A pré-adolescência e a fase da puberdade são momentos naturais de descobertas e adaptações ao novo corpo e a um turbilhão de emoções. Nesse cenário, as relações com família e amigos também se transformam. Mas nada de taxar esse período de aborrecência. A transição da infância para a adolescência é, na realidade, uma vivência única, que deve ser aproveitada e respeitada.
Para Luciana Delella, psicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento, usar termos pejorativos não colabora para quem está em processo de transição, pois ele já se sente inseguro, achando que se trata de uma fase difícil. “O primeiro passo é pensar em quebrar rótulos e preconceitos. Precisamos investir mais na valorização desta fase tão importante da vida”, explica.
Tão pouco é correto afirmar que a adolescência é o momento do desenvolvimento mais difícil. Ao contrário do pensamento comum, pesquisas mostram que cerca de 80% dos jovens passam por ele sem grandes percalços. “Costumo dizer que é uma fase de despedida da infância, então, requer que se faça esse luto da infância e se vá em direção a um novo momento, que exige muita coragem, porque os atos e as responsabilidades do adolescente vão recair sobre ele mesmo”, completa.
Novidade para os responsáveis
O desprendimento que o jovem necessita pode ser motivo de angústia para os pais. Mas engana-se quem acredita que apenas os responsáveis sofrem com isso. “Claro que os adolescentes se assustam com o desprendimento da autoridade dos pais. Nesse momento, eles se sentem soltos no ar, inseguros.” E várias questões surgem. “Costumo dizer que eles já garantiram o amor dos pais e é como se dissessem: agora, vocês ficam aí, bem quietinhos, que vou ali no meu grupo de pares, amigos, garantir, também, o amor deles. Depois, vou unir todas essas bagagens que tenho para formar minha própria identidade, singularidade”, detalha Luciana.
Quando os adultos demonstram interesse pelo mundo do adolescente, ele tem uma tendência a se abrir e dar espaço para eles entrarem, porque se sente prestigiado e privilegiado. É possível comungar as diferenças entre gerações, inclusive falar sobre os medos e as experiências — até sobre a adolescência dos próprios pais — para se aproximar e diminuir tal insegurança.
Para Mariangela Sampaio, endocrinologista pediatra, todo momento de mudança é desafiadora e, com o adolescente, não é diferente. “É muito importante que a família esteja preparada para acompanhar e apoiar as transformações por que passam seus filhos, conversando de forma compreensiva em relação às angústias da idade e apoiando, com paciência, esse momento de transição, em que as oscilações hormonais influenciam a estabilidade dos seus filhos”, acredita.
Durante a puberdade, a manutenção de hábitos saudáveis de alimentação, atividade física, estudo e lazer são fundamentais. Outro ponto importante é o estabelecimento de limites claros sobre o tempo de exposição a telas e o cultivo de uma rotina saudável de sono. “Os maiores problemas psicológicos e emocionais enfrentados pelos adolescentes e suas famílias, atualmente, estão associados a maus hábitos de sono”, destaca a médica. Ela ressalta que é preciso estar aberto a discutir com eles, de maneira sincera e objetiva, temas de seu interesse. “Afinal, serão os adultos com os quais conviveremos daqui alguns anos. Merecem nosso esforço e boa vontade. Abaixo o termo aborrecência.”
Floral
Priscila Medeiros, fisioterapeuta, acupunturista e terapeuta floral de Bach, acredita que, em geral, toda família é impactada em fases de transição das crianças e dos adolescentes. E, sempre que uma mãe busca ajuda, ela sugere incluir florais no tratamento. Além disso, é grande simpatizante do trabalho terapêutico e acha extremamente positivo que tenham acompanhamento desde cedo.
“E, talvez tão importante quanto a criança, eu encorajo os pais a buscarem acompanhamento, também. É muito comum ver pais lutando para que os filhos tenham comportamento de adultos desde os primeiros anos de vida. Aceitar que crianças e adolescentes terão comportamentos que são típicos de suas idades é um passo determinante para manter a harmonia da família ao longo de todas as etapas da vida”, afirma.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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Vivência individual
Flávia Lira, 45 anos, neuropsicopedagoga e sócia parceira da filha mais velha, Érika Mayara Correia, na Neuroaprender, também é mãe de Athos Lira Araujo, 15, e Marcella Lira Araujo, 11, e entende como ninguém sobre as individualidades do momento de transição da infância para a adolescência. Com cada um dos filhos, acompanhou uma experiência diferente.
