Bichos

A família cresceu. E agora?

Saiba como tornar tranquila a adaptação de um novo animal em casas que já têm outros pets

Maria Carolina Brito*
postado em 06/11/2020 21:37
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

 

A chegada de um pet em casa é motivo de alegria, mas, às vezes, o período de adaptação pode trazer algumas complicações, principalmente se a família já tiver um animal. O adestrador Robert Bajdbouj, da Adestradog (@adestradog), conta que 70% dos atendimentos de sua empresa são por esse motivo. “Várias famílias adotam o pet, depois não sabem o que fazer com ele.”

Um primeiro passo fundamental, que, geralmente, as pessoas não fazem, é apresentar o novo pet aos que já fazem parte da família antes de levá-lo definitivamente para casa “Assim, ele não pensará que sua residência foi invadida por um estranho. E, sim, que está recebendo um visitante conhecido”, justifica Robert.

Ele conta que é comum o tutor dar mais atenção ao novo animal, mas isso pode prejudicar a relação. “Dê atenção aos dois (ou mais), faça o animal mais antigo participar da rotina do que acabou de chegar”, pontua. A atenção deve ser redobrada com animais de portes diferentes, pois, caso haja briga, o menor poderá sair ferido.

As dicas do profissional para que a relação vá melhorando são simples: treinamento, caminhadas, uma dinâmica na qual os dois possam compartilhar a convivência com a família. “Com trabalho e dedicação, tudo se resolve.”

Amor achado na rua
O gato Cabeção, de aproximadamente 12 anos, foi dotado por Daniel Dias Bastos dos Santos e Edivania Dias Bastos, após viver durante muito tempo na rua. Os dois iam levar o gato para ser castrado e, depois, devolvê-lo ao mesmo lugar, mas perceberam que ele estava com a perna machucada, então o levaram para casa, começaram a cuidar e decidiram adotar o bichano.

A família, que trabalha com adestramento, na Foguete’s Serviços Pet (@foguetesservicospet), já tinha cinco gatos e dois cães. E tomou algumas medidas quando Cabeção chegou. “Primeiramente, nós o deixamos em um cômodo separado, e evitamos que tivesse contato visual com os outros gatos e cães. Por algumas semanas, ele vocalizou bastante, e ficava agressivo nos horários em que costumava ‘passear’ pelos telhados. Foi necessário muita paciência, uso de florais, musicoterapia e respeito ao tempo do gato.”

Alguns estudos apontam que o gato leva até três meses para se adaptar, ou seja, “entender” que aquele, agora, será o seu território. Esse processo se inicia no momento em que o novo animal chega à casa. “O segundo passo foi a aproximação com os outros felinos. Gatos não são animais de grupo, nem de fazer ‘amiguinhos’, portanto, essa aproximação deve seguir algumas etapas, sempre observando os sinais corporais dos gatos residentes e do que chegou.”

O momento de aproximação com os outros gatos é a fase olfativa. É recomendado que sejam feitas associações positivas, como brincadeiras e petiscos, entre os animais. O contato olho no olho deve ir acontecendo aos poucos, usando barreira física, antes que estejam juntos. “É sempre importante ter algum responsável para intermediar a situação. E o final de cada processo deve ser sempre positivo — só não acontecer nenhuma intercorrência já é algo positivo. Em relação aos cães, de início, é interessante mantê-los na guia, deixar que se observem, também com associações positivas”, explicam Daniel e Edivania.

Distribuir pela casa prateleiras e locais de descanso para os gatos é fundamental, pois eles terão áreas seguras quando não quiserem interagir. Em casas com muitos gatos e cães, é importante espalhar os recursos, potes de comida e água, caixas de areia, caminhas e lugares para dormir, para evitar conflitos.

Lembrando que, mesmo quando todos já estão juntos, a adaptação continua. É importante observar a rotina fisiológica de todos os animais — se estão comendo bem, bebendo água, usando o banheiro. “O animal recém-chegado terá hábitos que talvez os outros não tenham, então, a adaptação também é importante para que nós nos ajustemos ao novo gato ou cão. Cabeção, muitas vezes, sobe na mesa ou no fogão para procurar comida, então precisamos mudar algumas coisas de lugar, em vez de punir. E, quando ele sobe, sempre o direcionamos para o chão com petiscos ou brinquedos.”

Sempre cabe mais um

Em junho deste ano, Jade foi adotada pela enfermeira Leda Xavier Nunes. Antes disso, a cadela era criada pela sogra de Leda, que, por conta da idade, não aguentava a energia do animal — mestiço de pastor alemão e pastor de malinois — e decidiu doá-lo. “A Jade era muito travessa. Ela pegava todas as roupas no varal, atacava as plantas e fazia uma certa baguncinha lá na casa.”

Leda conta que já tinha outras duas pastoras, Ayla e Lua, grandes e ciumentas, e, por isso, teve receio. Mas sabendo que é comum as pessoas desistirem da adoção, ela resolveu, com o marido, acolher Jade na família. “Eu tinha medo que alguém adotasse e depois não desse conta dela e a jogasse na rua, ou até fizesse alguma maldade. Cachorros não são objetos, são seres vivos que têm sentimentos. Eu não suportaria ficar sem saber o que tinha acontecido. Meu coração sossegou na hora em que eu botei a Jade aqui em casa, ela é uma cachorra maravilhosa.”

A enfermeira completa que a adoção de Jade foi um ato de amor, como toda adoção deve ser. “É muito maravilhoso. Só quem passa por isso pode dizer.”

Ajuda profissional

O processo de inserção de Jade na família foi intermediado pelo adestrador Rafael Mota (@bomdogbsb). Leda conta que tiveram a ideia de mandar as três cachorrinhas (Ayla, Lua e Jade) para o hotel, onde seriam socializadas. Elas ficaram por duas semanas. Rafael conta que o fato de as cachorras terem sido apresentadas em um ambiente neutro foi fundamental para o sucesso da adoção. “Fazer essa apresentação em um local em que não haja objeto de disputa — geralmente o motivo causador dos conflitos entre os cães, assim como territorialidade. É o ambiente onde ele vive e vai querer dizer ao novato, de forma imponente, que é dele, ou ao próprio tutor, no caso de cães ciumentos.”

Seguindo cuidadosamente as orientações de Rafael, Leda diz que o processo foi mais fácil do que imaginavam. “Neste momento, não pode ficar fazendo carinho demais em uma ou em outra. Ele me deu uma série de orientações. Fomos seguindo, e tem sido muito melhor do que eu esperava. De vez em quando, elas se pegam um pouquinho, mas brincadeira de cachorro grande é meio bruta.” Se não puder fazer a apresentação dos cães em um hotel, isso pode ser feito na rua. O importante é que seja um ambiente que não proporcione disputas.

“Sugiro, também, que seja feita uma caminhada de 20 minutinhos, para cansar o animal, aí ele diminuirá essa possessividade em relação ao tutor e estará um pouquinho mais aberto a conhecer um outro cachorro. Assim, a gente já consegue apresentar os cães e tem uma probabilidade maior de socialização entre eles”, conta Rafael.

Outro ponto importante é ensinar aos cães alguns comandos, para impor limites. “Imagina um cachorro que acabou de ser adotado junto de outro que não te obedece? Ele não espera você colocar comida, é ansioso... isso é receita para dar tudo errado.” A comunicação com o pet é fundamental.

* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

 

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