Fitness & nutrição

Criança em movimento: exercício para o corpo e para o cérebro

Os pequenos precisam se exercitar, mas o tipo de atividade deve ser adequado à faixa etária deles

Depois de quase três meses praticamente apenas dentro de casa e já decidida que Gabriel Becker, 5 anos, não voltaria à escola antes de uma vacina contra o novo coronavírus, a família do pequeno começou a sentir falta de atividade física na vida dele. A mãe, Carina Becker, 34, bancária, conta que resolveu, então, contratar um professor de educação física para fazer exercícios com o filho. “Nós tentávamos fazer brincadeiras em casa, depois começamos a descer uma vez ou outra por semana, mas não era a mesma coisa”, lamenta.

Gabriel estava acostumado a fazer as aulas regulares de educação física no colégio e, ainda, praticar judô e natação. Sempre foi uma criança muito ativa, exemplo que os irmãos gêmeos de 2 anos seguem à risca. “A atividade física é uma realidade para mim e para o meu marido, então, sempre estimulamos muito. Mas, do mesmo jeito que, para mim, fazer exercício em casa não é o mesmo do que na academia, para a qual não voltei, para ele, sozinho, também, não é”, avalia Carina.

Sem considerar outros fatores, como o próprio isolamento social, que distanciou Gabriel dos amigos e de familiares, Carina sentiu que o filho estava mais ansioso, e acredita que a falta de esporte era uma das responsáveis pelo comportamento dele. Com um mês de aulas particulares, ela sente a diferença. “Ele acorda mais animado. Depois, fica mais cansado e a rotina até corre melhor”, detalha.

Embora Gabriel já estivesse descendo do apartamento um pouco para brincar, Carina garante que não tem comparação com o que o professor faz com ele. “É diferente. Ele dá um direcionamento, ajuda a desenvolver disciplina”, elogia Carina, satisfeita com a alternativa, por dar mais segurança à família e permitir que o filho se movimente e se divirta.

O personal trainer Ludhi Moura conta que a preocupação dos pais com as crianças só ficarem no computador, no tablet e no celular é muito comum, o que leva muitos a o contratarem — especialmente, agora, durante a pandemia. Mas ele reforça que os pais serem ativos é um grande incentivo para as crianças.

Segundo ele, o objetivo raramente é emagrecer, mas, de fato, tirá-las do sofá. E, para ele, é mais importante levar para o lado da brincadeira. “Não dá para trabalhar igual a um adulto. A criança tem que se divertir, acima de tudo. Só assim ela vai ter prazer na atividade física. Eu levo para o lúdico, que é mais interessante para ela”, explica o profissional.

Além disso, Ludhi procura se adaptar às preferências da criança. “Tem aquelas que gostam de futebol e querem ficar naquilo, mas outras preferem variar, aí eu levo skate, slackline. Vou vendo o que elas querem, do que gostam”, explica.

Faz bem para o cérebro
Se os adultos fazem atividade física, principalmente, para manter ou melhorar a forma física, é importante não bater nessa tecla com as crianças. “A gente vive uma cobrança social de estar sempre bem, magro, não pode ter nada fora do lugar e, muitas vezes, a gente passa a sensação para a criança de que ela também tem que fazer isso”, explica a pedagoga Mariangela de Paoli Menescal, coordenadora de turno do ensino fundamental no Colégio Marista João Paulo II.

Conscientes de que o exercício faz bem para o humor, por conta da liberação de serotonina, e para a saúde de uma forma geral, ela orienta os pais a ressaltarem isso ao conversarem com os pequenos. E aconselha a dar bons exemplos e sempre separar o que é do adulto e o que é da criança. “Uma menina que vê a mãe só comendo salada e carne para ficar bonita vai achar que tem que fazer o mesmo”, exemplifica. Para ela, a criança que ouve que certos alimentos engordam acaba se sentindo culpada por comê-los.

Mariangela reforça mais um dos benefícios do movimento para a criança: promover plasticidade neural. “Como ela está em uma fase de desenvolvimento cerebral, a atividade física ajuda o cérebro a fazer conexões nervosas novas, que têm a ver com o aprendizado”, detalha. A pedagoga pede paciência aos pais que se incomodam de a criança querer trocar muito de esporte: “Elas ainda estão formando a própria personalidade, testando as opções e descobrindo do que gostam.”