“Com minha filha mais velha, foi muito tranquilo. Eu me preparei muito, e ela foi centrada, organizada. É assim até hoje, aos 26 anos: madura e responsável. O do meio é hiperativo, ansioso, os hormônios afloram e ele é muito intenso, alegre e sensível. Oscila muito o humor, precisa de apoio, reforço positivo, suporte de segurança, auxílio para cumprir a rotina, estamos aprendendo juntos. Ele faz terapia, eu o escuto e tento ajudar. Combinados e limite estabelecidos juntos têm dado certo” diz ela. Já a caçula, Marcella, é intensa e questionadora, antecipa ações, faz planos, argumenta e negocia.
Flávia explica que, por vezes, é difícil para os pais darem liberdade às crianças, mas é necessário confiar na educação que proporcionaram. Diante de comportamentos rudes ou agressivos, é essencial conversar e perguntar como pode ajudar. “Muitas vezes, esses comportamentos geram culpa e frustração. O acolhimento é fundamental. Sensibilizar e ver o adolescente reconhecer que extrapolou é mais positivo do que simplesmente castigar e deixá- lo com raiva”, diz.
Educação positiva
O manejo parental auxiliado e mediado por uma terapeuta pode contribuir para a busca da sintonia e adequação familiar. Além disso, encontrar limites comportamentais de forma saudável e deixar a porta aberta para o diálogo são fundamentais, assim como os momentos de escapes e respeito à privacidade. Os jovens devem se identificar com a rotina. Esportes, atividades, bem como as escolhas, precisam ser significativas e ter identidade — não podem ser impostos.
Flávia acredita que os pais nem sempre vão acertar e, eventualmente, haverá conflitos. Nesses momentos, é importante lembrar que alguém deve ficar calmo. “É tarefa dos responsáveis amar, orientar, cuidar, dar limites, liberdade para se expressar e, principalmente, ouvir.” A educação positiva é inovadora e, segundo ela, fundamental. “Seja o melhor parceiro do seu filho”, aconselha.
Construção de laços
Mudanças físicas, como crescimento rápido, pelos no corpo e alterações na voz, foram os primeiros sinais da transição da infância para adolescência de Ivo T. Gico Neto, 12. “Se é assustador para mim, imagina para eles? Meu primogênito está com 1,75m e calça 42! Quando ele atende o telefone, eu me assusto. Quem levou meu menino? Sofia passa por essa transição mais lentamente e fico feliz que, aos 11 anos, ainda é bem criança” compartilha Gabriela Valadão, 35, empreendedora e digital influencer, que também é mãe de Maria Fernanda, 6, e Enrico Domingos, 3.
As mudanças sociais são, para Gabriela, desafiadoras e as que mais se prepara para lidar. Em sua casa, ela percebe que a falta de paciência e os questionamentos aumentaram, mas acredita que com quatro filhos que não têm celulares fica mais fácil promover interação e tentar prolongar, o máximo possível, a infância.
Ivo Neto, que sempre foi um menino tranquilo — tanto que era apelidado de Buda, quando pequeno —, tem demonstrado mais de sua personalidade e criado novos laços e afinidades com os pais. “Quando as mudanças de humor ocorrem, e o vejo mais ansioso ou impaciente, brinco: ‘são os hormônios, não é meu filho?’”, diz Gabriela, que também deixa claro que é normal se sentir frustrado e sempre se coloca à disposição para ajudar.
A empreendedora afirma que sua experiência prévia como professora de jovens nesta faixa etária contribuiu para entender a diferença que a presença dos pais faz em suas vidas. Gabriela considerava-se exigente, mas boa ouvinte, e tentava contribuir de alguma forma nessas questões.
