É possível que, ao assistir à novela Quanto mais vida, melhor!, o espectador de Brasília tenha aquela sensação de "conheço aquela pessoa de algum lugar". E pode ser que conheça mesmo. Três atores formados nos palcos da capital federal se destacam na trama das 19h da Globo: Mariana Nunes é a médica Joana, Alessandro Brandão interpreta a drag queen Chefe e Gabriel Sanches dá vida ao publicitário Roberto.
Mariana Nunes passa pelo melhor momento dela na televisão em Quanto mais vida, melhor!. Depois de uma forte participação especial em Amor de mãe (2020) e de um papel repleto de sutilezas na série Um dia qualquer (2020), ela encara uma médica apaixonada pelo chefe, Guilherme (Mateus Solano), um dos protagonistas da novela.
"É a primeira vez que eu faço uma novela do começo ao fim. É interessante, porque a Joana começa ligada a um protagonista, mas depois tem um caminho próprio. Eu aprendi muito sobre a linguagem da televisão fazendo essa novela. Nada melhor do que fazer para aprender", comenta Mariana. Ela conta que ainda pode contracenar e observar atores com mais tempo de telinha que a ajudaram, como Ana Lúcia Torre,Tato Gabus e o próprio Mateus Solano.
Mariana destaca que personagens que carregam o ativismo social contra o racismo são importantíssimos, mas ressalta o valor dos que não trazem isso em primeiro plano. Ainda mais porque Joana tem uma trama dela, em busca do amor próprio e que, nesse momento da novela, com o projeto social em que ela acaba se envolvendo, está muito em foco. "Mas a novela traz temas importantes subliminares também, como a solidão da mulher negra", alerta a atriz.
Mistério
Curiosamente, Quanto mais vida, melhor! estreou logo depois da reprise de Pega pega, novela em que Alessandro Brandão também interpretou uma drag queen, a Rouge. Mesmo com as duas tendo personalidades tão distintas, Chefe é mais soturna, introspectiva e carrega um mistério que começa pelo próprio nome , Alessandro confessa que temeu pela confusão do público num primeiro momento.
"Na verdade, eu me preocupei em fazer uma construção diferente para a Chefe. Eu mesmo não queria fazer nada parecido. Como a Chefe e a Rouge são personagens diferentes, não tinha como ficar igual. Elas são duas pessoas que artisticamente trabalham como drag, mas a vida delas é muito distinta uma da outra. Isso está bem claro na construção da Chefe. A Chefe é mais densa, não tem uma vida tão óbvia, é uma pessoa que tem dias mais intensos, mais séria, ela vive uma realidade dura, até os seus shows são mais densos", compara o ator.
O que Alessandro não teme é que essa sequência de drags o rotule num veículo tão afeito a prender o ator num determinado tipo. "Eu sempre fui um artista polivalente. Quem me conhece um pouco sabe disso. E sempre ouvi essa questão de 'medo de ficar rotulado'. Mas já fui Romeu, Hamlet, já dancei príncipes, já fui assassino, traficante, já fui madame Clessí, tive a honra de fazer Rogéria e tantos papéis que não dá mais para me rotular", orgulha-se.
Outro orgulho de Alessandro é o lugar dado a Chefe em Quanto mais vida, melhor!. "A Chefe é uma pessoa complexa que tem seus segredos. E também é uma artista drag queen. Eu gosto de ver que ela sai desse lugar que as pessoas elegem para um artista drag. As pessoas insistem em criar caixinhas para entender melhor outras. A Chefe quebra com isso. O ser humano é diverso, tem narrativas de vidas diferentes uns dos outros, e uma pessoa LGBTQIA não é diferente, aliás, nós convivemos com muitos conflitos desde sempre e isso nos faz diferentes uns dos outros", defende.
15 anos
"A lealdade dele está onde a oportunidade existe". É assim que Gabriel Sanches define o personagem dele em Quanto mais vida, melhor!, Roberto, diretor de marketing da Terrare. A novela marca os 15 anos da carreira de Gabriel, que também esteve em Pega pega.
"São 15 anos de carreira, 16 desde que saí de Brasília. É uma vida toda. Estou numa fase muito legal, pesquisando palhaçaria com a palhaça Fran (Rafaela Azevedo) por exemplo, investindo num novo projeto. Estou com uma novela no ar, acabei de apresentar a peça Delicado, na Sede das Cias, no Rio de Janeiro, com direção de César Augusto, da Cia dos Atores. O álbum Céu de framboesa, de Sara e Nina, acabou de ser lançado. Já temos o segundo álbum no forno. Realmente, é bastante coisa acontecendo e reconhecer a beleza disso e agradecer é muito importante. Estou muito realizado", comenta o ator.
Gabriel chama a atenção para o desafio que é, para ele, assumir a leveza que traz a novela das 19h, quase que num contraponto aos dramas pesados encenados na faculdade. "Eu sempre gostei de trabalhos densos, dramas, histórias intensas. Na época da faculdade, ouvia dos professores sempre "menos, Gabriel". Aprender a fazer menos é bom. Atualmente, gosto muito de fazer tramas leves e com um pé no tom cotidiano, mas gosto mesmo é de grandes desafios. Taurino que sou, gosto é de trabalho", destaca.
Por causa da pandemia, Mariana, Alessandro e Gabriel pouco se encontraram nos bastidores de Quanto mais vida, melhor!. Mas as parcerias estão aí. Sempre estiveram. Alessandro e Gabriel lançaram o disco Céu de framboesa, das drags Nina e Sara que eles têm. Mariana lembra com carinho os tempos de teatro ao lado de Alessandro sob a direção de nomes como Fernando e Adriano Guimarães. Estamos ansiosos esperando pelos próximos projetos do trio que tanto nos orgulha.
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