Bichos

Seu cão está com muita dor? Atenção: pode ser hérnia de disco

Hérnia de disco está entre as doenças mais comuns entre os cães. Por ser difícil de identificar em estágios iniciais, pode causar dor intensa e, em casos graves, paralisia dos membros

Iara Pereira*
postado em 21/11/2021 08:00
Cachorro realiza fisioterapia para tratar hérnia de disco na clínica da médica veterinária Livia Borges -  (crédito: Arquivo pessoal)
Cachorro realiza fisioterapia para tratar hérnia de disco na clínica da médica veterinária Livia Borges - (crédito: Arquivo pessoal)

Principal doença de coluna entre os cães, a hérnia de disco causa não só dores fortes, mas também algumas alterações motoras. Felizmente, as ferramentas de diagnóstico e tratamento foram aprimoradas, o que facilita a resolução do problema e possibilita uma melhor qualidade de vida para os pets.

Se nenhum tratamento for realizado, o quadro pode evoluir para uma paralisia definitiva dos membros inferiores, incluindo os membros superiores do bichinho, dependendo de quais vértebras são afetadas.

Mas, para entender a doença, é preciso entender a anatomia dos pets. Tanto em animais quanto em humanos, a coluna vertebral é formada por uma sequência de vértebras e discos. Os discos são estruturas formadas por uma cápsula fibrosa e um núcleo de gel que, juntos, amortecem os impactos gerados pela movimentação.

Durante a juventude, esse gel tem bons níveis de hidratação, por isso, o corpo consegue realizar com facilidade os movimentos de saltar, correr e caminhar por longos períodos de tempo. Mas, com o passar dos anos, a estrutura sofre um processo degenerativo. O disco perde a hidratação e a elasticidade, não conseguindo mais performar sua função primária.

Com isso, toda a estrutura pode se romper, porque, ao praticar atividades de impacto, o disco se deforma e não retorna ao formato original. O médico veterinário Sandro Stefanes explica que os impactos que causam essa ruptura em animais não precisam ser grandes. "Na verdade, pular de uma cama ou de um sofá, dar um salto para brincar com o tutor já pode romper o anel fibroso que reveste o disco. Então, o material do disco acaba saindo e pressionando a medula. Isso é conhecido como hérnia de disco", detalha.

Sandro acrescenta que existem hérnias incompletas, chamadas de protrusões no disco. Nesse caso, há somente a deformação no disco, ainda sem rompimento.

Quando há o rompimento, surgem os sintomas, que variam de acordo com a gravidade da doença no pet. Eles variam desde dor, desequilíbrio, perda de sensibilidade nas extremidades, incontinência urinária e fecal, chegando à paralisia, em casos mais graves. Alguns tutores podem perceber as mudanças no comportamento do bichinho, tais como: deixar de subir e descer em escadas, sofás ou cama, ficar mais quieto, se recusar a passear e encontrar dificuldade ao defecar e urinar.

Caso a lesão seja na cervical, a dor costuma ser mais intensa, então, o pet pode vocalizar o desconforto com ganidos e latidos, apresentar rigidez no pescoço e dificuldade em se alimentar ou beber água.

Pegos de surpresa

Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos
Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos (foto: Arquivo pessoal)

Em geral, é difícil descobrir um caso de hérnia de disco em estágios iniciais, porque o pet não demonstra alterações na rotina até que a dor seja muito intensa. Por isso, os tutores costumam ser surpreendidos com uma repentina paralisia do animal de estimação.

Kenia Maria Resende, comerciante de 45 anos e tutora de Pitucha, conta que a cachorrinha da raça dachshund era extremamente ativa. Corria, pulava e brincava normalmente. Mas durante uma madrugada, Kenia foi acordada com os gritos de dor de Pitucha, que não conseguia mais se mover, mesmo tendo seguido sua rotina no dia anterior sem sinais de desconforto.

"Eu quase desmoronei. Porque, para mim, ela não é só uma cachorrinha, é uma parte da família. Nos primeiros dias, foi uma correria para conseguir aliviar a dor dela. A cirurgia foi realizada no dia seguinte ao que descobrimos a hérnia de disco. Até hoje ela ainda não voltou a andar, mas cada avanço conquistado com a fisioterapia já é uma alegria para a gente. No futuro, eu e meu marido esperamos poder desenvolver uma cadeirinha que auxilie a Pituxa na recuperação do movimento das patinhas", relata Kenia.

