Beleza

Queda de cabelo após covid-19: por que problema tem ocorrido

Especialistas estudam a possível sequela, mas afirmam ter sido comum o relato de pacientes que foram infectados pelo novo coronavírus sobre perda descontrolada dos fios

A pandemia da covid-19 pegou a todos de surpresa — uma doença que ninguém sabia os efeitos nem quais as consequências que o organismo teria ao entrar em contato com o vírus. Desde junho do ano passado, dermatologistas, terapeutas capilares e tricologistas estão com alta procura para tratar queda de cabelo. O que os pacientes têm em comum? Foram contaminados pelo novo coronavírus meses antes.

Segundo o dermatologista especializado em tricologia e que atua no Hospital Brasília, Eugênio Reis, os primeiros relatos começaram a surgir em junho de 2020. A procura cresceu, expressivamente, a partir de agosto, quando as pessoas que tinham se recuperado da covid-19 há dois ou três meses começaram a sentir outros efeitos colaterais.

Eugênio explica que essa queda de cabelo é entendida como multifatorial. Envolve os fatores de estresse, como a preocupação com a pandemia e ao fato de não podermos ter acesso aos momentos que vivíamos antes da quarentena. “Além disso, alguns pacientes apresentam uma perda de peso importante após a covid-19. E isso reflete na saúde dos cabelos.”.

De acordo com o dermatologista, aos poucos, a comunidade científica vai compreendendo como esses efeitos colaterais funcionam. Ele explica que existem três principais causas para a queda de cabelo após infecção pelo novo coronavírus: eflúvio telógeno agudo, alopecia areata e dermatite seborreica.

As principais causas

O eflúvio telógeno agudo (ETA) é o quadro mais comum. Ele explica que o cabelo possui ciclos — anágena (crescimento), catágena (degradação) e telógena (repouso) — e, por isso, é normal cair de 80 a 100 fios por dia. Quando o ETA surge, causa uma mudança abrupta nesse ciclo. Os fios não seguem o padrão e vão direto para a fase telógena. “O que leva a um aumento expressivo de cabelos que têm predisposição à queda”, detalha Eugênio.

“Febre, deficiências nutricionais, perdas de peso expressivas, utilização de vários medicamentos, doenças endócrinas, mudanças hormonais e estados de estresse que fogem ao comum do paciente são alterações que se refletem na saúde dos fios”, comenta o dermatologista.

A segunda patologia mais comum é a dermatite seborreica, mais conhecida como caspa. Causada pelo excesso de oleosidade e muito comum em áreas da pele que possuem glândulas sebáceas, manifesta-se como lesões vermelhas com escamas, descamação, casquinhas e feridinhas no couro cabeludo. “Esse quadro pode acometer a pele ao redor das orelhas, sobrancelhas, pálpebras, laterais e asas do nariz. Quadros mais amplos podem até envolver o tronco. Na maioria dos quadros, a dermatite seborreica está apenas no couro cabeludo”, esclarece Eugênio.

A inflamação que essa condição causa facilita a queda do fio, pois gera alteração nos germes naturais que vivem na região. Consequentemente, os fios não se fixam bem ao couro cabeludo. “Os fios não conseguem persistir por muito tempo nesse couro cabeludo inflamado, ficando mais curtos e finos.”

Já a alopecia areata (AA) é uma doença inflamatória crônica que causa quedas intensas de cabelo e pode abrir até buracos no couro cabeludo. Essa condição possui predisposição genética, mas o gatilho para tudo iniciar é o estresse psicológico, que mexe diretamente com o sistema neuroendócrino. “É uma doença autoimune dos cabelos, em que existe uma inflamação agressiva na raiz dos fios, região chamada de bulbo ou bulge capilar”, explica Eugênio.

Nos dias atuais, mesmo quem não foi contaminado, tem sofrido muitas mudanças comportamentais. O estresse aumentou, a ansiedade, o medo, angústia. Esses fatores diminuem a qualidade de sono, o que acarreta em uma má alimentação e, por fim, altera o seu ciclo capilar. A covid-19 acaba sendo um quadro que gera todo um desbalanço hormonal por causa do estresse psicoemocional agudo ou crônico que envolve essa condição.

Como perceber a queda?

De acordo com Viviane Coutinho da Rocha Monteiro, fisioterapeuta com especialização em tricologia, nossos melhores marcadores somos nós mesmos. “É possível perceber a queda ao manusear os cabelos, um número maior de fios se desprendendo, o afinamento dos fios e a quantidade de fios menores. Quando perceber esses sinais, esse é o momento de procurar ajuda profissional”, aconselha.

Ela recomenda cuidados que vão desde a exames complementares em dia até tratamentos terapêuticos que favorecerão o equilíbrio dos germes naturais do cabelo e recursos que estimulem nascimento, crescimento e redução da queda, como escolha de cosméticos, modo de higienização, entre outros.

Também é de extrema importância a mudança de hábitos. A tricologista recomenda sempre manter um sono tranquilo, escolher bons cosméticos, não prender muito os fios nem usar nada que potencialize a tensão capilar. “O importante é sempre unir hábitos saudáveis e conhecer e respeitar as necessidades do seu cabelo. Precisam caminhar juntos mente, corpo e alma saudáveis”, aconselha Viviane.

Karen Lima de Souza, 32 anos, trabalha na rede privada de saúde como auxiliar de serviços gerais. Em março de 2020, ainda no início da pandemia, contraiu o novo coronavírus. Ela conta que o cabelo sempre caiu por conta da ansiedade, porém, meses depois, a queda começou a ser de maneira excessiva. “O meu cabelo começou a ficar fraco e quebradiço. Mudei o xampu e cortei os fios achando que ia funcionar.”

Ela conta que só percebeu que era uma sequela do novo coronavírus no mês passado. “Minha mãe viu uma reportagem sobre isso. Então, caiu a ficha, pois mesmo tomando vitamina para crescimento de cabelo há quase um ano, a queda continua forte.”

Como tratar?

Valéria Prado, terapeuta capilar formada pela Academia Brasileira de Tricologia (ABT), diz que um dos tratamentos mais procurados após a queda expressiva de fios, depois da infecção pelo novo coronavírus, é a terapia capilar. “pode ajudar tanto na prevenção quanto no tratamento da queda. Ela atua na bioestimulação celular, de forma a neutralizar inflamações no bulbo capilar, que é a raiz do cabelo”, explica Valéria.

As técnicas e produtos mais procurados são: vacuoterapia, microagulhamento, alta frequência, vapor de ozônio, óleos essenciais, argiloterapia e fototerapia. “Na terapia, usamos também o laser ou led de baixa frequência, que têm efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e cicatrizantes. Eles ativam o processo de regeneração celular, normalizando o funcionamento natural das células e proporcionam um crescimento mais acelerado dos cabelos.”

A terapia capilar após a covid-19 funciona com espaços mais curtos entre as sessões e com estímulos de crescimento mais intensos. “Nesse caso, após o diagnóstico capilar, o primeiro passo é fazer com que o couro cabeludo volte ao estado saudável. Somente após essa regulação, inicia-se a parte de estímulos para crescimento de fios que resultam na substituição dos perdidos”, explica Valéria, que atua no JAZZ (@voce.jazz), um complexo de beleza, saúde e bem-estar especializado em tratamentos e terapias capilares.

A tricologista garante que é possível notar uma pausa na queda após as três primeiras sessões de tratamento. Por isso, os cuidados com os cabelos em casa não devem parar. “Produtos com ativos naturais específicos para o couro cabeludo e para o fio também dão rápidos resultados.” De acordo com ela, todos podem fazer terapia capilar. Porém, alguns estímulos têm restrições para gestantes, cardíacos, pacientes oncológicos, hipertensos, pessoas que não têm a pressão controlada, diabéticos, portadores de marca-passo e placas metálicas cranianas.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte