O uso da cafeína após a privação de sono nos deixa mais alerta, mas não resolve tudo. Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, acabam de publicar um estudo demonstrando que uma noite maldormida deixa o cérebro menos eficiente em tarefas que demandam atenção e outras funções executivas. Mostraram também que uma dose de cafeína tem o poder de melhorar o desempenho cognitivo apenas em tarefas que exigem vigília e atenção, mas não naquelas que exigem processamento executivo mais complexo. Os resultados são relevantes para profissionais que confiam na cafeína após a privação de sono. A chance de erro é maior.
Por outro lado, a cafeína pode amenizar a tendência a comportamentos de risco associados à privação de sono, independentemente do estado de alerta do indivíduo. A privação de sono deprime a função dos sistemas envolvidos no julgamento e percepção de risco e a cafeína minimiza esses efeitos negativos.
Uma pesquisa demonstrou, por meio de Ressonância Magnética Funcional e testes psicológicos, que uma noite sem dormir muda a forma como o cérebro processa a chance de ganhar ou perder. Uma noite com privação do sono provoca aumento de atividade cerebral em regiões que processam expectativas otimistas e reduz a atividade de outras que processam expectativas pessimistas. Além disso, os testes psicológicos evidenciaram que os voluntários se mostraram mais sensíveis a recompensas e com menor sensibilidade a consequências negativas.
As repercussões desse tipo de mudança de comportamento do cérebro não devem ser tão inocentes. Já sabemos que problemas de sono só perdem para o álcool como causa de desastres no trânsito, especialmente pela redução da atenção e dos reflexos. Imaginem se ainda adicionamos uma pitada de comportamento valente e de risco.
*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasilia
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