“No fundo, sentia uma carência e, por mais que alguns se isolem ou peçam distância, tudo que querem é um abraço e alguém para escutar sem ser interrompido. Demanda muita paciência dos pais e, por vezes, percebia que não existia nenhuma comunicação entre pais e filhos e conseguia, com jeitinho, indicar uma ajuda. Cada família tem suas dores e sabores, nunca sabemos tudo.”
Para ela, os responsáveis são referência em vários aspectos, e esta fase necessita de equilíbrio para não exigir que os filhos sejam quem os pais desejam, mas, sim, quem eles realmente são. A aceitação é, em sua opinião, um quesito muito importante para aproximação durante este momento de mudanças e descobertas.
Rede responsável de apoio
Segundo Gabriela, que recebeu em 2018 o certificado de coaching parental para aplicar em casa, não há dúvidas de que as redes sociais são um novo formato de rede de apoio em nossos tempos, principalmente durante a pandemia. Em sua conta no Instagram, um dos tópicos abordados é, justamente, a maternidade.
“É comum, e muitas vezes inerente ao ser humano, se comparar. Sabemos que na maternidade acontece demais. Por isso, peço a Deus todos os dias para que me guie e que só fale o que for para o bem. Cada família tem seu processo, sua história, suas conquistas, seus ‘perrengues’ e sua velocidade: não se compare. Vejo como uma missão e amo meu propósito. Enquanto puder ajudar, estarei aqui”, afirma a digital influencer.
Um dos recentes episódios compartilhados em sua conta foi uma mudança que o filho mais velho fez no cabelo com produtos naturais. Ela quis mostrar que é normal querer fazer algo diferente e novo nesta fase. No entanto, para não invadir a privacidade dos filhos, Gabriela prefere dividir as teorias das leituras que faz e gosta, mas destaca que não há fórmulas e que a prática é diferente da teoria. “Tudo o que li na vida não me preparou para ser mãe de quatro filhos, sendo que o caçula foi um bebê com pé torto congênito, que teve de usar gesso por dois meses. Cada família é diferente, mas, com certeza, as leituras me acalmaram e esclareceram muitas coisas.”
Uma questão preocupante!
A psicóloga Luciana Delella destaca que os jovens de hoje sentem mais cobranças e pressões decorrentes das vivências nas redes sociais, que passam uma ilusão sobre a perfeição em todos os campos. Essa angústia pode ser percebida no aumento de transtornos mentais, como depressão, síndrome do pânico, transtornos de ansiedade e alimentares, e crescimento do número de suicídios na adolescência.
“Isso gera muita culpa no jovem, porque ele se vê obrigado/pressionado a atender a essa demanda proposta pelas redes sociais. E claro que isso traz ansiedade, na medida que não consegue atingir essa exigência. Então, ele se vê como alguém inferior, não capaz, quando, na verdade, sabemos que não é essa a questão”. Segundo Luciana, essa é uma preocupação para pais, profissionais da área da infância e adolescência, educadores e toda sociedade, uma vez que se torna uma questão de saúde pública.
Características da adolescência
Mudanças físicas — Um corpo que não é de criança, mas que também não é de adulto. Pode ocorrer um estranhamento ou desconforto em relação a ele durante a transição.
Novas reações — Algumas vezes, o jovem não reconhece algumas reações emocionais porque elas também são novas. Ele começa a reagir de uma forma diferente de como fazia em determinadas situações na infância diante do grupo de amigos, de familiares.
Urgência e desbravamento — O adolescente tem uma urgência de passar pelas vivências, e, às vezes, isso pode ser difícil de compreender, principalmente para os pais. Ao mesmo tempo, é bonito ver esse momento de desbravamento da vida característico da fase.
Construção de novos valores e referências — Aquela referência que tinha na infância já não serve mais, ficou inconsistente. Então, o jovem passa a formular e construir novos valores e referências. Claro que não é um processo fácil, requer questionar e, muitas vezes, abrir mão daquilo que teve como certo durante muito tempo.
Transição individual — O mundo apresenta exigências em relação ao adolescente. Muitas vezes, é esperado que ele dê respostas que ainda não tem, porque estão em construção. Cada um tem seu tempo de construção que é extremamente singular, individual e precisa ser respeitado.
Mudanças da puberdade
Mariangela Sampaio, endocrinologista pediatra, explica que a puberdade é o período em que a criança adquire caracteres sexuais secundários e é marcada, principalmente, pelo desenvolvimento das mamas e pelos, em meninas, e aumento do volume testicular e pelos, nos meninos. Com o crescimento da concentração de hormônios sexuais, surgem variações de humor e eventuais estranhamentos em relação às modificações corporais. “Tais fatos podem gerar ansiedade e comportamento questionador.”
Um importante fator para a determinação da idade de puberdade em ambos os sexos é a genética. Ela não só influencia o início, como seu ritmo de desenvolvimento. Fatores ambientais, conhecidos como desreguladores endócrinos, também podem influenciar e estão presentes em alguns cosméticos, embalagens plásticas e plásticos em geral, na contaminação de alimentos e pesticidas.
A idade média de início da puberdade, tomando-se a população geral, é aos 10 anos para as meninas e 11 para os meninos. “É considerada puberdade precoce aquela que se inicia antes dos 8 anos nas meninas e dos 9, nos meninos. Aqueles que têm puberdade iniciada entre 8 e 10 anos e 9 e 11 anos, respectivamente, denominamos de adiantada, não necessariamente patológica”, afirma Mariangela. Outro fator importante a ser considerado é o tempo de desenvolvimento da puberdade, que pode ser normal ou rapidamente progressivo.
“A puberdade precoce nas meninas pode ocorrer em maior proporção por motivos genéticos e idiopáticos, em que não se encontra uma causa patológica. Entretanto, para chegar a tal diagnóstico, é preciso excluir doenças do sistema nervoso central, como tumores. No sexo masculino, está relacionada com patologias em frequência muito maior e costuma ser encarada como um quadro potencialmente mais grave. Existem, também, casos de puberdade precoce familiar, em que ocorre uma mutação genética que pode ser transmitida de pais para filhos”, detalha.
Tanto a puberdade precoce quanto a atrasada devem ser investigadas pela possibilidade de serem causadas por alguma patologia. Para Mariangela, crianças com desenvolvimento em tempo normal devem ser acompanhadas pelo pediatra. “Uma área de atuação mais recente da pediatria é a hebiatria, dedicada exclusivamente aos adolescentes.” No caso de distúrbios da puberdade, é preciso a avaliação e o acompanhamento do endocrinologista pediatra, para estabelecer diagnóstico e terapêutica adequadas. “Para crianças que apresentem sintomas de ansiedade ou alterações psicológicas nesse período, é recomendável o acompanhamento por um psicólogo.”
União de abordagens
“Educar não é uma tarefa fácil”, é o que concluem a aromaterapeuta Nathalia Yurie Yamaguti Costa Katagiri, 34 anos, e o marido, Edson Katagiri, 40, servidor público. Algumas vezes, jovens testam limites e, para ela, é realmente na pré-adolescência e adolescência que a linha da educação se divide. “Ou você cria e educa seu filho impondo limites e fortalecendo vínculos formados ao longo dos anos ou você simplesmente o larga nos eletrônicos o dia inteiro — o que é cômodo, pois ele ‘não te incomoda’ —, comendo o que quiser, dormindo e acordando a hora que quiser, deixando que cumpra, ou não, as obrigações e não estabelecendo regras claras”, explica.
Na família dela, grandes transformações ocorreram este ano, como a mudança para a casa dos pais, que tem espaço para correr e tomar sol, e adaptação à nova rotina. As filhas, Júlia Kaori, 13, e Laura Yukari, 11, vivem exatamente a fase de transição da infância para a adolescência, e têm momentos que preferem se recolher e outros em que estão mais receptivas.
“Aquela fase de criança moleca, que gostava de correr na rua, andar de bicicleta, entrar na piscina, vai passando e dando lugar para a mocinha que prefere jogar on-line, fazer ‘calls’ com os amigos ou ficar sozinha no quarto vendo vídeos. O humor mudou — e muda —abruptamente, e os hormônios estão chegando para valer.” Os pais procuram viver um dia de cada vez e dar o suporte físico e emocional que as filhas precisam.
