Encontro com o Chef

A arte de se dedicar ao preparo de bolos caseiros

Com o apoio do marido, confeiteira realiza o sonho de criança de abrir uma loja de bolos artesanais. Em menos de seis anos, já são cinco unidades

Sibele Negromonte
postado em 17/10/2021 08:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Rossana Daher cresceu, literalmente, entre massas de pão e bolo. O pai era dono de uma padaria, em Ceilândia, e a família morava no andar de cima. Enquanto criança, costumava pedir aos padeiros pedaços de massa, que ela modelava e transformava em comidinhas de mentira. “Eu escondia debaixo da cama, porque, como depois de um tempo, a massa incha e começa a pregar nas coisas, minha mãe proibia que eu levasse para casa”, diverte-se.

Nas festas da família, sempre era convocada a preparar o bolo e os docinhos. E fazia com capricho. Mãe muito jovem, Rossana organizou todas as festas de aniversário da primogênita. Quando as outras duas nasceram, a tradição foi mantida, inclusive com direito a celebração de “mesversário”. Mas, até então, a confeitaria era apenas um hobby na vida dela.

Quando perdeu o emprego, em 2014, logo depois de voltar da licença-maternidade, Rossana achou que aquela era a oportunidade certa para realizar um antigo sonho: abrir uma loja de bolos caseiros. Teve total apoio do marido, Elias Oliveira, que não só embarcou na ideia como foi atrás de um ponto comercial. Compraram uma batedeira capaz de bater 30 bolos de uma vez, forno industrial, formas e liquidificador gigante. E, no fim de 2015, a primeira unidade do Empório do Bolo abria na QNB de Taguatinga.

Mas a inauguração não foi exatamente como eles esperavam. “Eu errei a receita e os bolos não ficaram gostosos. Não só não vendemos nada, como uma cliente chegou a devolver o que tinha comprado”, relembra Rossana. “Como estavam bons para consumo, pegamos os bolos e distribuímos para pessoas carentes na Praça do Relógio”, conta Elias.

Antes de se arriscarem no negócio, eles tinham calculado que, se vendessem 50 bolos por dia, conseguiriam pagar as despesas e ainda tirariam algum dinheiro. “Mas vender 50 bolos não é fácil. Vendíamos, três, quatro, cinco... E os boletos não paravam de chegar e os cheques iam sendo devolvidos”, diz Elias. Mas o casal não desistiu. “Íamos ao supermercado e comprávamos o trigo, a manteiga, o açúcar para preparar os bolos daquele dia. Deixávamos de jantar e priorizávamos o alimento das crianças.”

O casal decidiu, então, fazer uma promoção de bolos. Espalhou faixas pela vizinhança e, atraídos por elas, aos poucos, os clientes começaram a chegar. Mas a maré deles começou mesmo a mudar quando Rossana desenvolveu a receita do bolo de cenoura mármore. “Uma cliente sugeriu que eu preparasse um bolo mármore, com pedaços de chocolate. Percebi que ficaria muito bom se eu misturasse o chocolate com cenoura.”

O resultado não poderia ser melhor. A criação de Rossana ganhou até um concurso promovido por uma rádio local, que perguntou aos ouvintes qual era o melhor bolo de cenoura de Brasília. “A gente nem sabia. Um amigo nos contou: vocês estão ganhando um concurso na rádio”, riem.

Expansão

Finalmente, depois de dois anos de prejuízo, o casal conseguiu juntar R$ 3 mil. Elias, porém, não deixou a mulher nem comemorar. Um dia, passando pelo Samdu Norte, ele viu uma loja para alugar. Achou o ponto muito bom — ficava próximo ao Hospital Anchieta e havia uma grande movimentação de pedestres. “Liguei para a dona do imóvel e negociei só pagar o aluguel depois de um mês”, diz Elias. Rossana achou aquilo tudo uma loucura, mas embarcou na ideia do marido.

