Tenho percebido um número enorme de pessoas alardeando aos quatro ventos que fazem uso de aditivos e preconizam uma espécie de ode ao excesso. Alegam, com orgulho, que precisam de estímulos sintéticos para "dar conta" da vida.
Realmente, há momentos em que a integridade física fica ameaçada e lançar mão de remédios psiquiátricos é uma necessidade legítima, mas me preocupa o seu uso indiscriminado e principalmente, me apavora ver uma tendência de jovens fazendo uso de medicamentos quase como uma estratégia de pertencimento! Parece que virou moda!
Muitos vivem como se fosse irreal a possibilidade de agir naturalmente, com clareza de raciocínio e discernimento, mesmo estando longe de uma situação de surto. Talvez seja mesmo, pois o momento histórico de pandemia está difícil demais.
Mas podemos, pelo menos, nos negar a usar o sintoma do adoecimento psíquico como plataforma de lançamento para alguma lacração. Popularidade virtual é bom, mas sanidade é melhor.
Vejo uma tendência a se acompanhar o sofrimento alheio como se fosse novela. Comoção e aplausos aos diagnósticos: "fulano é corajoso pois publica sobre sua depressão", "ciclano publicou uma foto de seu rivotril no insta". O problema é que se o diagnóstico é motor de curtidas, para que se curar?
E, pior, uma glamourização perigosa está entrando em curso.
Ambiguidades da era da hipermodernidade…
Por um lado, o desejo de se exibir para conseguir "likes" provoca reações inexplicáveis, dizemos qualquer coisa para ganharmos seguidores. Nossas personas virtuais circulam pelas redes de forma independente até de nós mesmos!
Por outro, podemos assumir aspectos que nos resignamos a esconder por falta de aprovação, fazer amigos e nos comunicar com gente do mundo todo, entre tantos outros benefícios.
Mas me parece perigoso permitir que muito do nosso precioso tempo de vida seja abduzido pelas mídias. Consumimos e somos consumidos por conteúdos que reproduzem as misérias humanas sem nem ao menos compreender se o que estamos vendo é apologia, denúncia ou a chance de debater sobre temas difíceis que se tornaram tabu por vergonha ou medo. As linhas são tênues.
De qualquer forma, sinto que um olhar aprofundado sobre o tema merece ganhar espaço nas mesas de almoço e jantar das famílias brasileiras. A conversa franca entre adultos e jovens gera aprendizado para todos. Que as dificuldades que estamos passando possam servir de lições para nos fortalecer e trazer amadurecimento.
Bom domingo.
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