Bichos

Uma questão de pele: o que caroços nos pets podem indicar?

Especialistas apontam as principais causas desse sintoma e alertam sobre a importância de os tutores estarem atentos

Raquel Ribeiro*
postado em 11/04/2021 08:00
Patricia Petri perdeu Olly para um tumor maligno: dez anos de convivência intensa e cheia de amor -  (crédito: Arquivo pessoal)
Patricia Petri perdeu Olly para um tumor maligno: dez anos de convivência intensa e cheia de amor - (crédito: Arquivo pessoal)

Apesar de ser comum encontrar caroços ao acariciar a pele dos animais, é necessário investigar, pois os nódulos podem significar problemas de saúde. “Costumamos dizer que a pele conversa com a gente. Como é o maior órgão do nosso corpo, ela mostra algumas coisas que podem estar acontecendo de uma forma mais sistêmica”, explica Ludmilla Humig, médica veterinária especializada em dermatologia.

A veterinária Rebecca Terra aponta que há várias etiologias para o aumento do volume na pele, sendo que as causas vão desde casos mais simples, como vírus ou bactérias, até mais graves, como tumores. Ela também destaca que o sarcoma de aplicação, uma reação inflamatória à aplicação de medicamentos, pode ser outro fator desencadeador para o surgimento de caroços. “Às vezes, a aplicação de alguma medicação pode causar um problema inflamatório grande no local e, por causa da multiplicação das células, acaba virando um tumor. É bastante comum em felinos.”

Segundo ela, a maior parte dos tumores de pele é genética, mas há também fatores que podem influenciar o aparecimento deles, como o excesso de exposição ao sol. “Cachorros de pele muito clara, que vivem no quintal, sem abrigo do sol, e que não usam protetor solar possuem uma probabilidade maior de desenvolverem tumores de pele. Mas isso não exclui a possibilidade de pets com a pele escura terem o problema também.”

Rebecca enfatiza que os tipos de verruga podem variar em relação à idade do pet. “Enquanto os animais idosos estão mais suscetíveis a câncer, os jovens, normalmente, têm verruga causada pelo papiloma vírus. De um modo geral, dependendo de onde estão instaladas e se o animal tem um bom sistema imunológico, ele tende a conseguir combater esse vírus sozinho, sem evoluir para um quadro mais grave.”

Pele dos animais

Embora não haja predisposição racial para o desenvolvimento de nódulos, existem animais com maior sensibilidade a problemas de pele. “Os braquicefálicos, isto é, aqueles caracterizados por um focinho mais achatado, possuem maior predisposição de desenvolver alergias, pois têm uma pele mais sensível”, elenca Ludmilla.

A veterinária recomenda que os tutores usem xampus e pomadas próprios para cada espécie, pois existem alguns componentes químicos dos produtos de cachorros, por exemplo, que podem ser tóxicos para o gato e causar sensibilidade. “A utilização de itens para humanos também pode gerar um desequilíbrio na microflora da pele de animais, causando o que a gente chama de desbiose, que não só altera o ph como também abre portas para infecções secundárias e alergias”, exemplifica.

Quando remover

Na hora de decidir remover as lesões, é necessário avaliar o tamanho e onde estão localizadas. Se estiverem situadas na boca, por exemplo, a alimentação do pet pode ser comprometida. Além disso, se o animal tiver contato com o local, pode coçar ou morder a verruga, causando feridas. “Algum micro-organismo que esteja presente na pele ou no meio ambiente pode gerar uma infecção secundária, que prejudica o sistema imunológico do animal e atrapalha o processo de combate ao vírus”, destaca Rebecca.

Em todas as situações que oferecem riscos ao pet, é necessário intervir para retirar os caroços. Se forem detectadas características que indicam malignidade, a remoção também é recomendada. “Os tumores precisam ser retirados para fazer biópsia e, assim, encaminhar os animais para o tratamento. Em muitos casos, há tratamento. A oncologia veterinária está bem desenvolvida”, afirma Rebecca.

Para ela, realizar um diagnóstico completo é essencial para garantir a eficácia do tratamento. “É interessante diagnosticar, dar nome e sobrenome aos tumores para promover a maior qualidade de vida possível para o animal. Alguns tumores têm evolução muito rápida, logo, se não forem tratados, espalham-se com muita facilidade. Então, sempre que for mexer em um tumor, é interessante que se faça um diagnóstico completo para ver como vai-se proceder e qual o tratamento mais indicado.”

Quando os animais são idosos e apresentam tumores benignos, sem evolução e em locais que não oferecem riscos ou maiores transtornos, normalmente opta-se por deixar como está. De acordo com Rebecca, para extrair a verruga, há três procedimentos: a remoção cirúrgica por meio da cauterização; a crioterapia, que é uma espécie de congelamento; além de medicamentos específicos.

Perda inesperada

Quem foi surpreendida com complicações no quadro do bichinho de estimação foi a professora de espanhol Patricia Petri, 47 anos. Primeiro, ela notou um caroço na perna esquerda do maltês Olly. Como o nódulo permaneceu sem alteração, Patricia acreditou que não havia necessidade de se preocupar. Porém, três anos depois, o caroço começou a crescer e a escurecer até evoluir para um câncer maligno.

Nos cinco meses seguintes, foram realizados tratamentos, mas nada capaz de reverter a situação do cão. “Na última semana de vida, ele piorou muito, pois não estava mais se alimentando e sentia muitas dores. Passou o final de semana internado, sendo alimentado por sonda para amenizar as dores. Após conversar com a médica, vimos que não havia mais nada a fazer, pois ele estava em grande sofrimento. Procuramos a oncologista que o acompanhava e decidimos pela eutanásia. Ele morreu nos meus braços”, conta.

O maior conforto de Patricia para lidar com a perda é a lembrança dos últimos momentos que os dois passaram juntos. “O Olly foi meu primeiro cãozinho, e até o fim foi cuidado e amado como um bebê. O que me marcou nos últimos momentos foi que ele ficou mais próximo do que nunca, ficava ao meu lado onde eu estivesse e se entristecia quando eu saía. Por conta da quarentena, aproveitei para estar com ele todas as horas do meu dia”, relembra emocionada.

Outro momento marcante compartilhado pelos dois foi quando Patricia realizou uma festa em comemoração pelos 10 anos do bichinho de estimação, em setembro do ano passado. “Estou certa que ele ficou muito feliz, pois comeu todas as coisas de que gostava. Tinha brigadeiro, coxinha, sorvete e bolo (tudo para pet). Ele amava comer!”

É possível prevenir?

Não há nenhuma fórmula para prevenir o aparecimento de caroços, mas manter uma vida saudável é sempre um bônus para evitar qualquer doença. “O animal deve ter uma vida saudável, isto é, com os mesmos cuidados que teria um humano: boa alimentação, qualidade de sono, abrigo de sol”, aconselha a veterinária Rebecca. Ela acrescenta que, no caso do papiloma vírus, é importante evitar aglomeração de cães, porque ele é facilmente transmitido por secreções.

Para ela, o diagnóstico precoce é fundamental para a prevenção de uma evolução do problema, especialmente no que se refere ao câncer. “É interessante que os donos fiquem sempre de olho no aparecimento de qualquer volume ou ferida e prestem atenção na pelagem do animal.”

Quanto ao sarcoma de aplicação, a veterinária orienta que os tutores procurem um profissional especializado para fazer a aplicação de medicamentos, a fim de evitar erros de dose e acabar prejudicando o animal. “Uma falta de conhecimento pode causar um problema muito maior, como um tumor maligno”, adverte.

A veterinária Ludmilla alerta sobre a utilização de produtos, medicamentos e receitas caseiras de forma aleatória, sem um diagnóstico prévio de um profissional: “Pode levar à resistência ao medicamento e, quando chega à clínica, não tem muito o que fazer”.

Ela ressalta que proteger a pelagem dos animais contra os raios solares, por meio de abrigo adequado e roupas protetoras, além de manter a higiene do animal em dia são outros cuidados essenciais para fortalecer a pele dos animais e evitar o aparecimento de problemas.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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