Neurônios em dia

Nossos sonhos estão diferentes neste período de pandemia

Resultados de uma pesquisa mostraram que os sonhos durante a pandemia estavam mais relacionados a sentimentos negativos, como tristeza e agressividade, quando comparados aos de antes do novo coronavírus

Ricardo Teixeira
postado em 13/10/2020 11:21 / atualizado em 13/10/2020 11:23
 (crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)
(crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

A relação entre os sonhos e a experiência do medo tem sido mostrada ao longo do tempo em diversas culturas. O que os nossos ancestrais interpretavam como conselhos de divindades, hoje a neurociência e a psicologia enxergam nos sonhos um mecanismo cerebral de processamento de emoções negativas com chance de aprendizado para preparar o indivíduo para os desafios do dia a dia.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, têm desenvolvido técnicas para interpretação do sofrimento humano por meio de aplicativos que analisam as entrelinhas dos relatos de sonhos. Eles analisaram, com a ajuda de softwares, áudios que voluntários gravaram em seus smartphones sobre o conteúdo dos seus sonhos no ano de 2019 e nas primeiras semanas do anúncio da pandemia em 2020.

Os resultados mostraram que os sonhos durante a pandemia eram mais relacionados a sentimentos negativos, como tristeza e agressividade, quando comparados aos de antes do novo coronavírus. No período da pandemia, a narrativa dos sonhos trazia mais ideias de contaminação e limpeza e as pessoas que expressavam esses conteúdos de forma mais robusta eram os que tinham maior dificuldade em se se adaptar à quarentena e que apresentavam maior sofrimento psíquico.

Outros estudos têm mostrado que as pessoas têm sonhado mais, e dois conteúdos bastante recorrentes nos sonhos têm sido ameaças de outras pessoas e tarefas mal executadas, como perder o controle da direção de um automóvel. Uma pesquisa realizada com 100 enfermeiros em Wuhan, na China, apontou que 45% estavam apresentando pesadelos, cifra duas vezes maior que a de pacientes psiquiátricos e muitas vezes maior que os 5% da população geral.

Estamos longe de um normal, não é?

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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