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Seu cão ingere fezes? Saiba o que é a coprofagia

Veja o que fazer quando o animal tem o hábito de comer fezes ou beber urina. Ele pode estar com problemas fisiológicos ou comportamentais

Manuela Ferraz*
Tayanne Silva*
postado em 09/09/2020 17:00 / atualizado em 30/10/2020 05:47
Apesar de Bellinha (c) ter coprofagia, os filhas dela, Mel e Tucca, não herdaram o hábito -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Apesar de Bellinha (c) ter coprofagia, os filhas dela, Mel e Tucca, não herdaram o hábito - (crédito: Arquivo Pessoal)

Pegar o cão comendo cocô ou bebendo xixi não é, exatamente, uma situação agradável. Esse comportamento pode assustar, mas saiba que a primeira coisa a se pensar é o porquê de ele está fazendo isso. O ato de comer fezes é denominado de coprofagia canina e requer alguns cuidados diários por parte dos tutores.

Segundo a veterinária Rosana de Aguiar, são muitas as causas que provocam essa atitude no animal — fisiológicas ou distúrbios comportamentais. “Se você fornece uma grande quantidade de alimento, uma única vez ao dia, isso pode sobrecarregar o sistema digestivo dele e, consequentemente, predispor a uma má digestão”, exemplifica. “Assim, as fezes podem apresentar um alto grau de produtos alimentares não digeridos. Mais tarde, sentindo fome, o cão pode se alimentar dos dejetos.”

Outra situação é quando o comedouro não é individual. “Um pet consome a maior quantidade de alimento, deixando pouca ou nenhuma comida para o outro animal. Assim, o que não comeu bem recorrerá às fezes do que se alimentou melhor, pois ele eliminou os nutrientes nelas”, diz. Rosana explica que, quando a alimentação apresenta baixos níveis proteicos ou é desbalanceada, pode acarretar fome no pet, que, posteriormente, vai comer o cocô.

Quando a dieta apresenta altos níveis de carboidratos, como é o caso da maioria das rações, o intestino delgado não é capaz de digerir e absorver esse excedente. “O volume de fezes é aumentado, além de conter um nível de amido residual alto. Muitos cães têm atração por esse material, que parece ter um caráter lúdico, gratificante e de autorecompensa, além de ser saboroso para o animal.”

Segundo a veterinária, algumas doenças podem induzir a ingestão de fezes, como pancreatite exócrina ou síndrome de má absorção, ocorrência de vermes e deficiência de tiamina. “E, também, toda doença ou condição que provoque a polifagia (comer em excesso ou por fome excessiva) pode levar à coprofagia, por exemplo, diabetes melito e hipertireoidismo”, diz Rosana, especializada em clínica e cirurgia de pequenos animais.

Cuidados

A veterinária Raylanne Cássia explica que o comportamento de comer raspas de parede, grama, pedras ou cocô também tem a ver com raça — sobretudo, entre shih-tzu e lhasa apso — ou com a idade do animal. “Os filhotes podem ingerir coisas que vão encontrando pela frente. Contudo, quando é um adulto, o hábito de comer objetos estranhos está dizendo que está ocorrendo algo errado com o pet”, constata.

Segundo a profissional, é bom analisar a situação por inteira, com a ajuda do veterinário. “Quando é questão comportamental, às vezes, pode ter uma causa. O dono se mudou para uma casa nova? Afastou o animal de outro? O pet está ansioso e estressado?”, detalha.

A dica de Raylanne é não deixar as fezes expostas. Quando animal acabar de fazer as necessidades, imediatamente, recolhê-las para que ele não consiga comê-las. “Há medicamentos que mudam o gosto das fezes, isso pode ajudar. Além disso, comendo as fezes de outro cão, ele pode contrair doenças, caso o animal não esteja vacinado e vermifugado. Pode contrair viroses transmitidas pelos dejetos.”

Hábito antigo

Bellinha é uma lhasa apso que foi resgatada e adotada em 2011 pela designer de interiores Thais Mota, 29. Na época, a cachorra tinha aproximadamente 2 anos e já apresentava o hábito da coprofagia. “Ela, desde sempre, comeu as fezes. Quando fui ao veterinário, ele me explicou que era algo comum entre shih-tzus e lhasas apsos, que podia estar relacionado à alimentação — quando a ração não supre os níveis proteicos do animal ou é muito rica em fibras — ou ao comportamento, como ansiedade, estresse, para chamar a atenção ou até para evitar alguma punição”, explica.

Desde então, a tutora já trocou a ração de Bellinha diversas vezes, ministrou medicações e anticoprofágicos, mas nenhuma dessas alternativas gerou o resultado esperado. Segundo ela, apenas os passeios diários para evacuação são capazes de amenizar os episódios de ingestão de fezes. “Antes, eu conseguia passear com ela todos os dias. Agora, tenho feito só o recolhimento das fezes com mais frequência.”

Mel e Tucca, de 7 anos, são filhas da lhasa apso e também fazem parte da família da designer. Apesar de conviverem diariamente e apresentarem uma ligação de sangue, elas nunca chegaram a reproduzir o hábito da mãe. Thais acredita que a coprofagia de Bellinha é uma condição comportamental ou até hereditária específica da cachorra.

Marca de mudanças 

A poodle Nanny, de 12 anos, é dona de uma história repleta de dificuldades. Antes de ser adotada por Márcia Elias de Almeida, 40, servidora pública, ela já havia passado por dois lares temporários e dois lares familiares. Essas mudanças deixaram marcas — e comportamentos — na vida da pet.

“Ela tem alguns comportamentos decorrentes das quatro adoções. Tem medo de ser abandonada novamente, é muito apegada a mim. Tem umas lambidas incontroláveis, choros desesperados. Então, eu trabalho à noite e fico de dia com ela” conta a tutora.

A coprofagia foi um desses sinais, percebido por Márcia logo no início da convivência. Após perder sua cachorrinha Magaly e encontrar o anúncio que divulgava a adoção de Nanny — que, na época, chamava-se Princesa —, a servidora tratou de levar a cadela para uma consulta no médico veterinário e pôr em dia as vacinas, a carrapaticida e os vermífugos. Como muitos comportamentos, como a ingestão de fezes, só apareceram durante a fase de adaptação, a tutora tomou a iniciativa de relatá-los à especialista e manter a cachorra em observação.

Quando constatada a coprofagia, a servidora recorreu ao uso de medicações veterinárias para o quadro de Nanny, suplemento vitamínico e florais. No entanto, as alternativas não melhoraram o hábito. “Algumas literaturas falam que os animais, assim como comem placenta ou filhotes mortos, alimentam-se de fezes para higienizar a área onde habitam.” Um dos maiores cuidados que Márcia mantém é recolher as fezes logo após a evacuação de Nanny.

 

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Possíveis razões comportamentais

 Isolamento: cães que ficam sozinhos por muito tempo são mais suscetíveis a desenvolverem coprofagia canina.


Confinamento: assim como o isolamento, ficar muito tempo trancado em um espaço pequeno pode fazer o cachorro comer cocô. É muito comum observar esse comportamento em cães que foram resgatados de abrigos.


Ansiedade: nunca esfregue o nariz do cão no cocô ou perto dele para ensiná-lo a fazer a sujeirinha no local correto. Esse método não é eficaz. Na cabeça do cachorro, significa que ele precisa sumir com o cocô que acabou de fazer ou vai levar bronca. Por isso, ele acaba comendo.


Tédio: cães que se exercitam (física e mentalmente) menos do que deveriam tendem a ficar entediados e podem começar a comer fezes.


Para chamar a atenção: sempre que vemos nosso cachorro comendo cocô, eles conseguem nossa atenção, mesmo que negativa. Quando ele fizer isso, procure não exagerar na reação.


Associação inapropriada: alguns cães que se alimentam perto do local onde fazem cocô podem associar as fezes com comida.

Fonte: Dog Hero, loja de animais

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