Crônica

Lições de humildade

Por Maria Paula
postado em 07/11/2021 02:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

Curioso perceber o quanto nos deixamos levar pelas ilusões do ego. Muitas são as tentações a que estamos expostos diariamente e arrisco dizer que, se não tivermos o privilégio de tomar uns tombos aqui e ali, o perigo de ficarmos cegos ou pelo menos reféns de uma miopia acentuada é enorme. Quanto maior a ascensão social, mais espessa a bolha se torna.

Porém, para além do sucesso alcançado ou da fortuna acumulada, a realidade sempre se impõe: somos todos iguais. Ninguém vale mais nem menos que o outro, e essa regra torna o jogo muito mais interessante.

Outro dia estive na companhia de um casal multimilionário que tem o hábito de viajar pelo mundo, escolhendo constantemente destinos exóticos e distantes. Chegam a brincar mostrando um mapa mundi coberto de alfinetes representando os territórios visitados por eles.

O fato de que possuem um jatinho particular previne "dores de cabeça", como passar por filas de check in em aeroportos e outras situações perfeitamente normais para a maioria dos mortais, mas que eles sentem dificuldade em enfrentar. Por estarem sempre sendo escoltados, paparicados e protegidos, vivem a falsa impressão de serem realmente mais afortunados que o resto da galera. Recentemente, no entanto, viram-se diante de uma doença gravíssima que permitiu a eles a chance de sair do mundo ilusório em que se encontravam.

Pelos corredores do hospital em que ele foi internado, ela teve um inesperado encontro consigo mesma e pôde entender o quanto seus gestos estavam contaminados por largas doses de arrogância, soberba e até crueldade. Ele então, nem se fala, acostumado a dar ordens e a se sentir extremamente poderoso, viu-se, de repente, obrigado a compreender que seu poder era ilusório e que na dor somos todos iguais.

Felizmente, a doença foi superada e, depois de algum tempo, tive a alegria de perceber que o perrengue não havia sido em vão. Muitos novos paradigmas se apresentaram em suas vidas e puderam até encarar como privilégio a prova a que foram submetidos.

Estou compartilhando com o amigo leitor estes acontecimentos para lembrar que as pequenas ou grandes dificuldades que a vida nos apresenta, invariavelmente, tem um sentido maior no grande esquema e, quando sabemos captar as mensagens, uma chance extremamente valiosa nos é oferecida. Cabe a nós aproveitar.

Não existe nada mais fundamental do que a valorização das virtudes. E, muitas vezes, as facilidades oferecidas por situações supostamente favoráveis nos distanciam delas.

Seja qual for a sua sina, encare-a como uma plataforma de onde sua experiência de vida poderá alcançar novos patamares a serem conquistados, nos quais seu crescimento pessoal, principalmente no reino do subjetivo, pode ser consolidado.

Que suas chances sejam aproveitadas com firmeza e, como recompensa, a humildade e a lucidez possam definir o tom de suas ações.

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