Beleza

Cuidados com a pele: um ato de amor-próprio

Manter uma rotina de skincare é uma forma de fugir da correria do dia a dia, olhar mais para si e escutar os sinais do corpo. Durante a pandemia, esses cuidados se popularizaram

Bruna Yamaguti*
postado em 21/02/2021 08:00
Victor Gabriel passou a compartilhar sua rotina de skincare no Instagram e ganhou 10 mil seguidores -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Victor Gabriel passou a compartilhar sua rotina de skincare no Instagram e ganhou 10 mil seguidores - (crédito: Arquivo Pessoal)

Em um contexto em que as pessoas se veem limitadas pelo isolamento social, queixas sobre os efeitos da rotina na saúde e na aparência tornam-se frequentes. Em meio a incertezas – e com mais tempo para achar ‘defeitinhos’ no espelho –, anseios podem surgir, assim como inseguranças que, antes, não tinham tanto espaço para causar preocupação.

Neste período desafiador, o autocuidado torna-se um forte aliado para ajudar a vencer a luta diária contra o desgaste, seja físico, seja emocional. A pele, maior órgão do corpo, pode ser a primeira a dar alguns sinais de que talvez as coisas não estejam indo muito bem. Saber escutar estes avisos e entender qual a melhor forma de dar ao corpo o que ele precisa é uma das maiores demonstrações de carinho com a pessoa que deve ser a primeira na lista de prioridades: você mesmo!

Usado para se referir aos cuidados com a pele, skincare é um termo da língua inglesa que se popularizou. Mais que isso: representa rituais de beleza que estimulam o amor-próprio de dentro para fora e de fora para dentro. Neste universo tão vasto, existem produtos para atender os mais diversos tipos de pele, que possuem texturas, cores, cicatrizes e necessidades bastante singulares.

Troca de experiências

Pensando em ajudar outras pessoas, algumas decidiram começar a dividir as próprias rotinas de autocuidado nas redes sociais. Foi o caso de Victor Gabriel, 23 anos, influenciador de Brasília que ganhou mais de 10 mil seguidores no Instagram (@peledevictor) nesta quarentena. “Comecei a cuidar diariamente da minha pele no final de 2018 e vi que estava trazendo resultados. Decidi compartilhar quais produtos usava na época porque, assim como eu, milhares de outras pessoas também sofrem com acne. Achei que essas informações seriam úteis”, conta o estudante.

E, para quem acha que o assunto é só para mulheres, está muito enganado. Cuidar da pele é um hábito para ser cultivado por todos e traz benefícios igualmente visíveis. “Meu público masculino cresceu 10% desde o começo da quarentena, o que me deixa bem feliz, porque vejo que os homens também estão interessados sobre a temática”, conclui o influenciador.

Por mais que o comércio voltado para cuidados com a pele seja tentador, é importante consultar um dermatologista antes de iniciar qualquer tipo de tratamento. Só um profissional será capaz de indicar os produtos ideais e que funcionarão melhor para você.

“Queimaduras, alergias, manchas e piora de quadros clínicos existentes podem ser consequência da utilização indevida de produtos sem orientação médica. Os principais erros que as pessoas cometem ao iniciar o skincare consistem na utilização de produtos não adequados ao tipo de pele, de maneira errada ou por tempo demais sem supervisão médica”, explica a médica dermatologista Cristina Salaro.

Ela conta que a principal queixa que tem recebido no consultório nos últimos meses é sobre a Maske, acne causada pela máscara de proteção facial. O acessório se tornou indispensável para frear a disseminação do novo coronavírus, mas o uso constante pode causar algumas lesões no rosto. O atrito do tecido com a pele, aliado à umidade e ao calor, são alguns dos fatores favoráveis ao surgimento de cravos e espinhas. O tratamento deve ser acompanhado por um dermatologista, mas alguns cuidados diários podem ajudar a prevenir e a cuidar das inflamações cutâneas.

“Minha pele tem história”

Maria Elisa segue uma rotina de cuidado com a pele do rosto há seis anos
Maria Elisa segue uma rotina de cuidado com a pele do rosto há seis anos (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)

A publicitária Maria Elisa Medeiros, 27, conta que começou a fazer skincare há seis anos, quando foi diagnosticada com acne adulta. As espinhas passaram a afetar a autoestima da jovem, que se sentia culpada pelo problema. “É uma doença que atinge muitas mulheres, mas me incomodava bastante, visto que não tive muita acne na adolescência”, conta. “Eu enxergava como um castigo e queria me livrar a todo custo. Agora, eu compreendo melhor os fatores que fazem ela surgir, sei que não é porque eu 'não me cuido direito' e, sim, que preciso respeitar o meu corpo.”

