Bichos

Tutores fumantes, atenção: os pets são mais sensíveis à fumaça

Fumar perto dos pets pode torná-los fumantes passivos. E não é só o cigarro convencional. Os eletrônicos e o narguilé também fazem mal à saúde deles

Fumar tem relação com, aproximadamente, 50 enfermidades. Entre elas, vários tipos de câncer, doenças do aparelho respiratório e doenças cardiovasculares. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 12,6% da população brasileira é fumante. Acontece que esse hábito vira problema também para os fiéis companheiros dos humanos: os pets. Expostos à fumaça, cachorros e gatos tornam-se fumantes passivos.

"Dos compostos químicos do cigarro, tabaco e produtos com nicotina no geral, só 15% vão para o fumante, o restante é absorvido pelos seres que estão perto", alerta a médica veterinária oncologista Camila Maximiano. O olfato mais apurado, as especificidades da respiração, dependendo da raça, e o fato de que o próprio animal não tem controle, e que o cuidado precisa partir do tutor, fazem deles ainda mais sensíveis.

O crescimento de cigarros eletrônicos, vapes (mods) ou do tipo pod, no mercado, ampliam o debate. Eles prometem uma pegada menos tóxica — o que não tem confirmação científica —, mas, até onde se sabe, tendo em vista a carência de estudos na área, também fazem mal aos bichos. "Nos humanos, sabemos que essas variações do cigarro mantêm a predisposição de desenvolvimento de doenças. Imagina-se, então, que o mesmo ocorra com os animais", reforça a especialista.

E as complicações são várias. No caso dos humanos, os tumores de pulmão e de garganta são os tipos mais recorrentes. Para os animais fumantes passivos, outros tipos acometem mais. Camila explica que os cachorros com focinhos mais compridos, como o pastor, quando fumantes passivos, têm mais chances de desenvolver câncer na cavidade nasal. Os braquicefálicos, que são os cães de raças como shih-tzu, lhasa apso, pug, buldogue e outros, apresentam mais problemas pulmonares.

Os gatos costumam manifestar quadro clínico diferente. Neles, a médica veterinária Ana Flávia Gonçalves, da Afetto Pet, explica que são maiores os riscos de o fumo passivo piorar quadros de bronquite, asma e condições respiratórias gerais. Também estão mais propensos a desenvolver linfomas.

Mudança de hábito

A gatinha Zhoey chegou a ser internada com bronquite asmática, quatro anos atrás. Os médicos alertaram o tutor dela, Alexandre Campos, 42 anos, servidor público, que uma das causas do problema poderia ser a fumaça que ela inalava quando Alexandre fumava. E havia risco de a falta de ar se tornar reincidente, se não fossem tomados os devidos cuidados.

Foram cinco dias tensos de radiografias, hemogramas e vários outros exames. De volta ao lar, Zhoey precisou seguir o tratamento com antibióticos, vitamina e ração especial. Hoje, ela está com cinco anos e saudável, mas o susto fez Alexandre repensar o ato de fumar perto dos pets. Agora, só o faz quando está longe dos bichinhos.

E olha que na época do problema de Zhoey, ele tinha só mais uma gata, a Bryanna. Hoje, são sete bichanos ao todo. Alexandre é tutor também de um cachorro da raça jack russel. Ter um espaço aberto e com boa circulação à disposição dos animais foi outro ponto pensado para preservá-los da fumaça.

Risco de intoxicação

Cinzas e bitucas no chão, em objetos, móveis e no pelo do animal também acendem o sinal de alerta. Ana Flávia chama a atenção para as chances de o pet lamber essas áreas ou a própria pelagem e acabar ingerindo uma dessas substâncias. O perigo? Possível intoxicação por nicotina. 

Animais alérgicos têm de lidar com mais um fator: além do ácaro e da poeira no ambiente, têm os restos de cigarros por aí. Vale mesmo redobrar os cuidados. Problemas de pele podem piorar.

A principal recomendação aos tutores é parar de fumar. Se esse não for o caso, Camila reforça a importância de locais abertos e ventilados e de se assegurar que o animal não fique tão próximo à pessoa que está fumando. Também é importante limpar superfícies, mesas, cadeiras, objetos e mãos, para evitar que cinzas e outras substâncias fiquem impregnadas no ambiente e no ar — e os animais acabem lambendo. Quando possível, ao acender um cigarro, coloque o animal em outro cômodo. Ao chegar em casa depois de fumar fora, bata as roupas para tirar a fumaça impregnada.