Neurônios em dia

Será que o amor é cego mesmo? Darwin, Freud e a neurociência explicam.

Pesquisas mostram que quanto maior a diferença entre os DNAs de duas pessoas, maior a chance de atração sexual

Ricardo Teixeira*
postado em 11/06/2021 18:24 / atualizado em 11/06/2021 18:25
 (crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press                      )
(crédito: ED ALVES/CB/D.A.Press )

Atração sexual — Com o objetivo de perpetuação da espécie, é bem compreensível que nosso cérebro tenha se desenvolvido para ser recompensado com tempestades neuroquímicas de prazer ao experimentarmos atração sexual por outra pessoa.

Hoje em dia, já conhecemos muito dos atributos que aumentam as chances de as pessoas se atraírem sexualmente, e que vão além de fatores culturais. Os atributos estéticos da pessoa são bastante determinantes, mas outros fatores, como cheiro, tom de voz, status social e financeiro, senso de humor, inteligência, já foram demonstrados que influenciam a atração sexual — alguns desses mais relevantes para as mulheres, enquanto outros para os homens. Já sabemos que por trás dessas preferências há uma mãozinha do nosso código genético.

Quanto maior a diferença entre os DNAs de duas pessoas, maior a chance de atração sexual. Do ponto de vista evolutivo, isso faz sentido, pois a reprodução sexuada tem por princípio básico a mistura de genes, diminuindo assim o risco de doenças geneticamente determinadas. Isso ajuda a explicar porque evitamos gerar filhos dentro da própria família. Evitamos o incesto não só por questões culturais ou religiosas, mas nosso cérebro tem atração sexual por pessoas que estão longe do núcleo familiar, pois essas têm maior chance de possuírem um repertório genético distinto do nosso.

Num famoso estudo, também chamado de experimento da camiseta suada, mulheres cheiravam várias camisetas masculinas suadas e tinham que eleger a que tinha cheiro mais sensual. Elas elegeram o cheiro de homens com DNAs mais diferentes dos delas. Uma evidência de que esse é um comportamento que herdamos de nossos ancestrais é o fato de que, ao contrário do que muitos pensam, o incesto é muito raro em grande parte das espécies animais. Freud e Darwin não tinham esse conhecimento em mãos, já que os primeiros estudos sobre a evitação do incesto em animais apareceram apenas entre 1960 e 1970, incluindo primatas, baleias e até roedores.

Neuroquímica da atração sexual e do amor romântico

Imaginem se Darwin e Freud tivessem o conhecimento que temos hoje sobre nossas respostas cerebrais à atração sexual e à presença da pessoa amada! As regiões cerebrais ativadas em resposta a sentimentos românticos ou à atração sexual são muito parecidas, e envolvem o mesmo sistema de recompensa cerebral disparado ao nos deliciarmos com um alimento saboroso, independentemente de ser homem, mulher, homossexual ou heterossexual. Os principais combustíveis dessas reações são a dopamina, a ocitocina e a vasopressina.

Além das regiões do cérebro que se “acendem” com as experiências do amor romântico ou atração sexual, sabemos também que outras áreas se “apagam”, e essas são regiões vinculadas à função do medo (amígdala) e regiões associadas à nossa crítica, juízo de valores, nosso “superego” (ex: lobo frontal). Isso explica em parte por que o amor é cego, e a paixão nem se fala.

*Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

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