Fitness & nutrição

Combustível para gerar e amamentar

Especialistas explicam que uma dieta balanceada e rica em nutrientes é essencial desde o período da preconcepção até a amamentação. Saiba o que pode potencializar ou prejudicar a saúde da mãe e do bebê

Raquel Ribeiro*
postado em 09/05/2021 08:00 / atualizado em 09/05/2021 08:23
Assim que descobriu estar grávida, Karisa Pinheiro buscou ajuda de um nutricionista para readaptar o paladar -  (crédito: Arquivo pessoal)
Assim que descobriu estar grávida, Karisa Pinheiro buscou ajuda de um nutricionista para readaptar o paladar - (crédito: Arquivo pessoal)

Por ser um processo complexo na vida da mulher, a maternidade envolve mudanças de hábitos relacionados à saúde. Uma alimentação rica em nutrientes é uma das necessidades que devem ser incorporadas à rotina da mãe durante a preconcepção, a gestação e a amamentação. “Não existe um alimento X ou Y que contém uma fórmula mágica para fortalecer a mãe. O que a gente precisa é de um conjunto inteiro de alimentos que vão fortalecer a saúde materna e o crescimento e desenvolvimento do feto”, pontua a nutricionista materno-infantil Raissa de Sá, da Nut Clin.

Segundo ela, alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes, além de fontes de carboidratos saudáveis, proteínas e líquidos, são os elementos que não podem faltar no cardápio. Raissa destaca a adoção de uma suplementação para potencializar a saúde nutricional materna.

Assim como a mãe, o bebê também é beneficiado pela prática de uma rotina alimentar balanceada. “Existe comprovação científica de que o bebê se familiariza mais com os sabores dos alimentos consumidos pela mãe durante a gestação. Quanto mais variedade a dieta da mãe tiver, mais fácil é o processo de introdução alimentar da criança”, aponta a nutricionista materno-infantil Livia Magela.

“Formar um bebê é como construir uma casinha. Assim como a casa começa a partir do alicerce até chegar ao telhado, a gente precisa passar por diversas etapas na gravidez. Em cada período da gestação, haverá uma demanda maior de determinados nutrientes”, compara Raissa.

Enquanto no início da gravidez há uma maior demanda por vitaminas minerais, na terceira semana, quando o bebê começa a formar ossos e cartilagem, é necessária uma suplementação de cálcio. Já no final da gestação, é importante estabelecer a quantidade ideal de alimentos que são anti-inflamatórios e antioxidantes. “Se eu dou em excesso nesse período, prejudica o desenvolvimento final do bebê.”

Raissa acrescenta que o acompanhamento nutricional é essencial para garantir que nenhuma fase de desenvolvimento do bebê fique deficiente. Além disso, a quantidade de calorias consumidas pela mãe precisa ser controlada com base no estado nutricional materno. “No primeiro trimestre da gravidez, o bebê está se desenvolvendo e formando seus órgãos, logo, não precisa aumentar calorias, mas micronutrientes, que são vitaminas minerais essenciais para esse propósito. Quando entra no segundo trimestre da gravidez até o final, há uma demanda maior de calorias e proteínas para a formação desse bebê”, detalha.

Cuidados redobrados

Adepta de uma alimentação balanceada e diversificada, Francielen Marques pôde amamentar, sem percalços, a pequena Cecília
Adepta de uma alimentação balanceada e diversificada, Francielen Marques pôde amamentar, sem percalços, a pequena Cecília (foto: Arquivo pessoal)

Mães hipertensas, diabéticas ou com problemas na tireoide precisam ter cuidados redobrados para controlar a alimentação, pois as doenças podem oferecer riscos à gestação. “No caso de hipertensão, fazemos o controle do sódio e de peso. Já para a diabetes gestacional, pegamos mais pesado no controle de açúcar e carboidratos, assim como do peso. No caso de uma mãe que tenha problema com a tireoide, a alimentação saudável é muito importante para o controle de sódio e de peso”, explica Livia Magela. A especialista adverte que o ganho de calorias em excesso deve ser evitado, pois aparece em todos os quadros de risco.

A pedagoga Karisa Pinheiro, 29, precisou readaptar seu paladar, definido por ela como “infantil”, para controlar o peso e obter os nutrientes necessários. “Sempre estive acima do peso, mas, quando engravidei, decidi buscar ajuda de uma nutricionista, pois como não gosto de comer verduras e legumes, fiquei com medo de desenvolver diabetes gestacional e pré-eclampsia.”

Para matar a vontade de comer carboidratos, frituras e doces, pelos quais é apaixonada, Karisa tem procurado fazer receitas saudáveis indicadas pela nutricionista. Com cerca de três meses de gravidez, ela já sente os resultados positivos que as mudanças na rotina alimentar proporcionaram. “Passei a tomar café da manhã, o que tem me dado mais energia durante o dia e, com as dicas valiosas da nutricionista, tenho conseguido lidar com o enjoo. E o mais importante é que a minha bebê está com o peso ideal e o coração batendo forte. O meu objetivo é manter essa rotina alimentar para que até o final da gravidez ocorra tudo bem”, projeta a futura mamãe.

A amamentação é fundamental para o bebê e, por isso, precisa ser da melhor qualidade possível. “O leite materno é rico em imunoglobinas que não existem de forma sintética. O bebê amamentado apenas com leite materno, durante no mínimo um ano de vida, está protegido até contra doenças na fase adulta. Também tem a quantidade de nutrientes ideal para cada bebê, garantindo o equilíbrio nutricional dele e impedindo o desenvolvimento de obesidade, sem falar que o leite é um vínculo entre mãe e filho, serve como um acalento, um apoio psicológico para o bebê.”

Para conciliar uma rotina alimentar de qualidade aos cuidados com o bebê, Livia aconselha que a mãe faça um planejamento alimentar e congele alimentos. “Sabendo fazer o congelamento correto não há riscos de ter deficiência nutricional. Para uma mãe que não tem tempo ou alguém para ajudar no preparo das refeições, a marmita pronta é uma mão na roda.” Outra dica da profissional é ter sempre opções saudáveis que não precisam ser cozidas, como frutas, castanhas, leite e fontes de proteínas, disponíveis em casa.

O universo da amamentação é envolto por ditos populares, como o de que alguns alimentos, como canja e canjica, favorecem a produção de leite. A nutricionista Raissa de Sá desmistifica essas crenças: “O que contribui para a qualidade do leite da mãe é ela ter uma dieta balanceada. Além disso, a ingestão de, em média, três litros água é fundamental, pois, como o leite é formado dentro da mulher, a baixa ingestão líquida pode prejudicar a produção dele.”

A farmacêutica Francielen Marques, 26, começou a fazer acompanhamento nutricional assim que descobriu que estava grávida. Desde então, passou a cultivar bons hábitos alimentares. Como resultado, não ganhou muito peso durante a gravidez e tinha disposição para dar e vender. “Tanto durante quanto depois da gestação, eu me senti com muita energia. A minha produção de leite também foi muito alta. Tanto que minha filha nunca precisou de suplementação adicional, mamava apenas no peito”, conta.

Para ela, a restrição no consumo de certos alimentos foi difícil, mas valeu a pena: “Meu maior desafio durante esse período da amamentação foi cortar alguns alimentos que provocavam muita cólica na minha filha, como derivados do leite, carne vermelha e doces. Mas, fiz com a certeza de que era o melhor para ela”. A pequena Cecília, de apenas 6 meses, está no processo de introdução alimentar, que, graças ao costume de uma alimentação diversificada da mãe, está sendo bem-sucedido. “Minha filha está se adaptando muito rápido a comer alimentos mais sólidos. Adora uma frutinha, mas ama mesma a papa salgada”, brinca.

O que não comer?

A nutricionista materno-infantil Raissa de Sá alerta que existem alimentos que não devem ser consumidos durante a gestação para evitar problemas no desenvolvimento dos pequenos. O álcool está no topo da lista devido ao risco de causar uma síndrome alcoólica fetal. “Está totalmente proibido, não importa se é um gole ou uma taça. O bebê não possui estrutura para metabolizar aquilo”, esclarece.

Em seguida, vem o chá, que não é seguro para o feto em razão da função estimulante, podendo favorecer contrações precoces e gerar maior risco de aborto. A cafeína, presente no café, no refrigerante e até no chocolate, também está associada ao aborto. “Estudos mostram que não é seguro esse consumo nem sequer de uma xícara. Minha recomendação é: se a gente consegue tirar a cafeína, vamos tirar. Se a mãe é extremamente dependente, então limitaremos ao máximo de uma xícara por dia.”

A nutricionista também alerta para o consumo de peixes e vegetais crus fora de casa, pelo risco de contaminação: “Recomendo que as mães façam consumo desses alimentos apenas em casa, onde ela vai saber manipular e higienizar corretamente”.

No primeiro trimestre, é comum que as mulheres sintam enjoo. Como forma de minimizar esse sintoma, Raissa orienta que a mãe não fique de estômago vazio, dê preferência a alimentos sólidos, consuma frutas cítricas e faço uso de suplementação, caso haja necessidade. “As mães também relatam que têm dificuldade de beber água, então recomendo que elas bebam água gelada e pinguem gotinhas de limão.” Quanto aos relatos de azia, recorrentes no fim da gestação, a nutricionista sugere a suplementação de enzima, além da redução do consumo de alimentos gordurosos e de frituras.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte 

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