Encontro com o Chef

Pudim com gosto de afeto

Depois de receber o incentivo de um grupo de amigos que provou e aprovou sua sobremesa, goiana começa a vender o doce em vários sabores

Sibele Negromonte
postado em 22/10/2020 19:03
 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)

Uma das brincadeiras preferidas de Ana Tatielle Sousa Araújo, quando criança, era juntar as amigas e, sob o olhar vigilante da mãe, improvisar um fogão a lenha e preparar feijão, arroz e outras comidas do dia a dia. “A gente colocava uns tijolos próximos ao muro, uns gravetos e uma chapa de metal. Cada uma das meninas trazia os ingredientes e minha mãe supervisionava tudo.”

A inspiração para a brincadeira veio da avó Orninda, que costumava preparar as refeições em fogão a lenha — até mesmo os doces. Quando visitava a patriarca no sítio onde ela morava, no interior de Goiás, Tatielle ficava fascinada com a técnica e queria imitá-la. Passava horas observando e aprendendo.

Aos 11 anos, porém, a farra precisou ser interrompida: a garota se mudou de Goianésia, onde nasceu, para Brasília. “De repente, não tinha mais fogão a lenha nem amigas”, recorda-se. Mas a paixão pela gastronomia continuou, mesmo que como hobby, e as dicas culinárias da avó e da mãe, boleira de mão cheia, fizeram de Tatielle uma ótima cozinheira.

Quando terminou o ensino médio, a goiana começou a trabalhar numa clínica de massoterapia. Interessou-se por quiropraxia e fez um curso profissionalizante de shiatsu — técnica de origem japonesa que usa a pressão dos dedos ou das palmas das mãos para massagear determinadas áreas do corpo. Empolgada com a profissão que se abria, ingressou no curso de fisioterapia. Mas, quando estava no sexto período, uma gravidez de risco a fez trancar a faculdade. Miguel nasceu saudável, há três anos, mas ela decidiu ficar um tempo dedicando-se à maternidade. “Voltei a ser dona de casa, por opção.”

No início de 2018, Tatielle acompanhou o marido em uma confraternização do trabalho dele e, como não queria chegar de mãos abanando, levou um pudim, que acabou sendo o protagonista da festa. “Todos elogiaram e disseram que eu deveria vendê-lo, pois tinha gosto de infância.”

Iniciando um negócio

Aquilo ficou na cabeça da goiana e, ao conversar com uma amiga, recebeu não só incentivo, mas uma ajuda financeira para começar a produção dos pudins. Surgia, assim, o Cozinha 54 A. A princípio, ela só preparava o clássico, de leite, mas começou a fazer experimentos e, depois de muitos erros e acertos, desenvolveu um pudim de café — sua bebida preferida. “Por que não juntar duas coisas que eu amo? Levei minha mais nova criação para o mesmo grupo de amigos e, mais uma vez, todos aprovaram.”

Além de vender sob encomenda, Tatielle levou os seus pudins a um restaurante no Núcleo Bandeirante, que passou a revendê-los na sobremesa. Ela já estava com visitas agendadas para outros estabelecimentos quando os primeiros casos do novo coronavírus chegaram ao Brasil e todos fecharam as portas. “Passei uns dois meses congelada. Como tudo era desconhecido, as pessoas estavam receosas de fazer os pedidos.”

Mas ela não podia ficar parada. Começou a investir nas redes sociais, promover sorteios e outros atrativos, até que, também no boca a boca, a clientela não só voltou, como aumentou. “Também investi em embalagens melhores e mais seguras.” Hoje, o Cozinha 54 A oferece quatro tipos de pudins — além do tradicional e o de café, tem o de ninho e o de cacau, que ela também criou do zero — e caldas de chocolate com pimenta e compota de morango. As encomendas podem ser feitas com 24 horas de antecedência.

Tatielle também aproveitou a quarentena para fazer cursos on-line de panificação e confeitaria. Agora, ela e o marido, que a ajuda com as entregas, pretendem ampliar o cardápio. “Quero fazer tortas salgadas, outra especialidade minha.” E, em 2021, ela planeja iniciar a faculdade de gastronomia. “A minha maior alegria é quando alguém prova o meu pudim e diz que tem um gosto especial. É isso que eu busco: ativar a memória afetiva das pessoas.”

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Pudim de leite (clássico)

 (crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press)
crédito: Ana Rayssa/CB/D.A Press

Primeiro, prepare a calda
Coloque uma ou duas xícaras de açúcar em uma panela, leve ao fogo baixo e mexa para não empelotar ou queimar. Quando a calda estiver dourada, acrescente um pouco de água e mexa novamente. Desligue o fogo quando, ao pegar com uma colher um pouco da calda e devolver à panela, ela desça em forma de fio e não em gotas. Unte a forma com a calda e deixe esfriar.

Ingredientes (massa)
4 ovos
1 caixa de leite condensado (395g)
350ml de leite

Modo de preparar
Em um liquidificador, bata os ovos por 7 minutos. Depois, acrescente os leites e bata apenas para misturar.
Coloque na forma que está untada com a calda e ponha a forma dentro de outra. Acrescente água para fazer o banho-maria.
Coloque no forno, em temperatura baixa, por cerca de uma hora e meia, a depender do forno.

Serviço
Instagram: @cozinha54a
WhatsApp: (61) 9 9865-2760

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação