Muito associada ao público infantil e a uma brincadeira, a patinação é um esporte técnico, completo e competitivo. “Trabalha a capacidade cardiorrespiratória, o equilíbrio, a percepção corporal”, cita a professora de educação física e de patinação Fátima Figueiredo. Com modalidades diferentes que podem ser escolhidas de acordo com o perfil de cada um, a atividade pode ser praticada por pessoas de diversas idades. E uma vantagem: em tempos de coronavírus, não exige tanto contato.
Há seis anos, Maria Vieira Alves, 51 anos, aposentada, patinou pela primeira vez. “Desde criança, eu queria, mas não tinha a possibilidade financeira nem um lugar onde eu pudesse praticar”, conta. Um dia, caminhando pelo Parque da Cidade, o marido lhe mostrou um grupo de pessoas equipadas: era uma aula, da qual Maria logo passou a participar.
Dois anos antes, havia comprado um patins do tipo inline (com quatro rodas, uma atrás da outra), mas ele ficou encostado, sem uso. De lá pra cá, comprou um melhor, menos duro (mas do mesmo tipo), e até já ficou em terceiro lugar em uma competição de rua.
Cindya Pardo, técnica de patinação da equipe Jaguar de Brasília e da Seleção Brasileira de Patinação Velocidade, explica que a atividade física dá ganho de força e é um aeróbico de qualidade, que exercita os membros inferiores, o core e exige bastante da lombar. “O movimento do braço ainda é importante para ajudar no equilíbrio”, esclarece.
Subir no patins e, de fato, aprender foi a realização de um sonho para Maria. Mas ela também precisou enfrentar o medo. Com cuidado, incentivo e técnica da professora, deu certo. “O medo vai sumindo e a gente vai pegando segurança, vai superando. Hoje em dia, ando sozinha”, afirma. Até tentou estimular o marido a patinar junto, mas eles descobriram que realmente não “era a praia dele”.
A aposentada conta que a patinação foi tomando conta da vida dela. Patinava todo fim de semana e, há seis meses, também durante a semana, graças à aposentadoria. “Ficamos em abstinência, quando o parque fechou. Quando reabriu, veio aquela vontade de voltar, esperei mais um tempo e voltei individualmente”, conta.
“A gente não pode dizer que é velha para nada. É ter força de vontade, enfrentar os obstáculos e fazer, mas com cuidado, com responsabilidade e assessoria técnica”, recomenda. Ela conta que caiu há cerca de um mês e meio, mas os equipamentos de proteção evitaram que se machucasse. “Tem que usar, porque uma coisa é uma criança cair, outra somos nós.”
Cindya reforça que é possível patinar em qualquer idade, a partir dos 4 anos. “Mas é um processo e é preciso acompanhamento”, afirma. Ela ainda ressalta que o esporte é interessante para quem tem problema no joelho, pois o patins absorve o impacto.
Inline x Quaad
A modalidade de velocidade é feita no patins inline, aquele com quatro rodas, uma atrás da outra. Já o patins quaad, que tem duas rodas na frente e duas atrás, é mais voltado para a patinação artística, apesar de também existir a modalidade no inline. Cindya Pardo explica que ambas são bem diferentes. “Mas a base é a mesma. Tem que ter todas as habilidades: girar, pular de frente, de costas.”
Para ela, o quad é mais difícil. Embora ele dê mais estabilidade em pé, quando se começa a patinar, o movimento é mais complicado. Henrique Pamplona, ex-atleta da Seleção de Patinação Artística, professor de patinação artística na Sociedade Esportiva Palmeiras e de educação física, afirma que são bases de estabilidade diferentes, mas que a patinação artística é também uma forma de expressão.
A professora Fátima Figueiredo ainda explica que o quad promove mais atrito, portanto, para andar em lugar mais áspero, é pior. “É melhor num salão, em uma quadra poliesportiva de piso liso”, afirma.
Seja qual for a escolha de cada um, Henrique reforça que não há restrição. “Pessoas com malformações de pisada, que não conseguiam ficar em pé no início, evoluem bem. Vai cada um em seu tempo de aprendizado. A patinação é, e deve ser, trabalhada de forma inclusiva”, garante.
De pai e filha
Se o marido de Maria descobriu, por meio da mulher, que não levava jeito para a patinação, a situação foi diferente para Henrique Bandeira, 48, comerciante. Ele começou a patinação artística há seis anos por causa da filha, que praticava em uma academia dentro da escola, a Espaart. Henrique considera que o esporte foi um presente na vida de ambos. “Nunca tinha me imaginado fazendo isso”, conta. O pai queria incentivar a filha a continuar praticando e achou que dar o exemplo era a melhor opção.
Separado da mãe da menina, as aulas também seriam mais um momento para ele e a filha ficarem juntos. “Isso nos aproximou muito, ficamos mais afinados. E, ali, a gente esquece do mundo, motivando um ao outro”, comemora. “Sempre fiz atividade física, acho importante e quis passar isso pra ela. O esporte ajuda a ficar forte física e mentalmente, a encarar as dificuldades da vida de uma forma melhor.”
Para Henrique, além de toda técnica, a patinação ensinou ambos a controlarem o medo, “porque o medo da queda existe”, e a entenderem que, se cair, é só levantar. “É um aprendizado para a vida”, garante.
Segundo o comerciante, a patinação artística mistura o esporte com uma experiência lúdica, que se aproxima bastante da dança. “Nela, a gente trabalha o viés performático, o competitivo e a expressão”, explica. Além de ter melhorado a flexibilidade, a força física e o equilíbrio, Henrique relata que as duas horas de aula na semana são de diversão, em que não vê o tempo passar, e lamenta quando acaba.
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