Bichos

Fluent Pet: já imaginou se nossos pets pudessem nos responder?

O Fluent Pet, painel de botões para "falar" com o bicho de estimação, viralizou nas redes sociais. Especialistas explicam como é o processo e alertam os tutores sobre a prática.

Amanda Silva*
postado em 18/07/2021 09:00
 (crédito: Reprodução/ What About Bunny/ Instagram)
(crédito: Reprodução/ What About Bunny/ Instagram)

O Fluent Pet, ou tabuleiro interativo, é um painel que, com treino e dedicação, possibilita “conversar” com o animal. Surgiu no ano passado e viralizou nas redes sociais com os vídeos da Bunny, uma cachorrinha norte-americana que decorou mais de 90 palavras.

Bunny é uma mistura de cão pastor com poodle e tem dois anos, mas é mais inteligente do que qualquer outro cachorro da mesma faixa etária. A tutora, Alexis Devine, contou, em uma entrevista, que decidiu testar o método de conversa com Bunny após ver vídeos de uma fonoaudióloga que estava ensinando à sua cadela algumas palavras em inglês por meio desse painel.

Alexis decidiu treinar Bunny para conversar com ela pelo painel de botões. Ao longo desses dois anos, ela compartilhou nas redes sociais alguns dos diálogos entre ela e a pet. Com mais de sete milhões de seguidores nas mídias, a dupla trouxe um novo debate: os cachorros realmente conseguem se comunicar dessa maneira com as pessoas?

Para a veterinária comportamental Jade Petronilho, da Petlove, é possível, sim, “conversar” com os animais dessa maneira. É importante treinar e condicionar o animal para as palavras que fazem sentido para eles. Mas ela destaca que é necessário perceber se o pet aperta os botões apenas para ganhar atenção e dar uma de “espertinho” com o tutor.

“O pet pode fazer isso de forma avaliativa. Pode, também, aprender que toda vez que ele aperta, ganha comida. Ou seja, ele está se comunicando com a pessoa, mas não necessariamente ele estaria com fome toda vez que clicasse no botão de pedir comida”, ressalta Jade Petronilho.

Cuidados com o brinquedo

A veterinária também destaca que é necessário tomar cuidado com esses brinquedos e aparelhos eletrônicos, pois os pets podem ficar muito ansiosos com eles. Por exemplo, se em alguma situação o animal não tem o tabuleiro ao seu alcance, pode desenvolver algum problema de comportamento.

O pet e os tutores não devem ficar dependentes do painel. Além disso, é importante compreender o tempo do pet. Afinal, existem raças que são predispostas a aprender mais rápido e outras, não. Eduque o cão de maneira que eles saibam identificar palavras e comandos, porém, que não seja de forma robotizada. A intenção do brinquedo é facilitar o dia a dia deles.

Pedro Rios, adestrador e passeador, explica que a maneira de usar o painel é ensinando um comportamento para o cão. Ou seja, ele aprende que no momento em que aperta o botão, compreende que vai ativar tal comportamento.

A partir disso, ensine o pet a apertar os botões — com uma gravação do tutor falando um comando —, e ao usar o painel, algo acontece, como por exemplo, ganhar um petisco ou atenção. “É um clássico exercício de condicionamento que reforçará comportamentos. Até cães surdos poderão ser bem-sucedidos com esse brinquedo”, destaca.

O adestrador considera que as pessoas estão se interessando pelo objeto, pois a humanidade acredita que um dia terão um nível humano de interação linguística com os animais. “Mesmo sendo um típico pensamento antropocêntrico, dar sentido e significado para o que não compreendemos é o que nos move; então, se algo diz que seu cão ‘conversará’ com você, aquela chama de esperança ganha combustível”, pondera.

Dedicação e paciência

Outro motivo para o sucesso do brinquedo é que virou moda. A veterinária Jade Petronilho explica que quando surge uma novidade como essa, a tendência é que os donos de pets queiram testar. Além disso, a humanização do pet faz com que os tutores desejem que os animais se adaptem à nossa realidade, quando na verdade, eles nunca irão realmente falar palavras para se comunicar com seres humanos.

“É muito melhor identificar os sinais que eles dão com um movimento de rabo, orelhas e latidos para a gente compreender realmente os sinais normais de cada espécie e se atentar ao que eles querem naquele momento”, adverte.

Jade ressalta que todos os animais podem usar o brinquedo. Mas é necessário uma dedicação muito grande por parte do tutor, ou de quem esteja adestrando o animal. Ela recomenda o Fluent Pet para as pessoas que trabalham com comportamento animal, como por exemplo, os adestradores.

Um exemplo é o Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal que utiliza um tabuleiro para se comunicar com a cadela dele, a vira-lata Estopinha. Alexandre é 100% dedicado a isso, então o profissional consegue perceber se a pet burlar o sistema, ou se está aprendendo e se comunicando. Diferentemente de pessoas leigas, que podem adquirir o produto por modismo.


Melhor que o painel de botões

Pedro Rios ressalta que melhor do que um painel com botões para conversar com o animal, é entender o que eles dizem com o corpo. Por isso, ano após ano, surgem novos brinquedos que vão manter o mercado aquecido, mas nenhum deles é capaz de melhorar o relacionamento do cão com o ser humano.

Para o adestrador, a melhor escolha é conhecer a rotina do seu cão. Para isso, separe algumas horas para observá-lo e notar os padrões comportamentais. “Procure dar uma qualidade de vida coerente e realista, saiba que qualquer brinquedo será apenas um brinquedo, se faz x ou y, não interessa, o importante é o tempo que você passará com o cachorro e ele com você”, destaca.

Para os tutores que estão muito interessados no brinquedo, cuidado quanto a real função do Fluent Pet. Acreditar que basta a inteligência de assimilação do cão para ele entender o português não é benéfico para os cães. E, por muitas vezes, os tutores se decepcionam e escolhem se “desfazer” do cachorro “desobediente”. “Não ache que temos em mãos um tradutor universal para cães e continuar a antropomorfizá-los (dar características humanas)”, alerta Pedro.

*Estagiária sob a supervisão de Taís Braga

 

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