O casal contratou um boleiro para ficar na unidade da QNB e Rossana seguiu para a nova loja para comandar o forno. A inauguração, desta vez, foi bem diferente. “No início da tarde, a atendente entrou na cozinha e disse que todos os bolos tinham acabado. Corri para produzir mais. Parecia um sonho”, diverte-se. Engana-se quem pensa que Elias estava satisfeito com o que parecia a chegada do sucesso. Menos de um ano depois, lá estava ele alugando outro imóvel, agora, no Samdu Sul.

Os dois acreditam que o grande diferencial dos bolos do Empório é a qualidade dos ingredientes. “Só utilizamos produtos in natura. O bolo de laranja, por exemplo, é feito com os gomos da fruta, assim como usamos limão, banana, cenoura, milho, mandioca de verdade. O nosso queijo é fornecido por um produtor artesanal”, detalha a confeiteira. Elias faz questão de ir pessoalmente ao Ceasa ou às feiras de produtores para escolher os produtos. Também mantém uma boa relação comercial com os atacadões da cidade.

Em 2019, o casal decidiu que estava na hora de conhecer outros mercados, além do de Taguatinga. E foram para Águas Claras. “Lá, os imóveis, além de escassos, eram muito mais caros, assim como havia um grande problema: falta de estacionamento”, o marido lembra das dificuldades. Quis o destino, porém, que eles conseguissem um ponto em um posto de gasolina numa das principais avenidas da cidade, a Castanheira.

Mas o dia da inauguração parecia um revival do da primeira loja. “No primeiro dia, vendemos apenas um bolo de milho”, lembra Rossana. Mais uma vez, recorreram às promoções e ao boca a boca. “Começamos a fazer degustação com os clientes do posto e, aos poucos, a coisa foi engrenando.”

Aí veio a pandemia. Apesar de as lojas do Empório do Bolo, que funciona com retirada no balcão, terem podido continuar abertas, eles decidiram, por precaução, fechar as portas até entender o que estava acontecendo. E assim ficaram por oito dias, quando não só reabriram como entraram em um novo serviço, o de delivery. No cardápio, 33 sabores diferentes.

Em agosto do ano passado, em plena crise sanitária, Rossana e Elias decidiram inaugurar mais uma loja, desta vez em Samambaia. “Hoje, temos cinco lojas e 30 colaboradores”, orgulham-se. E não devem parar por aí. Apesar de já terem recebido proposta para se tornarem franquia, ainda apostam na abertura de unidades próprias. “Queremos ter, pelo menos, sete. Já estamos estudando alguns pontos.”

Rossana garante que, além da qualidade dos ingredientes, preza pelo frescor do produto. “Eles saem do forno direto para o balcão. A rotatividade é grande. Se os bolos da última fornada, às 17h, não forem vendidos até meio-dia do dia seguinte, nós doamos ou levamos para consumo próprio”, detalham.

Mas o segredo do sucesso parece estar mesmo na paixão e no entusiasmo com que o casal prepara e vende os bolos. “Não foi fácil chegar até aqui. Persistimos muito, sempre com muita fé. Mas cada esforço tem valido a pena!”

Bolo de cenoura com cobertura

 Bolo de cenoura
Bolo de cenoura (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Ingredientes
3 Ovos
150ml de óleo
300g de cenouras (picadas)
250g de açúcar
250g de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó

Modo de preparar
Bata no liquidificador os seguintes ingredientes: ovos, açúcar, óleo e cenouras por três minutos.
Tire do liquidificador e acrescente a farinha. Mecha até dissolver a farinha e acrescente o fermento.
Asse por 40 minutos em forno preaquecido a 180ºC.

Cobertura de brigadeiro
Ingredientes
1 lata de leite condensado
60g de chocolate em pó
1/2 lata de creme de leite

Modo de preparar
Leve ao fogo todos os ingredientes e misture ate desgrudar da panela.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação