Saúde

Risco de ruptura: por que o aneurisma é mais frequente em mulheres

Embora igualmente grave para mulheres e homens, o aneurisma cerebral é mais comum entre elas. Saiba quando investigar e quais as opções de tratamento para essa doença silenciosa

Giovanna Fischborn
postado em 03/10/2021 08:00
 (crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)
(crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press)

Caracterizado pela dilatação dos vasos sanguíneos, mais frequente de acontecer nas artérias do que nas veias, o aneurisma cerebral é uma doença grave e silenciosa. “Nesse caso, as paredes das artérias são mais finas e frágeis do que o normal e podem se romper e causar uma hemorragia. Como o sangue está sendo bombeado, o sangramento ocorre sob alta pressão”, explica Marcelo Valadares, médico neurocirurgião da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein.

Em grande parte das vezes, os aneurismas cerebrais não chegam a medir um centímetro, e a maioria das pessoas não fica nem sabendo que tem a doença. Ainda assim, essa ruptura a que o médico se refere é perigosa: entre 50% e 75% das pessoas não resistem quando ela ocorre.

Para as mulheres, o aneurisma não é mais fatal, mas acontece com maior frequência. Um dos motivos, segundo Marcelo, é que as artérias delas são naturalmente mais finas, o que pode aumentar a predisposição à doença. Outra razão, que parece ser a mais significativa, é a hormonal. Enquanto ainda há uma grande produção de hormônios, o estrogênio funciona como uma proteção. Depois, com a menopausa, a incidência de aneurimas aumenta. “Essa justificativa hormonal vale para várias doenças, e reforça que o período pós-menopausa requer atenção”, lembra o médico.

Marcelle Rehem, neurocirurgiã especialista em aneurisma cerebral, da Rede D’Or São Luiz, lembra que, a partir dos 50 anos, também aumentam os riscos de desenvolver a doença, independentemente do sexo. Quando outros hábitos estão associados, a tendência só cresce. Entre esses fatores, a neurocirurgiã destaca a hipertensão não controlada e o tabagismo.

Uma vez diagnosticada a doença, Marcelle aponta dois caminhos possíveis. Para aneurismas maiores ou que têm contornos irregulares, associados a fatores de risco (que incluem ser mulher) ou reincidência, a indicação é realizar uma cirurgia endovascular, que permite a navegação por dentro das artérias, e que vem trazendo bons resultados. Quando o aneurisma é muito pequeno, é possível seguir uma conduta conservadora, para observar se ele sofre mudança ou crescimento ao longo do tempo. Não há medicação nem terapia alternativa para tratá-lo.

O que é

Dilatação da camada muscular enfraquecida de uma artéria do cérebro. Pode levar à ruptura do vaso e hemorragia ou compressão de outras áreas do órgão.
Doença silenciosa que, se diagnosticada, requer cuidados imediatos e acompanhamento regular.

Fatores de risco e quem deve investigar

Hipertensos, principalmente, que não fazem uso de medicação para controlar a pressão arterial.
Fumantes.
Pessoas com histórico familiar, que já tiveram dois ou mais casos de parentes de primeiro ou segundo grau com casos confirmados ou suspeitos de aneurisma.
Reincidentes.
Mulheres na pós-menopausa (vale o checape!).

Proporção

A ocorrência em mulheres segue a proporção 1,6 para 1, em relação aos homens. Ou seja, para cada homem com aneurisma, 1,6 mulheres desenvolvem a doença. Após a menopausa, essa proporção quase dobra.

Dor de cabeça persistente é um sinal?

Nem sempre. O aneurisma, quando prestes a sangrar, pode causar dores de cabeça muito fortes. “Mas, quase sempre, quem tem dores de cabeça fortes não tem aneurisma. É preciso cautela nessa associação”, chama a atenção Marcelo Valadares, médico neurocirurgião. O sinal de alerta vai para quem não costuma sentir dor de cabeça e, de repente, passa por episódios fortes. Aí, sim, deve-se procurar orientação profissional.

Se diagnosticado...

Avalia-se o tipo de aneurisma.
Aneurismas em lugares que classicamente sangram mais, que têm mais pressão, e os tipos grandes ou em crescimento têm maior risco de ruptura.
Devem ser realizados exames anuais.
Se necessário, é indicado o tratamento cirúrgico, com cateterismo cerebral ou neurocirurgia.

Sequelas da ruptura

“Trinta por cento das pessoas voltam para casa do jeito que eram antes, depois que um aneurisma se rompe. O restante pode ficar com marcas para a vida toda”, explica Marcelle Rehem, neurocirurgiã especialista em aneurisma cerebral. Ela destaca dois quadros possíveis, mas que dependem muito de como foi a ruptura:
Vasoespasmo cerebral: isquemia que pode levar a infartos em alguns lugares do cérebro e evoluir para uma série de pequenos acidentes vasculares cerebrais. A pessoa pode desenvolver dificuldades na fala, no raciocínio e na mobilidade. Exige avaliação constante do neurocirurgião, com tratamento para aumentar a artéria.
Hidrocefalia: é o acúmulo de líquido na cabeça. Exige tratamento com uso de uma válvula que direciona o líquido para o peritônio.

Palavra do especialista

A questão hormonal é suficiente para explicar a incidência maior de aneurismas em mulheres? Outros fatores podem estar envolvidos?
A questão hormonal somente não pode ser responsabilizada. Vários outros fatores estão envolvidos: questões genéticas, doenças do colágeno e predisposição familiar. Somado a isso, há outros fatores de risco evitáveis, como o tabagismo.

Qual é a diferença entre aneurisma cerebral e AVC (acidente vascular cerebral)?
O acidente vascular cerebral pode ser isquêmico (quando há falta de sangue) ou hemorrágico, quando há sangramento intracraniano. Podemos dizer que o aneurisma cerebral é uma das causas de AVC do tipo hemorrágico.

Uma vez tratado, o aneurisma pode aparecer novamente?
Raramente um aneurisma cerebral pode recanalizar (reaparecer). Mas algumas pessoas podem ter tendências a desenvolver aneurismas em outros vasos do cérebro ao longo da vida. Nesses casos, portanto, é imprescindível o acompanhamento.

Gustavo Paludetto é médico cirurgião endovascular e diretor do Centro de Hemodinâmica do Hospital Santa Lúcia

 

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