Bichos

Por que os felinos precisam de cuidados especializados

Que cada gato possui sua própria personalidade, é sabido. O que muitos desconhecem é que um veterinário especialista pode ser essencial para o bem-estar deles

Carolina Marcusse*
postado em 26/09/2021 08:00
Aslam e Maria conviveram em harmonia até a morte do primeiro felino adotado por Evana -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Aslam e Maria conviveram em harmonia até a morte do primeiro felino adotado por Evana - (crédito: Arquivo Pessoal)

A medicina veterinária especializada está se popularizando e cada vez mais profissionais vêm optando por atender exclusivamente gatos. No entanto, o que a princípio pode parecer uma restrição de mercado, reflete uma intensa demanda por cuidados com os felinos, que têm particularidades e demandas próprias — nem sempre supridas por veterinários gerais.

A veterinária Anna Clara dos Santos, da clínica Mundo dos Gatos, afirma que, de forma geral, durante o período na faculdade, não há muito aprofundamento em cuidados com gatos. Isso pode ser extremamente prejudicial para esses animais, que, segundo a profissional, acabam sendo tratados como se fossem pequenos cachorros, desde o manejo até o diagnóstico. Numa clínica especializada, o serviço é direcionado e os profissionais são notoriamente capacitados para melhor tratar e receber os felinos.

Os estudos necessários para se tornar um especialista são muitos, desde os comportamentos e hábitos dos animais até a parte clínica, já que os gatos têm necessidades nutricionais muito diferentes dos cães, além de doenças típicas, como a probabilidade aumentada de desenvolver problemas renais, por exemplo. Também é muito importante que o profissional esteja alinhado com as práticas amigáveis com felinos, as chamadas “condutas cat friendly”, que incluem não pegá-los pelo cangote em nenhuma hipótese, pois causa muita dor em bichanos adultos e é contraindicado por organizações internacionais desde a década de 1990.

Saídas e alternativas

Quem cuida de gatos sabe que pode ser uma tarefa árdua levá-los para fora de casa, ainda mais em um consultório para ser examinado e tocado. Os animais são muito conectados com seus lares, seu território. Por isso, um ambiente novo, com cheiros e estímulos diferentes, pode ser profundamente estressante para eles, que tendem a ficar mais ariscos e acuados. Para facilitar essa situação, a veterinária afirma que o feromônio sintético feliway, seja em spray, seja em difusor na tomada, pode auxiliar no relaxamento do animal, que sentirá um “cheiro de casa”, pois produz uma sensação semelhante à que eles sentem quando filhotes e são cuidados por suas mães, gerando, assim, uma sensação de segurança.

Um diferencial importante que existe em consultórios especializados, além do uso do feromônio, é não ter cheiros e sons de outros animais, como cachorros, que deixam a maioria dos gatos em estado de alerta, com prejuízos que vão além da perturbação momentânea, causando até alterações em exames. Com um alto nível de estresse, a glicemia dos animais pode se elevar e causar uma avaliação equivocada de diabetes em um gato que estava apenas estressado.

As caixas de transporte fazem toda a diferença também. As muito grandes podem ser inadequadas para os animais, principalmente os menores, que ficam balançando e não conseguem ter estabilidade durante o trajeto, o que os deixa agitados. Outro ponto importante são as caixas de abertura superior, que facilitam o trabalho do veterinário, que não precisa remover o animal do espaço para fazer pequenas avaliações, e permite uma sensação maior de segurança, já que o animal não é retirado à força.

Orientação adequada

Tão importante quanto uma boa prática e conhecimentos técnicos são os cuidados realizados pelo tutor em casa, seguindo corretamente as orientações veterinárias. Desde seguir à risca as prescrições e os horários, caso o animal faça uso de alguma medicação, até levar os animais com frequência para checar a saúde. A recomendação da veterinária Cristiane Caporal, do centro veterinário Cozy Pets, é que o checape ocorra anualmente, para animais jovens e saudáveis, e semestralmente, para bichanos a partir dos seis anos ou que tenham algum tipo de doença que demande um acompanhamento mais frequente.

Nessas consultas, pode ser administrada a vacinação anual, como a da raiva. Também, geralmente, ocorre a avaliação física e, dependendo do caso, exames de sangue e ultrassom, para rastrear possíveis doenças. Outra recomendação é uma verificação, a cada dois anos, da saúde cardiovascular do animal, assim evitando que seja diagnosticado apenas quando as doenças e problemas estiverem muito avançados e difíceis de tratar.

São oportunidades para o veterinário identificar também detalhes que talvez estejam passando despercebidos pelos tutores, como a coleira que colocaram no animal. Não há necessidade do uso de coleiras em gatos, visto que não são levados para passeios presos em guias — mas acabam sendo utilizadas para o fim de identificar o animal caso se afaste de casa. Nesses casos, a recomendação é de utilizar somente coleiras que tenham fechos breakaway, que soltam sozinhos caso o felino se enrosque em cercas ou árvores, evitando, assim, o enforcamento.

Responsabilidade

Além dos exames e vacinação em dia, tutores bem instruídos são essenciais para oferecer uma vida equilibrada e saudável aos bichanos. Evana Carrion salvou um gato que havia sido atropelado na rua perto de sua casa e o levou para uma clínica veterinária imediatamente. A profissional que a atendeu era especializada em felinos e o tratou com muito cuidado, desde o primeiro momento até o pós-cirúrgico, já que foi necessária fisioterapia e acompanhamento.

Na época, Evana não entendia nada de animais e relata que a veterinária soube instruí-la com maestria, desde as dúvidas básicas, como a escolha da ração, até adaptações na vida dela e do marido, que agora só poderiam morar em apartamentos com telas protetoras nas janelas. Conhecendo os hábitos e cuidados necessários, ela decidiu adotar mais um bicho. Agora, além de Aslam, que já vivia com ela, entrou em sua vida a gata Maria. A segunda integrante, foi diagnosticada com a doença FELV — o vírus da leucemia felina. Contudo, com tratamento adequado, a enfermidade e suas consequências foram controladas, fazendo com que ela tivesse uma boa qualidade de vida e oferecesse segurança para o outro gato, que não portava a patologia.

No entanto, após levar para a revacinação em um veterinário que não soube orientá-la adequadamente, a imunidade dos animais abaixou e Aslam foi contaminado com o vírus da outra gata. Mesmo com um longo tratamento, ele não resistiu e faleceu no ano passado, entre outros motivos, pela falta de orientação, que Evana avalia que poderia tê-la instruído para não haver contaminação.

Atualmente, a gata Maria segue sendo acompanhada de perto pela veterinária especialista, que conhece seu quadro e possui um ambiente adaptado para recebê-la prontamente.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação