Neurônios em dia

Meninas são piores no xadrez que os meninos? Claro que não

Mas os estereótipos, comuns em gêneros e raças, pode fazer a diferença no desempenho de pessoas em atividades cotidianas

Ricardo Teixeira*
postado em 09/04/2021 11:20
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

Ameaça de estereótipo é um fenômeno em que uma pessoa experimenta insegurança e ansiedade pelo receio de ter um pior desempenho por fazer parte de um grupo com estereótipo de inferioridade. Estamos falando da raça negra e gênero feminino, por exemplo.

As pessoas que fazem parte desses grupos têm pior desempenho quando “lembradas” desses estereótipos. Esse é o caso de meninas em testes de matemática quando lembradas que os meninos são melhores em matemática. O mesmo ocorre se as meninas recebem alguma mensagem subliminar durante uma partida de que meninos são superiores no xadrez. Além disso, o estereótipo de um campeão de xadrez é o de um homem esquisito e não o de uma mulher graciosa.

Negros também têm pior desempenho em um teste cognitivo quando são avisados que a resolução do problema depende de habilidade intelectual. Negros carregam o estereotipo de que são menos inteligentes que os brancos. Pobres também carregam um estigma gigante.

A ameaça de estereótipos pode fazer com que mulheres não sigam uma série de carreiras que os homens são supostamente superiores. Pode fazer com que negros não desenvolvam plenamente suas habilidades cognitivas. Meninos também carregam seus estereótipos. Será que eles têm mesmo menores dons artísticos?

É fundamental a conscientização desse fenômeno por parte de pais e professores. Dar pistas para que se lembre da igualdade entre os gêneros e entre as raças pode fazer com que essas diferenças deixem de existir. E isso tem que acontecer desde cedo. Assim como no experimento do jogo de xadrez descrito acima, meninas já com oito anos de idade passam a se comportar de forma mais acanhada frente a uma figura masculina quando o assunto é negociação de uma premiação, semelhante ao que acontece entre adultos.

Isso foi recentemente demonstrado num estudo em que meninas e meninos tinham que negociar um prêmio após uma tarefa realizada. As meninas nas idades de 4 e 7 anos negociavam com um avaliador homem da mesma forma que o faziam com uma mulher, mas aos 8 anos já tinham uma demanda mais tímida frente a um homem. Com os meninos, essa diferença não existiu. Com o passar dos anos, as meninas passavam a pedir um número menor de adesivos como prêmio, mas quando a negociação era com um adulto homem. Isso pode ser explicado por sinais subliminares, ou não, passados ano após ano às crianças.

Ao negociar com uma mulher adulta, com a idade, as meninas passavam a requisitar mais adesivos e com maior persistência! E lembramos mais uma vez: entre os meninos não houve qualquer diferença se o avaliador era homem ou mulher.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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