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O pioneiro inventor

Engenheiro, que chegou a Brasília durante a construção da cidade, cria os vasos flutuantes, que permitem que as plantas fiquem sem regar por meses

Renata Rusky
postado em 24/09/2020 17:44
 (crédito:                     Carlos Vieira/CB/D.A Press                )
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press )

Gil Guimarães se diz poeta, filósofo, engenheiro e pioneiro. Ele chegou ao Planalto Central em 1959, contratado pela Novacap para fiscalizar as obras. Aqui, conta, não tinha nada. Em uma pequena casa de dois quartos, dois banheiros, em que ficavam ele e mais 10 pessoas. “Era triste. No máximo, jogava-se baralho, mas era sem graça”, relembra. Um dia, uma pessoa sugeriu que eles fossem se divertir em Taguatinga, onde muitas escolas estavam sendo fundadas e havia muitas professoras. Ele levantou-se contra o conselho, embora solteiro. E todos o aplaudiram.

Gil gosta de contar as histórias da construção da capital e até escreveu um livro com mais de cem contos, mas não o publicou. Ele conta que, na época, um pequeno mal-entendido fez com que um tipógrafo (aquele que montava os textos a serem impressos) fosse contratado no lugar de um topógrafo (aquele que reproduz detalhadamente um terreno) e garante que, graças a esse pequeno engano, temos a W3 como é hoje.

Há cerca de dois anos, o engenheiro tratou de inventar o que chama de vasos flutuantes. Neles, as plantas podem ficar sem serem regadas por 30, 60, 90 dias ou até mais, dependendo da necessidade de cada uma. Antes disso, o quintal da casa em que vive não tinha flores em vasos. Agora, parece uma poesia aos olhos. Aliás, no jardim, tem também frases dele, como: “Sábio é quem respeita o amigo e exalta suas menores qualidades”.

Mas a vantagem não é só não ter de regar. As plantas reagem melhor nos vasos de seu Gil. “Minhas plantas aqui dão flores o ano inteiro, graças aos vasos. Minhas orquídeas florescem quatro, cinco vezes por ano”, conta. Para Gil, ele está enganando a natureza, com água o ano inteiro.

Segundo o engenheiro, a invenção se baseia nos princípios de Lavoisier e de Arquimedes. Resumidamente, trata-se de um vaso comum com a planta, que fica dentro de outro maior com a água. O espaço entre eles é vedado e o vaso de cima tem cerca de quatro furos e não encosta no fundo do debaixo. “A quantidade de água que vai ser consumida por dia, quanto eu vou colocar no vaso debaixo, tudo, é matematicamente e fisicamente calculado”, afirma.

Em processo de patente, Gil sonha em conseguir vender uma quantidade de vasos suficiente para financiar um projeto antigo: construir um monumento aos pioneiros da nova capital. “A gente precisa exaltar a história do nosso país, da nossa capital e as pessoas que fizeram parte dela”, defende com os olhos marejados de indignação e emoção. Ele até enviou um projeto a um deputado distrital, mas não teve resposta. Para ele, isso tem de ser feito logo, enquanto ainda há pioneiros, como ele, vivos.

Mas nem só de hidratação as plantas vivem. Ele conta que se baseia no PAM, uma sigla que significa podar, adubar e medir. Portanto, é importante sempre retirar os galhos secos, fortalecer a terra e medir a quantidade de água e de tudo que é dado para o vegetal. A dedicação é tanta que o isolamento na pandemia, para ele, foi fácil. “O dia tem até pouco tempo para mim”, afirma.

Em breve, ele deve começar a comercializar os vasos. E uma de suas filhas já iniciou a divulgação. Fez um perfil no Instagram (@vasos.flutuantes) com uma bela descrição: “A vida já me deu muitas duras, então, não se assustem com meu jeito durão e fala forte, mas meu coração é mansinho e cheio de poesia”.

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