Especial

Vencendo o medo de estar só

Ailim Cabral
postado em 05/12/2021 00:01
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

Acostumado a estar sempre com os amigos, o servidor público Eduardo Souto, 27 anos, começou a perceber que a vontade de ficar cercado por quem ama estava impedindo que ele vivesse determinadas experiências. O rapaz viu que havia se tornado dependente de companhias para tudo o que queria fazer. Deixava de conhecer restaurantes, de ver uma peça no teatro e de curtir a estreia de um filme no cinema toda vez que não conseguia alguém para acompanhá-lo.

"Isso começou a me incomodar quando vi que estava deixando meus desejos de lado. Deixava de viver experiências que eu queria muito por não ter alguém para ir junto. Isso passou a me fazer mal", lembra. Tentando se libertar do que via como um problema, Eduardo tomou uma atitude drástica. Em vez de começar curtindo uma sessão de cinema sozinho, resolveu fazer um intercâmbio de um mês por conta própria.

Assim, ele embarcou para Londres. Ainda aprendendo a língua, perdeu-se pela cidade, passou alguns "perrengues" com a alimentação e descobriu os prazeres de sair da própria bolha. "Era eu comigo mesmo, perdido, sem entender o mapa no celular e precisando encontrar uma solução, dependendo de mim mesmo."

O servidor público gostou da experiência, que o ajudou a ter mais autoconfiança e independência, e a transformou em hábito. Quebrar barreiras, improvisar e se virar sozinho se tornou um exercício de superação importante para ele. Todas as viagens internacionais, desde então, foram por conta própria.

Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, Eduardo conheceu Nova York. "Tive a sorte de ter acabado de fazer uma viagem muito boa no limite. Em março, tudo fechou e foi aquela loucura. Depois dessa minha libertação, foi difícil ficar parado durante esse tempo", conta.

A retomada

Após mais de um ano sem colocar o pé para fora, Eduardo começou a se inquietar. O tempo livre permitiu que ele pesquisasse bastante e começasse a considerar o que achava ser um sonho impossível: conhecer Dubai. "Para mim, era um tipo de viagem que os meros mortais não poderiam fazer. Coisa só de gente muito rica mesmo. Era um sonho distante e pesquisando eu descobri que talvez conseguisse realizar."

Com a meta de conhecer um país diferente por ano pausada, o sonho distante começou a parecer mais próximo. Vendo que a situação vacinal e de restrições nos Emirados Árabes estava muito avançada e vislumbrando até mesmo a possibilidade de se imunizar do outro lado do mundo, Eduardo comprou um pacote para maio de 2021.

Ansioso, acompanhava avidamente as notícias de abertura e fechamento de fronteiras e chegou a mudar as passagens quando o país em que faria escala proibiu a entrada de brasileiros. "Bateu um desespero, eu já tinha reservado tudo. Todo o roteiro planejado, até pela necessidade do teste de covid-19 com 72 horas".

Sem saber se poderia embarcar, Eduardo revela que o risco valeu a pena, pois a sensação de voltar a viver, fazer planos e se arriscar para realizar sonhos foi importante para que ele não se entregasse aos sentimentos de desesperança trazidos pela pandemia. "Tudo podia ir por água abaixo, e foi dinheiro e tempo que investi ali. Mas aprendi a sair da minha zona de conforto, entendi que se fosse esperar ficar com zero medo, fosse de viajar ou de pegar covid, eu não ia mais viver, pois o medo e o risco estão sempre ali. Precisamos tomar os cuidados necessários, claro, mas não deixar de viver", pondera.

Em Dubai, Eduardo conta que parecia estar vivendo tudo pela primeira vez e que aprendeu a valorizar pequenos prazeres que não percebia antes. Ver o rosto das pessoas, comer em um restaurante, e o simples ato de poder andar pelas ruas sem máscara, medida liberada no país, foram momentos mágicos para ele.

O servidor conta que ainda gosta muito de viajar e sair com alguém, mas hoje entende que a falta de companhia não pode ser um obstáculo para curtir novas experiências. "Sempre fui muito apegado e esse foi um aprendizado que as viagens solo me trouxeram. Eu me conheci mais profundamente e passei a apreciar muito minha companhia."

De olho no futuro, Eduardo sonha em acompanhar o campeonato mundial de vôlei na Rússia e na Holanda. Por enquanto, está apenas no planejamento e de olho nas medidas sanitárias. A princípio, ele vai sozinho, mas se alguém quiser acompanhá-lo na aventura, está de braços abertos.

 

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