Quem tem uma história parecida é a servidora pública Patrícia Carvalho, de 45 anos, e tutora de Duda. Ela conta que a cachorrinha deu alguns sinais de dor na pata traseira e mancava ao caminhar, por isso a levou a um ortopedista, que constatou a hérnia de disco. A partir daí, Patrícia buscou um tratamento com acupuntura e passou a ter mais cuidados com as atividades da pet.

Porém, o caso se agravou de repente. Em uma noite em que a dachshund dormia na mesma cama que Patrícia, apresentou incontinência urinária e fecal. Ao colocá-la no chão, a tutora percebeu que a cadelinha não conseguia se mover.

"Foi muito assustador, e é muito doído você ver seu animalzinho paralisado, olhando para você com aquela cara de quem não está entendendo o que está acontecendo. Além da dor, que é intensa, devido à compressão das vértebras na medula. Foi feita uma cirurgia e, com acompanhamento da fisioterapeuta, ela voltou a caminhar em duas semanas. Mas quatro meses depois, teve uma segunda paralisia e precisou fazer todo o processo de novo", narra Patrícia. "Hoje, ela vive normalmente e, apesar de ter uma pequena sequela em uma das patinhas, consegue correr e brincar", comemora.

Opções de tratamento

Em uma madrugada, a tutora de Duda acordou com os gritos de dor da cadelinha, que sofria com hérnia de disco
Em uma madrugada, a tutora de Duda acordou com os gritos de dor da cadelinha, que sofria com hérnia de disco (foto: Arquivo pessoal)

A médica veterinária Livia Borges, especializada em reabilitação, esclarece que a principal forma de tratamento para a hérnia de disco em animais é a cirurgia. Medicamentos, como analgésicos e anti-inflamatórios, também são utilizados, mas podem não aliviar a dor do animalzinho de forma definitiva. Em casos mais leves e sem sintomas graves, como perda da sensibilidade e da função motora, há a possibilidade de realizar um tratamento conservador com fisioterapia, acupuntura e ozonioterapia.

"Quando a escolha é pelo tratamento conservador, além da possibilidade de realizar sessões semanais de acupuntura e ozonioterapia, temos também a fisioterapia, que tem o objetivo de aliviar a dor, a inflamação e auxiliar na manutenção e ganho de massa muscular, força e equilíbrio", explica Livia.

As modalidades terapêuticas disponíveis para os bichinhos são das mais variadas. As opções são: laserterapia, campo magnético, fototerapia, eletroterapia, termoterapia, cinesioterapia e hidroterapia, com natação ou esteira aquática.

É importante ficar atento a qualquer alteração no comportamento do pet e procurar um médico veterinário rapidamente para realizar avaliação física, além de exames. Mas é preciso, também, prevenir-se contra a hérnia de disco evitando que o animal realize muitos movimentos de impacto. Instalar rampas perto dos lugares onde ele costuma subir, evitar que caminhe por longos períodos de tempo, manter sempre um peso ideal e seguir as orientações do profissional de confiança podem adiar a aparição das dores de coluna.

Predisposição genética

Para algumas raças de cachorro o desgaste do disco vertebral e a possibilidade de desenvolvimento de hérnias é maior devido a uma predisposição genética. Esses cães, geralmente, têm as pernas curtas e o corpo alongado. Alguns exemplos são dachshund, corgi, pug, basset hound, pequinês e shih tzu. O médico veterinário Sandro Stefanes explica que todos os animais podem desenvolver hérnia de disco, mas, nestes que possuem a predisposição, o problema surge mais cedo, por volta dos dois anos de idade.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Em uma madrugada, a tutora de Duda 
acordou com os gritos de dor da cadelinha, 
que sofria com hérnia de disco
    Em uma madrugada, a tutora de Duda acordou com os gritos de dor da cadelinha, que sofria com hérnia de disco Foto: Fotos: Arquivo pessoal
  • Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos
    Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos Foto: Arquivo pessoal
  • Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos
    Pitucha chegou a ficar paralisada por causa do problema de hérnia de disco: tratamento ajuda a recuperar movimentos Foto: Arquivo pessoal
  • Em uma madrugada, a tutora de Duda acordou com os gritos de dor da cadelinha, que sofria com hérnia de disco
    Em uma madrugada, a tutora de Duda acordou com os gritos de dor da cadelinha, que sofria com hérnia de disco Foto: Arquivo pessoal
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação