Neurônios em dia

Como as máscaras influenciam nossa capacidade de reconhecer as pessoas?

Estudo mostra que, como esperado, as máscaras dificultaram o reconhecimento facial pelos cerca de 500 indivíduos testados em um experimento on-line. As mulheres têm mais facilidade em distinguir as pessoas

Antes de ler este artigo, enfatizo que as máscaras vieram para ficar e continuarão fazendo parte do nosso dia a dia por um bom tempo ainda. A pandemia está muito longe de alcançar um controle no nosso meio.

Porém, não há como negar que o uso da máscara tem nos proporcionado, às vezes, situações constrangedoras ao não reconhecermos pessoas do nosso círculo social. Além disso, a máscara pode dificultar a percepção das emoções, apesar de o olhar e o tom de voz das pessoas já nos dizerem quase tudo.

Para entender melhor o impacto do uso das máscaras sobre o reconhecimento facial das pessoas, pesquisadores canadenses e israelenses conduziram um estudo que analisou como isso acontece. A pesquisa foi publicada recentemente pela prestigiada revista Scientific Reports.

Como esperado, as máscaras dificultaram o reconhecimento facial pelos cerca de 500 indivíduos testados em um experimento on-line. Do ponto de vista qualitativo, a presença das máscaras dificultou sobremaneira a identificação facial como um todo, também chamada de percepção holística. Essa percepção holística é proporcional à capacidade que temos de reconhecer as imagens de cabeça para baixo, o que foi confirmado nessa pesquisa: o efeito da inversão foi duas vezes menor nas faces com máscara. Isso significa que o reconhecimento holístico com a máscara já estava dificultado, e a inversão teve menor impacto.

Já foi demonstrado em estudos anteriores que a parte inferior da face, a que fica sob a máscara, é a que mais tem influência nesse reconhecimento holístico. Tanto é que, quando a imagem é invertida, a identificação da face inferior é mais prejudicada que a dos olhos. E as mulheres tiveram mais facilidade, nesses testes de reconhecimento facial, com ou sem máscaras, confirmando uma série de pesquisas prévias.

Continue usando sua máscara. Os benefícios são infinitamente maiores que os irrisórios desconfortos.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e Diretor Clínico do Instituto do Cérebro de Brasília