Encontro com o Chef

Coragem para recomeçar: nutricionista torna-se chef de sucesso

Ao voltar da licença-maternidade e perder o emprego, nutricionista investe todas as economias e energia na criação de um self-service cheio de sabores. Passada mais de uma década, o negócio não só se consolidou como se expandiu

Sibele Negromonte
postado em 23/05/2021 08:00
 (crédito: César Tanizaki/Divulgação)
(crédito: César Tanizaki/Divulgação)

Das lembranças mais antigas que Keli Cristina Mayer Wojtunik guarda, os fins de semana na casa da avó paterna, Helena Pankewickt, em São Bento do Sul (SC), estão entre as mais saudosas. “Ela tinha dois fogões a lenha e colocava um banquinho entre eles para eu me sentar. Eu ficava ali, extasiada, vendo-a cozinhar”, recorda-se. Com o tempo, a garotinha ganhou o posto de auxiliar de cozinha e passou a ajudar a matriarca no preparo de pães, massas e outras delícias. “Minha avó plantava e criava o que comia”, relembra.

Esse primeiro contato com “comida de verdade” — caseira, sem conservantes e feita com técnicas tradicionais — marcou Keli por toda a vida. Tanto que, na hora de escolher uma profissão, ela optou por ser nutricionista. Descendente de poloneses pelo lado paterno e de alemães, pelo materno, a paranaense chegou a trabalhar em um hospital em Curitiba, onde exercia a nutrição clínica. “Mas sempre gostei da gestão de negócios na alimentação.” Assim, especializou-se no assunto e passou a trabalhar para grandes empresas.

Em 2001, recebeu uma proposta de trabalho em Brasília, para onde veio e nunca mais saiu. Aqui, ela se casou, porém, quando voltou da licença-maternidade da primeira filha, o tratamento na empresa não foi mais o mesmo e ela acabou dispensada. “Aquilo mexeu muito comigo. Sempre trabalhei muito, desde os meus 14 anos. Eu me senti descartada.”

Com um bebê no colo e muita disposição para trabalhar, Keli decidiu dar uma guinada na vida. Pegou o dinheiro da rescisão, vendeu o carro e alugou uma lojinha de fundo, no Sudoeste. Fez uma pequena reforma, comprou um fogão de duas bocas, duas mesas, oito cadeiras e ingredientes para fazer o que sabia de melhor: preparar e vender refeições. “Gastei tudo o que tinha.” Surgia, assim, o Mayer, um restaurante self-service que, até hoje, tem clientela cativa no Sudoeste.

“Na frente do restaurante, tinha um orelhão. Era o meu escritório. Os clientes ligavam para lá para dizer o que queriam comer”, diverte-se. Na loja do lado, funcionava uma funerária, e era lá que a filha ficava, sob os cuidados do proprietário, um amigo que quebrou um galhão, na ausência de familiares em Brasília. “Lá, ela lanchava, brincava, tirava uma soneca. Isso até ter idade de ir para a escolinha.”

Quando engravidou da segunda filha, Keli sentiu necessidade de cursar gastronomia, para ampliar seus horizontes culinários. Na mesma época, fez a primeira das várias ampliações do restaurante — hoje, ele ocupa sete lojas. Para a paranaense, o segredo do sucesso do Mayer é o cuidado no preparo dos alimentos. “Até hoje, faço questão de eu mesma fazer as compras. Todos os nossos legumes e vegetais são orgânicos, assim como nosso frango. Os ovos são caipiras, a carne de boa qualidade e a linguiça é preparada na casa. Antes de comprar dos fornecedores, vou até a fazenda para conhecer os produtos. Eu sei exatamente o que estou vendendo.”

Tanto cuidado rendeu bons frutos. Por três anos consecutivos, o Mayer do Sudoeste ganhou o primeiro lugar no prêmio O quilo é nosso, promovido pela Abrasel e que reconhece os melhores restaurantes a peso do país.

