Encontro com o chef

Chef sorveteira aposta em mix de sabores

Brasiliense assume o lugar da mãe na criação das delícias preparadas na Sorbê e desenvolve receitas com mistura de ingredientes

Sibele Negromonte
postado em 16/05/2021 08:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)

A palavra experimentar sempre fez parte do vocabulário de Anita de Medeiros. Desde criança, ela se acostumou a provar a culinária e os ingredientes locais nas viagens que fazia com a família. Há 15 anos, quando a mãe, Rita de Medeiros, abriu a sorveteria Sorbê, o verbo misturar se juntou ao experimentar e Anita expandiu ainda mais o paladar.

Não que a gastronomia fizesse parte dos planos profissionais da brasiliense. Ela se formou em veterinária e chegou a exercer o ofício por um ano, mas a mãe precisava de ajuda nos negócios. Anita passou, então, a administrar a sorveteria e, quando se deu conta, estava tão envolvida que a veterinária tinha ficado no passado. E assim foi até o início da pandemia: a mãe na criação dos sorvetes e ela no gerenciamento da loja.

Com o avanço do coronavírus, porém, o arranjo precisou passar por ajustes. Como Rita fazia parte do grupo de risco, Anita assumiu a produção dos sorvetes. E usou toda a bagagem que tinha para brincar com novos sabores. “Esse novo desafio estimulou a minha criatividade”, admite a chef sorveteira, que se impôs uma meta: desenvolver um novo sabor de sorvete por semana.

“Nós somos uma sorveteria essencialmente brasileira. No nosso cardápio, há frutas de todo o Brasil. E temos fornecedores de todos os cantos do país”, diz. Anita orgulha-se, por exemplo, de, na Sorbê, o sorvete de chocolate — que não pode faltar em nenhuma sorveteria — ser feito com cacau baiano. “Não tem essa de chocolate belga. Aqui, o nosso vem de Itabuna.”

No cardápio fixo, por exemplo, não podem faltar os gelados com DNA brasileiro, como os de açaí, graviola, tapioca e cajuzinho do cerrado. Isso não significa, porém, que ela não utilize também ingredientes que vêm de fora, claro. Inclusive, a receita que compartilha com os leitores da coluna é um sorvete de tâmaras. “Uma amiga acabou de chegar do Marrocos e me trouxe um açafrão. Já estou bolando uma receita para fazer com a iguaria. Eu enxergo a Sorbê como um laboratório de sabores”, exemplifica.

Experimentos

Aliás, misturar e criar têm sido, ultimamente, os verbos mais conjugados por Anita. “No aniversário de Brasília, desenvolvi um sorvete de chocolate branco com aroeira — a pimenta-rosa que tem plantada ao longo de todo o Eixão”, detalha. No Dia da Resistência Indígena, a homenagem veio em forma de gelado de urucum com guaraná e, no Dia das Mães, ela atacou de flor de laranjeira com figo caramelizado. As novidades são intercaladas no menu, que, diariamente, conta com 24 sabores expostos.

A chef sorveteira compartilha uma curiosidade sobre a linha de produção da Sorbê. Por ter um maquinário rústico, ela explica que tem mais flexibilidade na criação. “Nossas máquinas são artesanais, fabricadas na Itália na década de 1950. Ao contrário dessas modernas, eu tenho mais facilidade de trabalhar o preparo do sorvete, consigo flexibilizar a quantidade de açúcar, gordura e leite, por exemplo. O trabalho é mais lento, mas a qualidade é outra.”

Anita explica que, ao contrário do sorvete, feito à base de leite, o sorbê é preparado com água. Portanto, conquistou o público vegano. No cardápio, sempre procura manter as duas opções de forma equilibrada, para todos os gosto e públicos, que, aos poucos, têm retornado à sorveteria. “Nós ficamos em um espaço aberto, com jardim, e as pessoas se sentem seguras”, acredita.

A brasiliense lembra, porém, que a pandemia obrigou a Sorbê, assim como praticamente todo o setor gastronômico, a se reinventar. “Antes, não tínhamos delivery e fomos obrigados a entrar nesse ramo. Precisamos fazer uma vasta pesquisa sobre a embalagem ideal, que precisava ser resistente e biodegradável. Mas chegamos a um ajuste e o delivery continua, mesmo com as portas abertas.”

A preocupação com o meio ambiente faz parte da filosofia da casa. “Montamos, ao longo desses anos, uma rede de fornecedores e coletores, pessoas que vão desde assentamento de terras a comunidades quilombolas.” Hoje, um dos grandes prazeres de Anita é ver as crianças chegarem à sorveteria e provarem os diversos sabores disponíveis, assim como ela fazia na infância. E, dessa forma, ajudar na formação do paladar dos pequenos.

Sorvete de tâmaras com geleia de figo

Sorvete de tâmara com geleia de figo
Sorvete de tâmara com geleia de figo (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press )

Ingredientes
2 litros de leite integral
500ml de creme de leite fresco
200g de açúcar
1 pitada de sal
1 colher de sopa de emulsificante para sorvete*
1 colher de sopa de liga neutra para gelatos*
300g de tâmaras sem caroços

*Esses produtos são encontrados em lojas de artigos para confeitaria

Modo de fazer
Bata os ingredientes no liquidificador, colocando por último as tâmaras. Leve ao congelador até gelar e bata novamente. O ideal é que esse processo seja feito umas três vezes. Quanto mais bater, mais cremoso ele fica.
Na hora de servir, pode adicionar a geleia de figo para enfeitar e deixar essa sobremesa com a cara do outono.

Serviço
Endereço: Comércio Local Norte 405, Bloco C
Telefone: (61) 3447-4158
Funciona de segunda-feira a domingo, das 12h às 19h

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