Aromaterapia
Há alguns anos, Júlia e Laura passaram a recorrer à aromaterapia. Hoje, após formação na área, a própria mãe define os protocolos utilizados nelas. “Na aromaterapia, fazemos um tratamento holístico, ou seja, observar o geral do ser humano, desde o campo físico até o emocional, energético, espiritual. Os óleos dão suporte para tudo isso. Alguns ajudam na autoaceitação; outros, no aterramento e centramento, para quando a cabeça está cheia de pensamentos e dúvidas diante de tantas mudanças. Também conseguimos trabalhar com a modulação de humor — os cítricos são ótimos para isso. Temos tido resultados incríveis com o uso dos óleos essenciais.”
Entre os resultados, Nathalia destaca a maior frequência de conversa com família e amigos, melhora do humor e externalização de dúvidas e inseguranças. “Conversamos sempre sobre trabalhar o que achamos que podemos melhorar e a importância do diálogo para estabelecermos um vínculo de confiança entre nós. É o mais importante de tudo.”
Outra abordagem que tem usado é a psicoterapia — que Nathalia acredita trazer benefícios para qualquer pessoa. Com a perda de conhecidos da família para a covid-19, socialização reduzida, aumento de insegurança, preocupação com a aprovação coletiva e outros sintomas, os pais ficaram preocupados, perceberam que a conversa não estava sendo suficiente, e as próprias meninas decidiram voltar para a terapia, que já haviam experienciado e recebido alta anos antes.
Consequências do isolamento
O ano de 2020 trouxe um grande desafio: as transformações hormonais, físicas e emocionais podem, agora, ser acentuadas pelo distanciamento social, em razão do novo coronavírus. No caso de Júlia, a introspecção acabou ficando mais frequente neste novo cenário, enquanto Laura, que sempre foi mais expansiva e comunicativa, teve um baque ao se afastar dos amigos.
Uma rotina que antes era baseada em idas à escola, momentos de recreação, encontros, conversas com amigos e professores e atividades extracurriculares agora dá lugar a longas horas na frente do computador e à saudade dos colegas. O estresse pode ser percebido pelo acúmulo e excesso de tarefas, falta de práticas físicas, adaptação aos novos modelos de avaliação, entre tantas outras cobranças impostas na realidade atual.
“São hormônios circulando e inseguranças diante de tudo que passaram este ano. ‘E se nunca mais voltar ao normal?’, ‘será que meus amigos também estão mudando, crescendo como eu cresci?’. Até esse parâmetro elas perderam. Não têm como observar o crescimento dos amigos que sempre estavam juntos. Não conseguem estabelecer comparativos entre elas. É realmente muito triste”, analisa a aromaterapeuta.
O poder dos florais
Priscila Medeiros, terapeuta, afirma que os floraos de Bach s]ao essências extraídas de flores que atuam em nosso corpo em nível vibracional, promovendo equilíbrio das emoções. “Sentimentos como mágoa, medo, raiva e frustração formam campos desarmônicos de energia que impactam em nossa saúde como um todo, gerando sintomas e comportamentos desconfortáveis. As essências florais são, então, usadas com o objetivo de restaurar essa harmonia por meio da energia sutil e vital extraída das plantas”, explica.
Vale destacar que não são medicamentos, pois seu princípio ativo não é baseado em compostos químicos extraídos das plantas, e que estão livres de efeitos colaterais, podendo ser usados em conjunto com outros tratamentos alopáticos, fitoterápicos ou homeopáticos. Para Priscila, a ação dos florais de Bach pode ajudar crianças e adolescentes a atravessarem transformações emocionais e físicas específicos de cada fase de desenvolvimento.
“Mas gosto sempre de reforçar que não existe um tratamento padrão, cada indivíduo passa por desafios particulares e devem ser tratados em suas especificidades, ou seja, um adolescente ansioso não deve ser tratado da mesma forma que um adolescente com problemas de autoestima”, diz ela, que também afirma ter recebido demanda crescente de auxílio na primeira menstruação das meninas. Neste caso, os florais ajudam, especialmente, a restaurar a confiança em si mesmas e a acolher com mais carinho e paciência a nova fase.
O tratamento deve ser feito de forma individualizada, após avaliação com pais, e, em alguns casos, diretamente com a criança e o adolescente. Mas, segundo a terapeuta, existem algumas essências recorrentes, como:
• Walnut — Colabora nos processos de transição, trazendo melhor adaptabilidade a mudanças e situações de enfrentamento do novo, como na transição da infância para adolescência.
• Impatiens e Beech – Dupla quase imbatível no tratamento de crianças e adolescentes irritados, sem paciência ou intolerantes.
• Gentian — Indicado para crianças e adolescentes que, diante das dificuldades, ficam tristes e desmotivados.
• Mimulus — Para crianças e adolescentes tímidos, envergonhados, que têm medo de enfrentar o mundo. Muito bom, também, para o tratamento daqueles que sentem medos concretos, como do escuro, de bichos, de dentista, de altura, de avião, etc.
• Chicory — Colabora nos casos em que a criança demanda muita atenção, é muito apegada à figura materna ou que se sente desprotegida quando se encontra só. É a gotinha do amor, muito útil nos casos de separação entre mães e filhos após o período de licença-maternidade — tanto para mãe quanto para o filho —, promovendo mais independência emocional.
• Clematis — Indicado para crianças e adolescentes muito aéreos. Util no tratamento integrativo do TDAH.
Além destes, Priscila destaca que a aromaterapia e a acupuntura ajudam o jovem, já que usam as potencialidades do próprio corpo a seu favor, bastando os estímulos corretos — por meio das agulhadas nos pontos de acupuntura ou dos aromas específicos — e esperar que o corpo reaja e reencontre seu equilíbrio.
O esporte como aliado
A mudança da pandemia também veio para o pequeno Ravi Magalhães Oliveira, 10 anos, que ficou bastante tempo sem praticar atividades físicas. Os pais perceberam certa apatia e aumento de peso e optaram por incluí-lo em um programa com o personal que já treinava a mãe, Camila Magalhães de Lacerda, bancária, 36, e a fazia se sentir motivada e cheia de energia. “No início, ele foi resistente, mas o profissional teve muita paciência e carinho e criou um programa com atividades muito parecidas com brincadeiras”, diz ela.
O treino inclui bananeiras, atividades para pular com uma perna só, pendurar-se em alguns locais, pular corda e, no fim das contas, acabou virando uma atividade prazerosa e divertida. “É um momento em que ele se desconecta do mundo virtual e tem um tempo para desenvolver a consciência corporal.” A prática de exercício frequente também trouxe benefícios como regulagem do sono, redução dos eventos de pesadelo, aumento de concentração nas aulas virtuais, perda da compulsão alimentar, melhora no humor e tem se mostrado fundamental para o início da transição da infância para adolescência de Ravi.
Equilíbrio entre amor e disciplina
Para Camila, foi surpreendente perceber o início de um certo dueto do filho aos 10 anos de idade. Ela explica que é como se estivesse lidando com duas pessoas dentro de uma só: enquanto um se comporta como criança e demanda atenção, o outro tem muita autonomia e quer ser cada vez mais independente. Neste momento, o diálogo, que desmistifica uma série de tabus, tem sido importante para que ele se sinta seguro e à vontade para compartilhar angústias, dúvidas e alegrias.
A mãe nutre uma relação aberta, com estímulo da prática da comunicação não violenta e não subestima a capacidade de entendimento de Revi. Em recente episódio, ela resolveu falar com o filho sobre como se sentia confusa com as repentinas mudanças de humor dele. “Ajudou-me a entender que, assim como eu, ele também está com dificuldade para lidar com essa montanha-russa de sentimentos, que, segundo ele, são os hormônios. A conversa nos fez perceber que esse é um jogo que, para vencer, precisa de toda a equipe e muita resiliência.” Isso não significa que as mudanças de humor tenham reduzido, mas seus impactos, agora, são menores no dia a dia.
O desafio tem sido encontrar o equilíbrio entre o amor e a disciplina, já que também precisam de limite e direcionamento. A empresária costuma brincar com o filho dizendo que é melhor lidar com os sentimentos de frustração em casa do que mais velho, na rua. “Ensinar o não é um ato de amor”, afirma. Sua crença é de que a atenção é primordial, pois todos que vivem em um ambiente amoroso e seguro se sentem melhor.