Mas Keli queria mais. Em 2018, começou a idealizar uma filial do Mayer. Encontrou uma loja na 116 Sul e lá montou o projeto do Mayer Sabores do Brasil. A ideia era combinar o já conhecido modelo de bufê com o diferencial de oferecer carnes selecionadas na parrilha, além da opção à la carte. “Eu queria trazer essa coisa da brasa, com cortes especiais. Aos domingos, por exemplo, temos lagosta grelhada”, detalha.

A pandemia da covid-19 pegou de jeito todos os restaurantes do país, então Keli, ainda no meio da reforma da sua filial, foi obrigada a adiar a sonhada inauguração, que só aconteceria em outubro do ano passado. Com poucas semanas de aberta, também a filial foi agraciada com o prêmio O quilo é nosso, ao final de 2020.

A paranaense lembra que, quando chegou à quadra da Asa Sul, encontrou, nos fundos da loja, uma enorme quantidade de lixo e entulho. Decidiu, então, por conta própria, limpar a área e fazer um trabalho de paisagismo. “Começamos a plantar orquídeas e transformamos a área. Hoje, já temos 950 mudas”, orgulha-se.

Ao mesmo tempo, uma outra loja vagou na quadra e Keli nem titubeou: alugou o espaço e montou um café, que se tornou a menina dos olhos dela. “O Café das Orquídeas tem uma pegada bem feminina. Fizemos um cardápio diferenciado, servimos espumantes, cafés selecionados, um cardápio leve, com pequenas refeições. E as pessoas aproveitam tudo isso desfrutando do lindo jardim”, encanta-se.

Mas até chegar a esse ponto, as coisas não foram nada fáceis. Com o Mayer do Sudoeste fechado, por causa do lockdown, e o da Asa Sul em reforma, Keli precisou encontrar meios de sobreviver. “Criei um grupo de WhatsApp com os clientes e comecei a preparar os pratos preferidos deles. Entregava ou eles iam buscar na loja.”

Até o próximo dia 30, o Mayer Sabores do Brasil, da Asa Sul, participa da 15ª edição do Festival Brasil Sabor, com o menu Mix de salada orgânica com tomate-cereja e molho de mostarda amarela, talharim cremoso com gema confitada e filé mignon ao molho de pimenta-verde. Para completar, mousse de chocolate, cuja receita a chef compartilha com os leitores da coluna.

Hoje, com as portas das três casas abertas, Keli orgulha-se de empregar direta ou indiretamente cerca de 500 famílias. “Quando a gente faz porque gosta, tem verdade nisso. E isso leva você a ser respeitado pelas pessoas. Não faço por dinheiro, ele é apenas consequência.”


Tempero brasileiro

Mais de 160 estabelecimentos do DF participam, até o dia 30, da 15ª edição do Festival Brasil Sabor, promovido pela Abrasel. Desta vez, o tema é Temperos e ingredientes do sabor original do Brasil e são oferecidos menus em três faixas de preço: R$ 34, R$ 54 e R$ 74. Os pratos podem ser degustados no próprio bar ou restaurante participante ou retirado no local. Há ainda a opção de pedi-los por delivery.

Mousse de chocolate

 Mousse de chocolate do Restaurante Mayer
Mousse de chocolate do Restaurante Mayer (foto: Guilherme Teixeira/Divulgação)

Ingredientes

12 ovos
400g de açúcar fino
400g chocolate meio amargo

Modo de fazer

Separe as claras das gemas.
Bata as claras em neve e reserve.
Bata as gemas e o açúcar e reserve.
Derreta o chocolate em banho-maria.
Junte o chocolate e a gema com açúcar. Bata na batedeira até ficar cremoso.
Misture a clara lentamente.
Leve à geladeira, por no mínimo, duas horas.
Decore com raspas de chocolate e açúcar de confeiteiro.
Rende de 10 porções
Obs.: peneire a gema para não ficar com gosto de ovo.

Serviço

Instagram:
@mayersaboresdobrasil
@mayerselfservice
@cafedasorquideas

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