama, lingerie e roupas para prática esportiva.
Vantagens cápsulas
Para Bruna, uma das grandes vantagens é a praticidade. “Com um armário limitado, em que tudo combina com tudo, escolher o que vestir fica fácil e rápido. Além disso, vivemos em um mundo em que o consumo é hiperestimulado. Essa pode ser uma ótima experiência para quem costuma comprar muito e por impulso.”
O estímulo da criatividade é fundamental, assim como treinar o olhar para desenvolver novas combinações e encontrar formas de estilizar o look. Deve-se prestar mais atenção à curadoria, aos tecidos, aos caimentos e às modelagens das roupas. Resolver a equação entre o mundo exterior e o universo dos cabides é chave para que a técnica tenha êxito. “O armário cápsula pode ser uma ótima ideia para quem está em processo de mudança, seja corporal, seja de vida, como iniciar em um novo emprego”, avalia Bruna.
Quem deseja consumir menos e de maneira sustentável pode experimentar esse conceito. “A indústria da moda é, hoje, uma das principais poluentes do mundo”, lembra Ana Carolina. Com peças duradouras, repeti-las diversas vezes vira tarefa fácil. “O armário cápsula não precisa ser um objetivo para todos, as pessoas têm necessidades e formas diferentes de consumir. O simples fato de entender que é possível comprar e viver com menos é revolucionário em muitas camadas”, defende.
Escolha consciente
Há pelo menos dois anos Ana Carolina tem um armário funcional, que atende às suas necessidades. “Foi um processo e uma mudança de percepção sobre minhas roupas e meu estilo. A primeira motivação está relacionada à criação da minha empresa, um brechó de peças contemporâneas fundado em 2015. As primeiras roupas vendidas eram minhas, que estavam paradas.”
Naquele momento, montar um armário cápsula não era o objetivo da empresária, mas foi o primeiro passo para entender que poderia viver com menos. Naturalmente, seu consumo de roupas diminuiu e ela passou a fazer melhor uso do que já tinha.
Isso não significa um guarda-roupa sem graça. As roupas precisam permitir variações e combinações e é viável fazer isso com peças coloridas ou estampadas. “Tenho um caso de amor com o conforto, por isso, nunca vão faltar uma calça jeans e um tênis coringa. Essas peças são um bom exemplo de roupas versáteis, que permitem inúmeras combinações. Gosto de ter mais opções de blusas, porque calças ou shorts são mais vezes usados. Tenho algumas opções de sapatos baixos, assim como de terceira peça, que normalmente são mais chamativas. Bolsa só uma preta e pequena para o dia a dia”, resume Carolina.
Apesar de não ter um guarda-roupa com a quantidade de peças necessária para o cápsula, Bruna Brito considera o seu compacto. “Reduzi muito o meu acervo nos últimos anos. Já tive oito portas de guarda-roupa. Antes de a consultoria entrar na minha vida, tive uma fase superconsumista, mas não tenho vergonha dela. Inclusive, ajuda-me a entender melhor as minhas clientes”, explica.
Para a série que fez em sua conta do Instagram, montou um armário com peças que atendiam às demandas do seu home office, e passou um mês usando apenas os artigos selecionados. “Escolhi apenas um tênis e uma bolsa, já que, devido à pandemia, quase não saio de casa. Peguei uma peça chave — uma jaqueta, que dava tanto para usar em casa quanto na rua. Como é estampada, a escolha da paleta de cor foi a partir dela. Assim, garanti que tudo combinasse.” Bruna preocupou-se em selecionar tecidos confortáveis e que não amassem fácil.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte