Mudanças são comuns na vida das mulheres e, geralmente, refletem de forma direta na maneira como elas se vestem. Se há mudanças de cidade, de emprego, de relacionamento, a principal ideia que vem à cabeça é mudar totalmente o guarda-roupa e começar outro do zero. Porém, existem soluções mais simples e práticas de fazer essas mudanças.
Os estilos das pessoas mudam com o passar dos anos. Marina Vilarins, empresária e designer de moda formada pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), conta que os casos mais comuns são quando a mulher passa pela transição de vida de estudante para a de profissional formada.
“É supernormal que o nosso estilo mude ao longo da vida. Por exemplo: uma mulher entra na faculdade e tem um estilo mais despojado, gosta de tênis, camiseta e jeans. Depois de formada, ela assume um cargo de chefia em uma empresa onde o código de vestimenta é completamente formal”, diz Marina.
Esse processo deixa muitas mulheres em dúvida na hora de se reinventar e passar uma outra imagem. Marina explica que, quando isso acontece, significa que existe a falta de autoconhecimento tanto com o corpo quanto com o estilo. “Às vezes, vemos uma mulher com uma roupa maravilhosa, e queremos um look igual. Só que não prestamos atenção ao mais importante: o corpo dela não é igual ao nosso, e muito menos o estilo.”
Outra situação para que essa identificação não aconteça é quando a compra de determinada peça é feita por impulso. Viu na vitrine, achou bonito, barato, comprou e não usou porque não combina com nada do que já tem em casa. A peça fica apenas ocupando espaço. “Provavelmente, você comprará a roupa e tentará usá-la, mas, ao se olhar no espelho, não vai haver identificação”, explica a designer.
Autoconhecimento é essencial
Natasha Marques, designer de moda formada pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) e consultora de estilo pelo Senac, diz que outro motivo para essa não identificação é não ter o autoconhecimento. “O desconhecimento do próprio estilo induz à aquisição de produtos de forma menos assertiva, podendo gerar uma falta de identificação com o que existe no armário”, conta. “Seja qual for a intenção final, conhecer seus estilos é primordial.”
Segundo ela, a mudança no vestuário tem ligação direta com a imagem que a pessoa transmite. Além disso, todas querem se sentir confortáveis e confiantes com suas próprias roupas. “As mulheres desejam aliar seu gosto à sua imagem, transmitindo sua personalidade por meio do modo de se vestir”, conta Natasha.
Essas mudanças causam insatisfação com as próprias roupas. Porém, é difícil, e quase impossível, mudar um guarda-roupa do dia para a noite. A orientação da consultora, caso isso aconteça, é utilizar painéis com looks. “Crie produções que gerem interesse por meio de referências encontradas na internet ou em revistas. Esse exercício de observação ajuda a nortear o gosto pessoal”, aconselha Natasha.
Além de ajudar na hora de montar os looks, o painel facilita saber o gosto real de cada um, como as texturas, cores e modelagens que mais atraem. Dessa forma, quando você adquirir alguma peça nova, vai fazer uma compra mais consciente e com menos chances de erros. “Os looks selecionados devem estar de acordo com o estilo de vida da mulher, de forma que sejam facilmente utilizados em seu dia a dia”, explica a consultora.
Segundo Gizelle Melo, administradora formada pela União Pioneira de Integração Social (Upis) e consultora de imagem e estilo pela Fashion Campus, sempre é bom fazer um limpeza no armário e tirar aquilo que não usa mais. “O guarda-roupa fica mais agradável e organizado. É importante refletir se o que você usa está coerente com o seu estilo de vida, tornando suas escolhas mais estratégicas e assertivas.”
Por isso, ela dá a dica: “Quando estiver prestes a comprar algo novo, veja se está de acordo com o que você já tem em casa e com o seu estilo”.
Dicas das especialistas
Saiba um pouco mais sobre tecido, procure conhecer se ele vai ter uma boa durabilidade, tentar comprar menos itens da “modinha” e mais peças atemporais. Saber se aquela peça específica transitará com facilidade no seu guarda-roupa e na sua rotina.
Para evitar o desperdício de roupas e, consequentemente, de dinheiro, é necessário foco para não se deixar levar pelo tentador mundo fashion, com gastos supérfluos. A indústria está frequentemente induzindo as pessoas ao consumo, sempre com novas tendências e lançamentos. Com isso, é fácil se tornar uma “vítima da moda”. Por isso, também é indicado pesquisar antes de qualquer compra, para que elas não sejam feitas por impulso.
A maioria das pessoas utiliza apenas 30% do que possui no armário. Portanto, para dar fim às peças inutilizadas, é interessante fazer um bazar ou doações, pois uma roupa parada pode ser a que falta no guarda-roupa de alguém.
A reflexão sobre o meio ambiente é muito importante, já que por trás das roupas que compramos está a produção em massa para atender o consumismo e os resíduos químicos provenientes desse processo. O mercado da moda é um dos mais poluentes do mundo. Por esse motivo, é importante começar a exercitar um consumo mais consciente das roupas que vestimos.
Como otimizar o guarda-roupa?
Para a consultora de imagem Gizelle Melo, uma roupa comprada de forma inteligente e assertiva ajuda na hora de compor os looks. De certa forma, essas escolhas fazem parte de todo um processo de autoconhecimento que facilita na empreitada de se vestir de acordo com a sua personalidade, estilo, momento de vida e objetivos pessoais e profissionais.
Gizelle conta que o primeiro passo é praticar o desapego. “Retire tudo o que não faz mais sentido, faça doações ou até mesmo um bazar. Aposte também em itens diferentes que sempre quis usar”, aconselha. “Sair da zona de conforto e ousar, incluindo acessórios, lenços, maquiagens, sapatos para mudar a produção e trazer mais essência e autenticidade para o visual”, aconselha a consultora de imagem.
É um processo de transição, que, de acordo com ela, acontece de forma mais rápida quando se tem autoconhecimento. Por isso, Gizelle recomenda conhecer o próprio corpo, os estilos com que se identifica, as cores que a favorecem e a imagem que quer transmitir. Não é tão simples quanto parece, e nem sempre essas mudanças são aceitas de forma prática.
Para evitar o consumo desenfreado e sem estar de acordo com o que você já tem em casa, as especialistas sugerem a criação de um guarda-roupa cápsula. É um termo na moda utilizado para dizer que menos pode ser mais. “Usar e abusar da criatividade para ousar nas combinações e montar looks diferentes com as mesmas peças”, resume Gizelle.
Natasha acrescenta que todas as novas compras devem ter possíveis composições com as velhas. “Ao comprar novas roupas, uma dica preciosa é ter em mente que cada peça adquirida deve montar, no mínimo, três looks com peças que já estejam no armário”, explica.
“Sabe aquela camisa de botão? Use de várias maneiras: totalmente fechada, com nozinho na ponta, ou até mesmo abrindo mais os botões e deixando o ombro à mostra. Respeite o seu estilo e ouse”, recomenda Gizelle.
Para quem não consegue colocar as dicas em prática e tem dificuldade para se vestir, o melhor a fazer é investir em uma consultoria de imagem. Vai ajudar a entender mais o próprio estilo, como montar um guarda-roupa otimizado e facilitar na hora de adquirir peças novas.
Uma questão de autoestima
“Escolher uma roupa para sair de casa em diferentes ocasiões ou entrar em uma loja de roupas e me sentir completamente perdida e sem ideia por onde começar a olhar”. Era assim que a Ana Carolina Valadão, 25 anos, formada em direito, sentia-se antes de decidir mudar o guarda-roupa.
Ela conta que, às vezes, passava horas no shopping, não encontrava nada que caísse bem ou que gostasse. E o que era pra ser uma ótima experiência acabava sendo cansativa e frustrante. “Sem contar nas peças do momento, que eu via on-line, no Instagram. Muitas vezes, ficavam bonitas em outras pessoas, mas, em mim, não ficavam legais”, relata Ana.
Por isso, decidiu buscar ajuda e investir mais na imagem. Ela procurou a consultora de imagem e estilo Fernanda Rocha e começou a trabalhar isso em si mesma. Nesse tempo, descobriu que se identifica com o estilo romântico, que é marcado por muita feminilidade. “Aprendi que isso não é uma limitação, mas uma inspiração. Existem peças do estilo romântico que não me agradam, assim como de outros estilos, mais femininos, que me atraem. Estou me conhecendo e aprendendo”, conta.
Para compor o visual, ela não abre mão dos acessórios. “Gosto dos acessórios na cor prata e peças que marcam a minha cintura, porque me valorizam bastante.”, comenta Ana.
Catherine Lara dos Reis Rocha, 29 anos, médica veterinária, decidiu mudar o seu jeito de se vestir quando se deparou com peças novas e nunca usadas dentro do guarda-roupa. “Sempre que colocava, não via sentido naquela roupa ou não me sentia bem. E eram peças que eu gostava muito, porém não conseguia aproveitar tanto, por não saber combinar cores e estampas.”
A consultoria com Fernanda Rocha, que oferece cursos de estio e biotipo, mudou a forma de Catherine enxergar as roupas. Hoje, Catherine consegue aproveitar mais as peças que tem, montar vários looks com diferentes propostas usando o mesmo item. “Comprei peças coringas que estavam faltando, e hoje me sinto mais segura para montar um look, usando combinações de cores e estampas”, conta. “Na hora de ir às compras, consigo identificar o que combina comigo e, assim, não fazer uma aquisição desnecessária.”
Hoje, ela se sente mais confiante e com a certeza de que está passando a imagem que gostaria, diferentemente do momento em que foi buscar ajuda. “No início, combinar cores e estampas me causava estranheza e, muitas vezes, não me sentia tão segura, mas já me acostumei e acho incrível essas combinações”, relata.
Catherine se identifica mais com o estilo casual (esportivo), que é pouco criativo, mas preza bastante pelo conforto e praticidade. A médica veterinária não dispensa uma jaqueta, short bem estruturado com tecido de qualidade, camisetas básicas e acessórios.
Dicas de quem aprendeu
Ana Carolina Valadão recomenda não ter medo e não ser cabeça-dura. Para ela, é fundamental estar aberta, disposta a ouvir e aprender, pesquisar e buscar ajuda profissional. “Às vezes, ficamos muito apegados a peças, cores e nos fechamos para o novo. Desconfie quando alguma peça não fica bem em você”, aconselha. “Se ela não faz se sentir feliz, está tudo bem, pode, inclusive, haver um motivo para isso. E, principalmente, não tenha medo de experimentar coisas novas. Às vezes, não gostamos quando está no cabide, mas, no nosso corpo, fica incrível.”
Catherine Lara aconselha procurar a ajuda de um profissional para auxiliar durante esse processo. “Ele vai conseguir enxergar e mostrar novas propostas e possibilidades. Com isso, conseguimos ter um consumo mais consciente e um melhor aproveitamento das peças que já temos em nosso armário”, ressalta a médica veterinária.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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