Hoje, as rotinas de pele de Maria Elisa, apesar de simples, fazem parte do seu dia a dia, ocupando um espaço especial no exercício diário de autocuidado e amor-próprio. “De certa forma, o skincare é um jeito de se autoapreciar, algo que ajuda a nos conhecer, nos respeitar e nos entender. Minha pele tem muita história, assim como a de todos também tem”, pontua a jovem.

Já a estudante Thaís Luiza, 21, sentiu a necessidade de começar a cuidar da pele durante a pandemia. O fato de ter que passar mais tempo em casa fez com que a ansiedade falasse mais alto, afetando diretamente a pele do rosto. “A quarentena me afetou de duas maneiras, primeiro foi na alimentação. Agora, eu fico mais tempo em casa e acabo comendo mais, principalmente alimentos com açúcar. A ansiedade me leva a procurar doces pela casa o tempo todo”, conta. “Eu comecei a sentir que devia cuidar mais de mim, focar mais em mim e me valorizar mais.”

Além disso, ela explica que as condições especiais nas lojas de cosméticos durante o período de isolamento influenciaram na busca por produtos para incluir na rotina: “O que me motivou a comprar algumas máscaras e até uma escova de esfoliação elétrica foi o frete grátis e as promoções. Vários amigos e influencers também começaram a divulgar receitinhas e produtos que gostaram, o que me incentivou bastante a me interessar pelo assunto”, diverte-se.

Efeito batom

Thaís Luiza sentiu a necessidade de começar a cuidar da pele durante a pandemia
Thaís Luiza sentiu a necessidade de começar a cuidar da pele durante a pandemia (foto: Arquivo Pessoal)

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), de janeiro a outubro de 2020, a categoria de cuidados com a pele do rosto teve um crescimento de 30,9% quando comparado com o mesmo período do ano anterior. Em meio à crise econômica instaurada devido à pandemia, o avanço do setor mostra que as empresas parecem nadar contra a corrente, visto que muitas passaram a ampliar a oferta durante o isolamento social.

Uma das empresas que observaram significativo aumento na demanda ao longo da pandemia foi a Creamy Skincare, marca especializada em criar fórmulas exclusivas para a pele do rosto, com preços acessíveis. “Tanto a procura por cuidados com a pele quanto o e-commerce cresceram durante a pandemia. O aumento da demanda somado aos atrasos de importações nos deixaram vários períodos com o estoque esgotado, mas 2020 foi um ano de muito crescimento para nós”, explica o médico e cofundador, Luiz Romancini.

Economistas definem como ‘efeito batom’ o fenômeno que explica a disposição dos consumidores para investir na beleza em tempos de retração econômica. Enquanto outros setores sofrem queda, a venda de cosméticos tende a crescer, sobretudo os produtos mais baratos e que causam impacto visual, como batons, hidratantes e sabonetes. “As pessoas passaram meses sem poder sair de casa, sem a necessidade e exigência de usar maquiagem, o que acabou direcionando os cuidados para melhorar aspectos da pele que, anteriormente, elas se contentavam em disfarçar com maquiagem”, completa.

Os perigos da busca pela perfeição

Embora cuidar da pele possa simbolizar um ritual de autoamor, é preciso ter cuidado para que isso não acabe se tornando uma obsessão. A busca pela ‘pele perfeita’ não deve ser o objetivo final, uma vez que esse é um conceito impossível de ser atingido. “Costumo dizer que tenho que ter a consciência de que não vou alcançar a perfeição, mas que ela precisa estar adequada ao que é necessário para mim hoje. Não posso acreditar que exista um padrão ou um modelo a ser seguido, porque não existe”, explica a psicóloga Daniela Braz.

A profissional alerta para o risco de doenças psíquicas que podem ser desenvolvidas com a distorção de imagem causada pelo excesso de preocupação em atingir padrões inalcançáveis: “Construir essa ideia de perfeição a ponto de aprisionar pode trazer consequências muito negativas, podendo levar a transtornos de ansiedade, problemas de autoestima e até uma possível depressão”, conta.

Por isso, é importante ter em mente que o skincare deve ser um elemento para aliviar a rotina e promover um encontro consigo mesmo, e não tornar os dias ainda mais cansativos ou a relação com o espelho mais difícil. “Os cuidados são para que você se sinta mais bonita ou bonito e para gostar mais de si mesmo, não só para que o outro veja, mas para que você se perceba como uma pessoa que merece ser cuidada.”

*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte

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  • Maria Elisa segue uma rotina de cuidado com a pele do rosto há seis anos
    Maria Elisa segue uma rotina de cuidado com a pele do rosto há seis anos Foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press
  • Thaís Luiza sentiu a necessidade de começar a cuidar da pele durante a pandemia
    Thaís Luiza sentiu a necessidade de começar a cuidar da pele durante a pandemia Foto: Arquivo Pessoal
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