Movimentos do invisível
Angel Vianna, referência absoluta no meio das artes e das terapias corporais, vive no presente. Não gosta de deixar nada para o amanhã.
Mestra de milhares de pessoas que passaram por suas escolas e faculdade em mais de meio século de prática, sua obra se manifesta nos corpos que encontrou, e cada um deles carrega em si seus ensinamentos. Muita gente descobriu o próprio corpo por meio dela, percebendo possibilidades infinitas e efetivamente tomando posse dele.
“Por que fiquei tão encantada com o corpo?”, pergunta Angel, para em seguida responder: “Porque é meu instrumento de viver”.
A artista e educadora influenciou o pensamento sobre o corpo no nosso país tanto no universo das artes cênicas quanto num espectro mais amplo da sociedade: atores, músicos, coreógrafos e bailarinos estudaram com ela, assim como terapeutas e profissionais das mais diversas áreas.
Entretanto, apesar de ser referência da dança contemporânea, ter impactado a arte brasileira, atuado na luta pela inclusão de pessoas com necessidades especiais, na reabilitação física, muita gente ainda não teve a oportunidade de conhecer o universo dessa adorável mineira.
Mulher visionária, precursora das noções de consciência e expressão do corpo, segue ativa e plena de planos aos 90 anos e pode, agora, ser vista no documentário Movimentos do invisível. O filme sobre a mestra, que faz do exercício da presença sua vida e obra, é o primeiro dirigido por Leticia Monte e Flávia Guayer.
A ideia era retratá-la num documentário que mostrasse o seu trabalho, que resulta do contato direto com as pessoas, e ao mesmo tempo dialogasse com seu fluxo de pensamentos e personalidade única. E ainda encontrar uma forma de mostrar como sua proposta revolucionária e libertadora se apresenta e seu processo experimental e impalpável acontece.
A partir dessa premissa, a opção foi acompanhá-la em suas “aulas do papel”, filmando de perto como se a câmera-espectador fosse mais um participante daquela experiência. Nessas aulas imersivas de longa duração, ela passa por vários conceitos que permearam sua pesquisa e trabalho. Estimula a expressão individual, contribuindo para que cada indivíduo tenha a coragem necessária para assumir seu corpo e se relacionar com o outro, num movimento que busca liberar esses corpos dos colonialismos culturais, por meio de práticas somáticas.
Aos registros foram acrescentadas entrevistas e imagens de seu arquivo pessoal e de acervos públicos, mostrando sua longa trajetória, num processo que traz novas leituras com a distância do tempo e mostra a relação entre sua vida e obra.
Ao longo de dois anos de convivência, Angel seguiu ensinando, às cineastas, muito mais do que foi possível colocar na tela. Sua curiosidade pelo humano, sua inquietude artística e sua liberdade de questionar e buscar entender o mundo à sua volta toca a todos que têm a chance de conhecer um pouco mais desta artista de vanguarda ocidental.
Precursora de tantas pautas contemporâneas a partir de sua própria experiência de vida, como a emancipação feminina, a inclusão de pessoas com deficiência, o acolhimento da diversidade, a transdisciplinaridade e performatividade nas artes, Angel nos mostra que, ao estarmos presentes no aqui e agora, atentos aos nossos sentidos e relações, podemos encontrar o sentido da vida.
Minha parceira da série jovens pensadores desta semana é Leticia Monte, diretora e produtora de filmes e pesquisadora do corpo e suas formas de expressão.
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